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Agressiva política tarifária de Trump surpreende Pequim

14 de Agosto de 2018

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Quando os principais líderes da China se reuniram neste mês em um resort à beira-mar perto de Pequim, para seu recesso anual de verão, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump pairou sobre suas deliberações.

O governo Trump havia alertado, dias antes, que estava considerando taxar em 25% o equivalente a US$ 200 bilhões em importações chinesas, depois do anúncio anterior de uma tarifa de 10%. Em julho, as duas maiores potências econômicas do mundo começaram formalmente as hostilidades comerciais, ao impor tarifas punitivas sobre US$ 34 bilhões de suas trocas comerciais.

As autoridades chinesas tinham a expectativa de que a indesejada guerra comercial com os EUA daria uma pausa. "Todos ficaram surpresos com Trump", disse um economista próximo das autoridades do governo. "A maioria das autoridades chinesas achou que Trump estava tentando fazer pressão, mas que acabaria recuando."

Mas Trump prosseguiu com a pressão sobre o presidente da China, Xi Jinping. Os EUA deverão sobretaxar outros US$ 16 bilhões em importações chinesas, e Pequim fará o mesmo.

Diante desse desafio econômico e geopolítico sem precedentes, o governo Xi vem tentando estabilizar a economia da China, a moeda e os mercados de ações, ao mesmo tempo em que apela ao patriotismo da população.

Em sua reunião mais recente, em 31 de julho, o Politburo - instância máxima do Partido Comunista da China formado por 25 autoridades - pediu "emprego estável, finanças estáveis, comércio exterior estável, investimentos estrangeiros estáveis, investimentos estáveis e expectativas estáveis".

Dias depois da reunião no resort de Beidaihe, perto da capital chinesa, o membro do Politburo Chen Xi exortou um grupo dos principais cientistas do país a "manter o coração patriótico" e ajudar a China "a controlar tecnologias importantes de maneira independente".

Nos dois meses anteriores ao apelo do Politburo por estabilidade econômica, o yuan havia caído mais de 6% em relação ao dólar, para 6,85 yuans por dólar- uma movimentação grande para uma moeda cuidadosamente controlada. Desde o comunicado do Politburo, o yuan se estabilizou.

Mercados de ações chineses, como observou alegremente Trump em 4 de agosto, acumulam queda de mais de 20% no ano. Mas na semana passada ganharam força.

O banco central chinês também reduziu as taxas do mercado interbancário para os níveis mais baixos desde o "crash" dos mercados de ações do país há três anos. Além disso, reinstituiu regras que encarecem as apostas contra o yuan.

As autoridades chinesas precisam chegar a um equilíbrio entre a determinação de reduzir os riscos financeiros e assegurar que o crescimento não vai desacelerar muito. "As autoridades não desistiram de reduzir os riscos, mas também querem apoiar a economia real", disse Andrew Polk da consultoria Trivium. "As duas coisas podem não ser compatíveis."

Manter a moeda em menos de 7 yuans por dólar, o que um destacado assessor do banco central classificou na semana passada de uma "barreira psicológica" importante, poderá se mostrar custoso.

"Num cenário em que o crescimento desacelera e as relações entre a China e os EUA não melhoram, manter o yuan em 7 levantaria muitas outras questões", disse um estrategista de câmbio. "Você teria de queimar reservas, apertar os controles de capital e as condições monetárias, o que vai contra a atual política monetária."

Em sua busca pela estabilidade em todas as frentes, o governo chinês vem tendo que calibrar sua resposta às crescentes ameaças tarifárias de Trump. "Pequim está deixando de enfatizar a 'retaliação na mesma intensidade e escala' porque é difícil executar isso sem problemas inaceitáveis para a economia chinesa", diz Yanmei Xie, analista da Gavekal Dragonomics.

Quando a segunda rodada da tarifas de Trump entrar em vigor em 23 de agosto, somente 10% das exportações da China aos EUA - ou 2,2% de suas exportações totais - serão afetadas. Segundo o jornal oficial "China Daily", "o conflito comercial entre os países é uma queda de braço no momento".

Mas se Trump seguir com a ameaça de impor uma sobretaxa a US$ 200 bilhões em importações da China, elevando o valor de bens afetados para US$ 250 bilhões, metade das exportações chinesas para seu maior parceiro comercial - ou 11% do total das exportações - serão taxadas em 25%. Em 2017, a China exportou US$ 505 bilhões em bens para os EUA.

Por outro lado, a China, que importou produtos americanos no valor de US$ 130 bilhões no ano passado, já impôs tarifas - ou ameaçou - exportações americanas avaliadas em US$ 110 bilhões.

Em resposta à recente ameaça de Trump de impor uma tarifa de 25%, o Ministério do Comércio da China disse que responderá com impostos de 5% a 25%. Produtos mais difíceis de obter em outros países que os EUA, terão taxas menores. Por enquanto, autoridades isentaram as exportações de petróleo dos EUA de sua retaliação.

Depois de esperar em vão pelo melhor, agora as autoridades chinesas se preparam para o pior. "Algumas pessoas resistem em ver um leão acordar ou um dragão decolar, sentindo-se desconfortáveis com uma população de 1,3 bilhão tendo uma vida melhor", disse na quinta-feira o "Diário do Povo", porta-voz do PCC. "Nós vamos resistir."

Fonte: Valor Econômico - 14/08/2018

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