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Amazônia: empresas e associações agem para evitar retaliação internacional

26 de Agosto de 2019

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A coleção de imagens de desmatamentos e queimadas, além de declarações e atos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros, minaram a imagem do Brasil no exterior e já levam algumas das maiores empresas e associações de agronegócio do País a reagirem por conta própria para tentar diminuir o estrago.

O temor de uma retaliação internacional aos produtos brasileiros, especialmente ao agronegócio, não é infundado. Desde que as imagens das queimadas na Amazônia começaram a correr o mundo, hashtags pedindo boicote aos produtos brasileiros circulam nas redes sociais.

Na sexta-feira (23), a Finlândia pediu que a União Europeia (UE) avalie a possibilidade de banir a carne bovina brasileira devido às notícias de queimadas. De outro lado, o gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, disse também que vai se opor ao acordo UE-Mercosul, posição semelhante à da Irlanda.

Nas últimas semanas, alguma reação das empresas já começou. A Marfrig, segunda maior produtora de carne bovina do mundo, publicou um anúncio exaltando ter sido capaz de emitir US$ 500 milhões em bônus de transição, papéis emitidos como instrumento para financiar projetos de mitigação ambiental. No anúncio, destaca que seus fornecedores precisam respeitar áreas protegidas e compromisso contra o desmatamento.

Ao receber um prêmio há cerca de dez dias, o presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou que o setor de papel e celulose precisa “levantar a voz” e defender o fim do desmatamento da Amazônia.

“Nosso setor não é de florestas e sim de árvores. 100% das empresas do setor só colhem as árvores que plantaram e não usam floresta nativa. Mas pode haver contaminação negativa do setor por problema ambiental brasileiro”, disse ao discursar para uma plateia de empresários.

Imagem em risco – Ex-ministro da Agricultura e um dos maiores empresários do agronegócio do País, Blairo Maggi diz que, ao longo dos anos, a produção brasileira foi construindo uma confiança e ganhou terreno por mostrar que a grande produção é sustentável no País.

“Agora estamos no inverso de tudo e tudo está sendo contestado. E não é uma coisa construída pelos produtores que mudaram de posição. Nós continuamos com as mesmas práticas, o governo que mudou o discurso”, destacou. “O risco é que essas conquistas dos últimos anos sejam ignoradas e se tenha que começar todo um trabalho de novo, e aí será muito mais penoso”.

Presidente da associação Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), que congrega empresas da área de papel e celulose, o ex-governador Paulo Hartung também reforçou o temor de fechamento de mercados e desvalorização dos produtos brasileiros no exterior pelo discurso do atual governo.

“Somos fortemente contra o desmatamento ilegal da Amazônia. Acreditamos no potencial de desenvolvimento da região e do seu povo com modelos econômicos sustentáveis que não dependem da alteração da cobertura florestal”, disse em nota enviada à Reuters.

“Assim como outros empresários já citaram, há anos o Brasil vem construindo uma imagem internacional de conservação com produção e não podemos jogar fora esse trabalho. Vai custar caro ao Brasil reconquistar a confiança de alguns mercados internacionais”.

O agronegócio brasileiro representa mais de 40% das exportações brasileiras. Até julho deste ano, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, foram exportados US$ 56,6 bilhões. Em 2018, os valores foram recordes, a US$ 101,7 bilhões.

Diário do Comércio – 24/08/19

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