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Avança a venda de açúcar de 2019/20

15 de Outubro de 2018

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Depois que os preços internacionais do açúcar visitaram os menores patamares em dez anos no mês passado, uma virada vigorosa foi deflagrada no início deste mês. Diante da mudança de rota das cotações, muitas usinas começaram a aproveitar a situação para fixar o preço de venda da commodity da próxima safra (2019/20), que começará em abril.

Até o dia 5 de outubro, a Archer Consulting identificou que 2,824 milhões de toneladas do açúcar que será produzido no próximo ciclo tiveram o preço de exportação fixado. E o movimento continuou avançando conforme as cotações seguiram em ascensão, de acordo com Arnaldo Corrêa, diretor da consultoria.

O ritmo ainda está mais lento que em safras anteriores, quando os preços estavam em patamares melhores e ofereciam margens positivas aos produtores. Considerando-se estimativa de que as exportações brasileiras alcançarão 21 milhões de toneladas em 2019/20, o volume de açúcar já precificado representa 13,45% do total. No início de outubro, as usinas do país costumam estar com cerca de 20% do volume a ser exportado na temporada seguinte com preço travado, afirma Corrêa.

 Mas, dado o patamar dos preços do açúcar no mês passado, o movimento de fixação de preços é "surpreendente", avalia o analista. No dia 26 de setembro, o contrato mais negociado do açúcar na bolsa de Nova York (vencimento em março) fechou a 10,91 centavos de dólar a libra-peso, menor nível desde 2008.

Assim que virou o mês, porém, o cenário começou a mudar. Desde 1º de outubro, início da safra internacional 2018/19, o contrato do açúcar demerara para março já subiu 15,3% e, apenas na semana passada, registrou valorização de 2,3%.

A escalada é concomitante à entrada de uma safra global em que o excedente de açúcar esperado é menor que o da safra anterior. A maior parte das consultorias concorda com a tendência, sobretudo em função da perspectiva de redução da produção no Brasil - seja pela quebra da safra de cana, seja pela produção mais voltada ao etanol.

O movimento das usinas para aproveitar essa recente alta de preços ocorre em um momento de queda do dólar, que voltou a ser negociado abaixo de R$ 4. Segundo Corrêa, a elevação de preços da commodity já compensa a queda da taxa de câmbio. No início da semana, o preço do açúcar em moeda era equivalente a R$ 1.100 por tonelada, acima do custo da maioria das usinas.

Segundo o analista, não são todas as empresas que estão "casando" a fixação do preço do açúcar e a taxa de câmbio. Aquelas que tem parcela de sua dívida em dólar e parcela em reais estão fixando apenas uma parcela do açúcar para exportação na moeda americana.

Mas, apesar da melhora dos preços do açúcar, o etanol segue mais atraente. Atualmente, o biocombustível está remunerando as usinas com o equivalente a cerca de 15 centavos de dólar a lira-peso - bem acima, portanto, do atual nível de preços do adoçante no mercado futuro.

Segundo um usineiro de Mato Grosso do Sul, a alta do açúcar neste momento ajuda as empresas a garantirem uma remuneração melhor para a próxima safra, mas ainda justifica uma migração do mix de produção. Na avaliação de um trader, a fixação de preços do açúcar para o próximo ciclo deverá aumentar quando a cotação alcançar R$ 1.200 a tonelada, e a cautela das usinas pode inclusive acelerar a alta das cotações nos próximos dias.

Valor Econômico - 15/10/18

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