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Alta do anidro não compensa fim de benefício fiscal no país

06 de Abril de 2017

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Após intensa queda de braço entre produtores e distribuidoras na última semana para fechar os contratos de fornecimento de etanol anidro (misturado à gasolina) para os próximos 12 meses, foram acertados prêmios em geral um pouco acima dos de 2016, mas insuficientes para as usinas cobrirem o impacto do fim do benefício fiscal sobre as vendas do produto.

Traders e usinas estimam que a contratação do etanol anidro, baseada nos preços do etanol hidratado (que abastece diretamente os veículos), foi feita com prêmios entre 12% e 13%, 1 ponto percentual acima dos ágios dos contratos de 2016.

Apesar da remuneração bruta ter crescido, traders e usinas avaliam que o aumento não foi suficiente para elevar o ganho líquido dos produtores, que desde o início do ano recuou por causa da volta da incidência do PIS e da Cofins sobre a venda de etanol.

Os tributos, somados, reduziram o ganho líquido das usinas com etanol em R$ 0,12 o litro. Se considerado o indicador de preço do etanol hidratado em São Paulo elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, na semana passada (R$ 1,4842 o litro), o tributo representa cerca de 8% do valor obtido com a venda do produto.

Na primeira fase de contratação, que se encerrou em 31 de março, as distribuidoras acertaram o fornecimento de 70% do volume de anidro necessário para um ano, calculado com base no consumo do ano anterior, conforme regra da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na segunda fase, que termina em 31 de maio, as distribuidoras precisam ter garantido o fornecimento de 90% do biocombustível – deixando 10% da demanda do ano a ser contratada no mercado físico.

Em volume, estima-se que as distribuidoras tenham acertado o fornecimento de cerca de 8 bilhões de litros de etanol anidro, acima da quantidade contratada em março de 2016. No último ano, o consumo de gasolina C (misturada com etanol) cresceu porque o produto esteve mais vantajoso para os motoristas do que o etanol hidratado na maior parte do ano, o que gerou uma migração dos consumidores para o combustível fóssil.

Segundo agentes que participaram das negociações, as tratativas foram mais difíceis neste ano porque havia uma diferença grande entre o prêmio pedido pelas usinas e o oferecido pelas distribuidoras. "As distribuidoras estavam querendo 11% e as produtoras, 15%", afirma um trader. Algumas distribuidoras até pediram à ANP uma extensão do prazo da primeira fase de contratação, mas a agência recusou.

Os baixos preços do hidratado também pressionaram a remuneração do etanol anidro. Nas últimas quatro semanas, por exemplo, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado ficou em média 18% abaixo do valor médio do mesmo período do ano passado.

Uma usina argumenta ainda que o fato dos preços locais da gasolina estarem agora atrelados ao mercado internacional acabou submetendo o mercado doméstico de combustíveis aos fundamentos e à sazonalidade dos EUA, onde o consumo e os preços caem no início do ano, quando se realizam as contratações antecipadas no Brasil.

A perspectiva de um aumento do consumo de gasolina no Brasil em 2017, conforme já indicou a ANP, também foi citada por algumas usinas como argumento para pedir prêmios mais altos, já que isso elevaria a demanda pelo etanol anidro.

Na avaliação de traders, será difícil que uma alta do consumo de combustíveis neste ano se dê pelo aumento da demanda pelo etanol hidratado. Apesar da forte desvalorização neste ano, o açúcar continua oferecendo uma remuneração maior para as usinas, desestimulando um incremento da produção do biocombustível.

(Fonte: Valor Econômico – 06/04)

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