Notícias

Ações de usinas têm recuperação na bolsa

14 de Maio de 2020

Notícias

Embora as usinas sucroalcooleiras tenham sido golpeadas por um duplo choque no Brasil, com o derretimento da demanda por etanol e o colapso das cotações do petróleo, as ações das empresas que atuam no segmento e estão listadas na B3 se distanciaram dos baixos patamares observados quando a crise eclodiu no país, há mais de um mês.

Desde que atingiram as mínimas no ano, as ações da Cosan, dona da Raízen, maior produtora sucroalcooleira do país, junto com a Shell, subiu 28%, enquanto as do grupo São Martinho avançaram 55%. Nesse período, as duas companhias recuperaram, juntas, R$ 7,8 bilhões em valor de mercado.

Esse movimento recente, porém, apenas minimizou as perdas que vinham sendo registradas desde o início do ano, quando o cenário para o mercado de açúcar e etanol era bem mais alvissareiro. No acumulado de 2020, a Cosan ainda registra R$ 4,8 bilhões em perda de valor de mercado, enquanto o valor de mercado da São Martinho está R$ 1,6 bilhão abaixo do nível do início do ano.

As ações da Biosev, por sua vez, que têm menor liquidez, oscilam mais e, ontem, fecharam no menor valor do ano, a R$ 2,56.

Na visão de analistas, o movimento recente espelha, em grande medida, a capacidade que essas empresas têm em explorar o mercado externo de açúcar com o dólar favorável, para contornar os prejuízos que devem vir na área de etanol. Mas as perspectivas de que essa recuperação continue pelos próximos dias são mais incertas.

As ações começaram a cair no início de março, acompanhando o efeito manada de vendas na bolsa ante o avanço dos casos da covid-19 no mundo e sua chegada no Brasil. As quedas foram intensificadas pela detonação da guerra de preços de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, que derrubou a commodity do patamar dos US$ 50 o barril para menos de US$ 30.

Em 18 de março, quando o novo coronavírus havia tirado a vida de quatro brasileiros - segundo os dados oficiais - e a bolsa enfrentava seu sexto “circuit breaker” do ano, as ações da Cosan chegaram no menor patamar registrado em 2020 até agora (R$ 46), enquanto as da São Martinho também recuaram às mínimas do ano, para R$ 12,30. Foi naquela semana que surgiram decisões locais de isolamento social, dando início à redução do fluxo de veículos nos principais centros.

Ontem, as ações da Cosan alcançaram R$ 59,03 e as da São Martinho, R$ 19,11. A recuperação teve início com movimentos de compras de oportunidade na bolsa. No início de abril, a trajetória de recuperação encontrou mais suporte no petróleo, que parou de cair quando os Estados Unidos decidiram participar das negociações com a Opep+ para definir os termos da redução da produção. Embora o petróleo estivesse em níveis historicamente baixos, a percepção de que a queda havia encontrado um piso trouxe algum alívio aos investidores.

A recuperação ganhou mais corpo depois, com a estirada do dólar ante o real, tornando as exportações de açúcar mais rentáveis. O movimento cambial deve ser particularmente aproveitado pela Raízen Energia, cujas usinas têm maior perfil açucareiro que a média do Centro-Sul e atua no trading global da commodity.

“Outro fator é que Raízen e São Martinho são empresas mais bem capitalizadas e operacionalmente mais organizadas, com capacidade de estocagem. Elas podem vender etanol só daqui alguns meses, quando a demanda estiver mais normalizada”, observou um analista que acompanha as companhias.

Houve, ainda, influência das especulações sobre a possibilidade de auxílio do governo. As chances de um apoio tributário, porém, naufragaram no último dia 7, quando o presidente Jair Bolsonaro declarou que não aumentaria a Cide sobre a gasolina. Mas as usinas seguem com a expectativa de criação de uma linha de financiamento de estoques de etanol.

Para as próximas semanas, porém, o receio é que a maximização da produção de açúcar em todo o Centro-Sul acabe transformando o déficit global do produto em superávit, o que pode pressionar ainda mais os preços, segundo relatório de ontem do BTG Pactual.

 

Fonte: Valor Econômico - 14/05 

Veja também