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Aquecimento global ameaça crescimento

15 de Junho de 2018

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O aquecimento global está no caminho de, por volta de 2040, ultrapassar a meta mais rigorosa estabelecida no Acordo de Paris - de conter o aumento da temperatura em 1,5° C - e ameaçar o crescimento econômico. É o que diz um relatório preliminar que é o maior alerta das Nações Unidas sobre os riscos da mudança climática.

Os governos ainda podem limitar o aumento da temperatura abaixo do teto de 1,5° C, acordado em 2015, com transições "rápidas e de longo alcance" na economia mundial, diz o relatório produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.

O esboço final do relatório, obtido pela Reuters e datado de 4 de junho, deve ser publicado em outubro na Coreia do Sul, depois de revisado e aprovado pelos governos. Será o principal guia científico de combate à mudança do clima.

"Se as emissões continuarem no ritmo atual, o aquecimento induzido pelo homem ultrapassará o 1,5° C em cerca de 2040", diz o texto, confirmando as conclusões de um esboço anterior, de janeiro. Esta versão é mais robusta e teve 25 mil comentários de especialistas do mundo todo.

O Acordo de Paris, adotado por 200 nações em 2015, estabeleceu uma meta de limitar o aumento da temperatura a algo "bem abaixo" de 2° C em relação aos tempos pré-industriais. Ao mesmo tempo, diz o acordo, "busca esforços" para a meta mais difícil, de 1,5° C.

O acordo foi enfraquecido depois que o presidente dos EUA Donald Trump decidiu, em 2017, retirar o país do acordo e promover os combustíveis fósseis no país.

As temperaturas já subiram cerca de 1° C e estão subindo a uma taxa de 0, 2° C por década, segundo o documento. O relatório foi solicitado pelos líderes mundiais como parte do Acordo de Paris.

"O crescimento econômico projetado deve ser menor com o aumento de 2° C do que com 1,5° C para países desenvolvidos e em desenvolvimento", diz o texto. Enchentes e secas podem prejudicar a agricultura. Pode haver aumento de mortes por ondas de calor.

Em um mundo com aumento de temperatura de mais de 1,5° C, a elevação do nível do mar seria 10 centímetros menor que no caso dos 2° C. Isso significa expor cerca de 10 milhões de pessoas a menos nas áreas costeiras a riscos como enchentes, tempestades ou maresias danosas aos cultivos.

O documento diz ainda que as atuais promessas dos governos no Acordo de Paris são muito fracas para conter o aquecimento da temperatura a 1,5° C.

O porta-voz do IPCC Jonathan Lynn disse que não comentaria o conteúdo dos textos preliminares enquanto o trabalho ainda estiver em andamento.

O relatório esboça um novo cenário para o mundo ficar abaixo de 1,5° C. Inovações tecnológicas e mudanças no estilo de vida poderiam significar uma demanda de energia consideravelmente menor em 2050, mesmo com crescimento econômico crescente.

Não há indícios de que o relatório tenha sido enfraquecido pelas dúvidas de Trump de que a mudança climática seja impulsionada por gases de efeito estufa produzidos pelo homem.

O texto diz que as energias renováveis, como eólica, solar e hidrelétrica teriam que aumentar 60% em 2050 em relação aos níveis de 2020 para a temperatura ficar abaixo de 1,5° C, "enquanto a energia primária gerada pela queima do carvão diminui em dois terços".

Fonte: Valor Econômico – 15/06/2018

 

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