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24 de Janeiro de 2017

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Os compromissos assumidos pelo governo brasileiro no Acordo de Paris para a redução da emissão de gases poluentes estão servindo de estímulo para a indústria que trabalha com o desenvolvimento de biocombustível. A esperança é de que, a partir do lançamento do programa Renova Bio - Biocombustíveis 2030, no ano passado, numa parceria com o setor sucroenergético, comece uma nova fase de desenvolvimento de novas tecnologias e o aumento da participação do biocombustível no mercado.

Entusiasmado com as perspectivas para o setor, o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, afirma que a busca por fontes de energias limpas tem avançado em várias áreas e, até mesmo na aviação, existem pesquisas para reduzir a emissão de poluentes, substituindo o querosene convencional pelo bioquerosene. Em Minas Gerais, algumas empresas já trabalham no desenvolvimento desse produto.

Outra opção é o biogás, produzido a partir dos aterros sanitários e da vinhaça, que é um subproduto do etanol. Do biogás, segundo Mário Campos, tira-se o biometano, que é o mesmo gás natural utilizado nos carros. Com esse combustível, pode-se abastecer uma frota. Além dessas fontes, existem o biodiesel, o etanol e o etanol de segunda geração, sendo que todos eles juntos formam uma plataforma que o governo federal pretende trabalhar no Renova Bio.

Para Campos, o desenvolvimento do setor de biocombustíveis pode significar não só o aumento da produção brasileira de etanol e a geração de empregos, mas também um estímulo ao investimento em tecnologia, colocando o setor na vanguarda. Com o programa, o governo federal pretende dobrar a produção brasileira de etanol, aumentando em 20 bilhões de litros até 2030. Atualmente, o Brasil produz, em média, cerca de 30 bilhões de litros de etanol por safra.

O entendimento do governo é o de que a maior participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira exigirá o dobro da oferta de etanol até 2030 e, consequentemente, presença maior do combustível no mercado. Pelas previsões do presidente da Petrobras, Pedro Parente, haverá, em 2030, uma demanda de 31,3 milhões de metros cúbicos de gasolina. A participação do etanol anidro deve chegar a 8,1 milhões de metros cúbicos e a do biocombustível hidratado, a 17,2 milhões de metros cúbicos.

Para adequar o programa ao mercado e às demandas do setor, o governo pretende realizar um amplo debate sobre o tema, a partir de março, e definir a implementação de políticas que incentivem investimentos, tendo em mente o cumprimento das metas assumidas no Acordo de Paris. Um dos papéis do programa, segundo Mário Campos, é justamente o de fazer com que o Brasil diminua a emissão de gases poluentes.

Para tanto, um grupo no governo trabalha especificamente com o desenvolvimento de energias renováveis, dentre elas, o biocombustível. Além disso, Mário Campos entende que um fator importante nesse processo é fazer com que se diminua a dependência externa do país em relação aos combustíveis. “O Brasil é um grande importador de diesel e de gasolina.”

O empresário também alerta que, pelas próprias projeções do governo, se não houver redução na importação de combustíveis, o país terá dependência absurda do mercado externo. “Nesse caso, ou se incentiva a produção local ou aceita-se que o Brasil, que é um país continental, será um grande importador de derivados de gasolina e diesel.” A única alternativa para que o país seja autossuficiente será com investimento na indústria do biocombustível, que tem várias matrizes além do combustível e da energia, produzidos a partir da cana-de-açúcar.

Os empresários do setor têm sido pioneiros, inclusive, na produção do etanol, e a expectativa das indústrias que trabalham no desenvolvimento de novas tecnologias é aumentar a participação no mercado interno e externo, além de se firmar como fonte limpa e sustentável de combustível.

Diminuir a dependência dos derivados de petróleo será fundamental para o país. Mesmo sabendo que o governo do presidente Michel Temer será curto, Mário Campos acredita que, ao ser lançada essa plataforma, ela será uma oportunidade importante para ajudar o país a sair da crise, por ser um setor que atrai investimento externo e por gerar emprego.

Um aspecto importante no programa Renova Bio, segundo Mário Campos, é que será analisado o ciclo de vida do produto para saber o nível de sustentabilidade. O passo a passo para se chegar ao combustível será levado em consideração na análise da sua participação na diminuição da poluição.

“Para se ter um litro de etanol, de biodiesel ou o metro cúbico de biogás, passou-se por um processo produtivo que é todo analisado em termos de emissões e absorções de CO². A cana faz a fotossíntese, o que faz com que ela seja um produto limpo.” A partir desse processo, será feita análise na produção. Quanto maior for a redução de emissões, ou mitigação, mais aquela matriz será valorizada.

Atualmente, a legislação brasileira não faz uma separação no processo de produção do etanol. Todos têm direito ao mesmo tratamento: o que produz etanol, a partir da queima da cana, e a indústria que trabalha a partir da colheita mecanizada, sem queima, têm os mesmos benefícios e chegam ao mercado como qualquer outro combustível.

No entendimento de Mário Campos, no entanto, o biocombustível é uma commodity e precisa ser tratado como tal. “Não existe nenhum benefício adicional para os que produzem o combustível limpo, pelo menos por enquanto.” O modelo que está sendo pensado para o Brasil pretende mudar essa situação e tem como referência o modelo americano para etanol.

“Nos Estados Unidos, paga-se um prêmio pelo etanol brasileiro em detrimento ao etanol de milho, porque lá é utilizada a metodologia do ciclo de vida e considera-se que o etanol de cana é mais sustentável do que o etanol de milho, de forma que há um sobrepreço em relação ao etanol de milho. Há um plus para o produto que é mais sustentável. E, ao que parece, esta é uma nova tendência em relação ao consumo mundial.

” O entendimento tanto do governo quanto dos empresários é de que o consumidor busca mais informações do produto que está consumindo, de como ele é produzido, sua origem, se as regras ambientais e trabalhistas foram cumpridas e de como chegou às gôndolas dos supermercados. Isso já acontece em relação aos alimentos e tem avançado sobre outros setores, como é o caso dos combustíveis.

(Fonte: Revista Viver Brasil - 189 - 20/01)

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