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Agro pode liderar movimento em busca de soluções sustentáveis, diz especialista

06 de Dezembro de 2018

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A indústria demanda cada vez mais matérias-primas sustentáveis e o mercado financeiro caminha na direção de "descarbonizar" portfólios de investimentos. Atentar para esses movimentos é importante para agregar valor à produção agropecuária com sustentabilidade, de acordo com Paulo Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGVces).

"Estamos falando da demanda efetiva de uma indústria que precisa de matérias-primas mais sustentáveis", disse, usando como referência o setor alimentício. "As empresas mais sustentáveis estão mais aptas a acessar esses mercados", afirmou, durante um talk show realizado na cerimônia de entrega do 5º Prêmio Fazenda Sustentável, promovido pela revista Globo Rural, em São Paulo (SP).

Paulo Branco avalia que a agropecuária está no centro do problema do aquecimento global. Segundo ele, se toda a produção de carne e leite do mundo fossem um país, seria o terceiro maior emissor de gases do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, os dois maiores poluidores globais.

Por outro lado, o setor tem potencial de liderar o movimento em busca de soluções para promover a sustentabilidade no planeta. Para isso, precisa se concentrar em modelos que reduzam os atuais impactos ao mesmo tempo em que promovam a regeneração dos ecossistemas.

"As maiores inovações neste sentido estão na agricultura", afirmou, lembrando dos avanços tecnológicos em áreas como monitoramento climático e modelos de produção como a Agricultura de Baixo Carbono e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. "A intensificação sustentável das propriedades é nossa vantagem competitiva", acrescentou.

Biodiversidade

Paulo destacou a biodiversidade brasileira e citou exemplos de negócios lucrativos realizados a partir da floresta. De acordo com ele, hoje as cadeias produtivas estão mais aptas a acessar determinados mercados.

"O mercado financeiro dá sinais claros. Existem empresas olhando para o negócio da floresta em pé com muita atenção. Para a realização desses negócios, é importante a comprovação de práticas que demonstram que tem mais sentindo manter a floresta em pé", disse, citando exemplos de produtos cosméticos e da indústria de fármacos.

Outro ponto importante foi em relação ao preço das pesquisas para o desenvolvimento de novas moléculas. "Está cada vez mais claro desenvolver moléculas em laboratórios. A matéria prima para a produção está na biodiversidade".

Multilateralidade

Em relação ao ambiente político, Paulo considerou sem sentido a decisão do Brasil de abrir mão de sediar a próxima conferência do clima (COP 25). Na avaliação do especialista, o país não pode se ausentar de acordos internacionais. Seria um fator negativo na busca por novos mercados.

"A contemporaneidade é multilateral. Não podemos nos ausentar de acordos, não faz sentido e não é bom para conquistar mercados. Podemos ter retrocessos bastante expressivos se a escolha for a de se ausentar dessa era", avaliou. "Não estamos no mainstream da agenda da sustentabilidade e o esforço não é só técnico, é político."

Globo Rural – 06/12/18

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