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Agronegócio responde por metade da expansão do PIB em 2017

04 de Janeiro de 2017

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A expectativa de uma safra recorde de grãos este ano levou economistas a apostarem no agronegócio como a salvação para que a economia brasileira não amargue o terceiro ano sem crescimento em 2017. De acordo com o Banco Santander, o setor, que engloba além da agropecuária, insumos, agroindústria e serviços ligados a essa cadeia, deve ser responsável por metade do magro crescimento econômico previsto para o país em 2017, de 0,7% nas contas do banco (o mercado espera 0,5%). O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio, que representa quase um quarto (22%) do PIB nacional, deve crescer 2%, quase três vezes mais, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Só o PIB agropecuário, que tem peso menor na economia, de 5%, deve crescer 4,2% este ano, depois de cair 6 % em 2016, segundo projeções do Santander.

“O agronegócio será o grande destaque positivo em relação aos outros setores da economia em 2017. O PIB da indústria deve crescer 1,3%, respondendo por um quarto da expansão da atividade do país, enquanto a agropecuária responderá por 35% do desempenho da economia. O setor tem peso relativamente baixo, mas quando se olha todo o encadeamento, a contribuição é muito significativa, destoando dos demais setores” afirma o economista do Santander, Rodolfo Margato.

Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC, ressalta que os efeitos do bom desempenho da agropecuária vão se espalhar, beneficiando outros setores. “A venda de tratores vai dar sustentação à parte de veículos automotores, o segmento petroquímico ligado a adubos e fertilizantes e todo o comércio ligado às regiões mais dinâmicas em termos de agricultura serão beneficiados. A salvação da lavoura deste ano vai ser o PIB agrícola e suas ramificações”, afirma.

O clima vai ajudar na recuperação da produção agrícola que, diferentemente de 2016, terá chuvas mais regulares e o avanço do plantio dentro do calendário previsto. No ano passado, a safra de grãos teve sua maior queda em seis anos, ficando em 186 milhões de toneladas, devido à forte seca ou ao excesso de chuvas causadas pelo fenômeno El Niño, que prejudicou lavouras de diferentes regiões do país. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que serão colhidas 213,1 milhões de toneladas de grãos este ano, um crescimento de 14,2% ou 26,5 milhões de toneladas em relação à safra anterior. Um recorde histórico para o país. Segundo o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, culturas de peso no agronegócio, como soja, milho, algodão, arroz e feijão deverão recuperar produção e área plantada.

Leal, do banco ABC, diz que a contribuição da agropecuária no primeiro trimestre será importante para ajudar a diminuir a queda no PIB herdada do ano passado, o chamado carregamento estatístico, já que 2017 começa com a atividade num nível inferior à média do ano passado. A expectativa é de queda de 3,5% em 2016. O número será divulgado pelo IBGE em 3 de março. “Estimo que o PIB do primeiro trimestre de 2017 fique em 0,5%, por causa da agricultura, voltando ao campo positivo depois de oito resultados negativos seguidos. Um resultado que ajuda a eliminar quase todo o carregamento estatístico negativo de 2016, que deve ficar em 0,7%. Se, por risco do clima, a safra do primeiro trimestre vier ruim, teremos um PIB muito próximo de zero este ano”.

Fabio Silveira, sócio-diretor da Macro Sector, diz que o agronegócio é muito mais importante para gerar superávit comercial, liquidez e controlar preços. “No PIB, o efeito é menor”, ressalta Silveira.

A perspectiva de um ano sem problemas climáticos melhoram as projeções para a inflação, aproximando-se do centro da meta definida pelo Banco Central, que é de 4,5%. A última projeção do Boletim Focus do Banco Central, divulgada segunda-feira, estima que o IPCA ficará em 4,87% este ano. “A tendência é que os preços não aumentem porque a oferta será grande. O risco é o câmbio. O cenário político conturbado pode vir a valorizar mais o dólar, aumentando os custos com fertilizantes. Se o dólar subir, o produtor exporta mais e tem de subir o preço no mercado interno porque a oferta local diminui”, explica o engenheiro agrônomo e doutor em economia Geraldo Barros, que é coordenador científico e professor sênior da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP.

(Fonte: O Globo – 04/01)

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