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Alta do preço do petróleo impulsiona bolsas globais

10 de Maio de 2018

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O petróleo determinou ontem o rumo dos mais importantes ativos globais, das bolsas da Europa e de Nova York à rentabilidade dos títulos do governo norte-americano. Ao mesmo tempo em que injeta otimismo no mercado, porém, o salto nas cotações da commodity pode penalizar o crescimento econômico dos Estados Unidos, além de pressionar custos e ter potencial de alterar o ritmo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed).

Em Londres, o barril do Brent, referência global, subiu 3,2%, a US$ 77,21, enquanto o WTI avançou 3%, a 71,14 por barril, em Nova York. Trata-se do maior valor desde novembro de 2014 para os dois contratos. Em 2018, o petróleo sobe cerca de 20% e, em um ano, cerca de 46%.

Ontem, o rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano voltou a subir acima de 3%, fechando a 3,004%. Considerado referência para a renda fixa, o título de 10 anos esteve no centro da forte correção das bolsas globais no início de fevereiro, quando começaram a pipocar os temores de aceleração da inflação nos EUA. Hoje, será divulgada por lá a leitura de abril da inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), com expectativa de discreta aceleração para uma alta anual de 2,5%.

A alta nos rendimentos da renda fixa americana também foi puxada ontem pelo otimismo com as ações das principais petrolíferas, que ajudaram a sustentar ganhos consistentes na Europa, especialmente em Londres, e em Wall Street. A Exxon subiu 2,3% e a Chevron, 1,7%, garantindo o sinal positivo dos índices americanos. O Dow Jones teve ganho de 0,75%, aos 24.542,54 pontos; o S&P 500 subiu 0,97%, aos 2.697,79 pontos, e o Nasdaq registrou alta de 1%, aos 7.339,90 pontos.

A recente escalada da commodity ocorreu um dia depois de Donald Trump formalizar a saída do acordo nuclear com o Irã. Apesar de amplamente esperado, o anúncio serviu de combustível para levar o petróleo a novas máximas em três ano e meio. Segundo analistas, a commodity tem sido conduzida por uma conjunção de fatores geopolíticos e pela redução sistemática na produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Nas contas da consultoria Oxford Economics, a saída dos EUA do acordo com o Irã pode representar, na verdade, um tiro no pé de Trump e anular metade do efeito benéfico do corte de impostos resultante da reforma tributária aprovada no fim de 2017 pelo partido republicano.

De acordo com o economista-chefe da consultoria, Gregory Daco, a decisão vai contribuir para manter o petróleo nas alturas, com a referência americana (o contrato futuro do WTI) oscilando ao redor de US$ 70 por barril neste ano. Isso deve acontecer se o Irã começar a reduzir gradualmente a produção da commodity, como projeta a Oxford.

Na prática, o prolongamento do período de alta do petróleo representa uma espécie de reajuste nos impostos porque encarece o custo de vida dos consumidores americanos. O movimento da commodity, então, contraria o corte de impostos e aumento de gastos federais do governo americano e pode tirar metade do impacto combinado destas medidas, estimado em 0,7 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.

O petróleo é um dos ativos com maior impacto nas finanças globais, responsável por choques que desarranjaram uma leva de países nas últimas décadas, incluindo o Brasil. Este risco permanece hoje, em um momento em que os principais bancos centrais se movem para retirar os estímulos dados à economia após a crise financeira de 2008.

Uma elevação mais rápida de juros pelo Fed do que atualmente se prevê pode alterar o balanço de riscos entre os países desenvolvidos e emergentes, alerta o banco suíço UBS, em relatório distribuído ontem.

"Um aperto monetário mais rápido nos Estados Unidos pode ainda intensificar os riscos para os ativos de mercados emergentes, levando os BCs destas nações a elevar os juros mais rapidamente e, assim, restringir o crescimento", disse Mark Haefele, diretor global de investimentos do UBS.

Esse cenário complicaria a situação dos emergentes, que recentemente voltaram a sofrer turbulências, com crises cambiais e momentos que relembram os anos 1990. A Argentina, por exemplo, anunciou que está negociando com o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma linha de crédito. Desde o fim de abril, o governo argentino tem queimado reservas cambiais e promovido um choque de juros, que levou a taxa básica a 40% ao ano, em um esforço para conter a depreciação acelerada do peso.

Fonte: Valor Econômico – 10/05/2018

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