15 de Outubro de 2020
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A forte depreciação do real ante o dólar e o impacto da paridade dos preços internacionais das commodities — soja, milho, algodão e açúcar — no mercado doméstico tendem a beneficiar os exportadores nos próximos meses, mas irão pesar no bolso dos consumidores na hora de irem aos caixas dos supermercados.
O ano de 2020 foi marcado por safras recordes de soja, milho e algodão, assim como a moagem de cana-de-açúcar 2020/2021 (colhida a partir de maio) teve maior participação do açúcar em relação ao etanol. Ou seja, não houve problema de falta de estoque, mas os preços internos atingiram marcas recordes — a saca de 50 kg do açúcar cristal ultrapassou a marca dos R$ 90,00 no início de outubro (o que não ocorria desde dezembro de 2016), o óleo de soja bateu em R$ 6.318,29 a tonelada (maior preço desde 2002) e o algodão passou de R$ 2,70/libra-peso antes da pandemia para até R$ 3,30/libra, causando inquietação no setor têxtil, que foi duramente impacto pelas restrições de funcionamento no primeiro semestre.
Na primeira semana de outubro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou a previsão da safra 2020/2021 de grãos, estimada em 268,7 milhões de toneladas, superando em 4,2% o recorde de 257,7 milhões da safra 2019/2020. A projeção indica colheitas recordes de 133,7 milhões de toneladas de soja (alta de 7,1%) e de 105,2 milhões de toneladas de milho (crescimento de 2,6%). Já a produção de algodão deverá cair 6,2%, ficando em 2,8 milhões de toneladas de pluma. Para as três commodities, a expectativa da Conab é que as exportações se mantenham em alta dada a atratividade do câmbio — em janeiro, o dólar comercial iniciou o ano na faixa de R$ 4,02 e, desde março, tem se mantido, na média, acima de R$ 5,20.
Nos próximos meses, as atenções dos produtores de soja e milho estarão voltadas para o fenômeno La Niña — resfriamento da região do oceano Pacífico Equatorial — cujos reflexos se manifestam no Brasil pela redução de chuvas na região Sul e temperaturas mais amenas no Sudeste e Centro Oeste no final da primavera e início do verão, períodos de colheita da soja e de preparação para a semeadura do milho 2ª safra (safrinha).
“A falta de umidade pode causar mudanças na colheita da soja”, diz Victor Ikeda, analista do Rabobank. No caso da soja, há ainda a incerteza quanto ao apetite da China, maior compradora mundial do grão. Devido ao acordo comercial entre a China e os EUA, no início do ano, o país asiático tem crescido seus volumes de importação da soja norte-americana e tem dado sinais que irá manter esta postura. “A China enfrentou problemas climáticos na produção local e está preocupada com a saúde alimentar da população. Ao honrar os termos do acordo comercial, a tendência é que haja uma leve queda na demanda pela soja brasileira”, diz Felipe Novaes, analista da Tendências.
No caso do milho, a expectativa é que os preços se mantenham em patamares elevados no mercado internacional, tanto pela demanda chinesa, que usa o insumo para produção de ração animal, como pelo consumo interno, basicamente pelas indústrias de proteína animal (carne, frango e suínos), que são tradicionais exportadores.
Segundo Fabio Moraes, analista da consultoria E2, com os preços pressionados para cima, é possível que haja o repasse das indústrias para o consumidor final. “Isso já vem acontecendo ao longo de 2020”, diz.
Para o algodão, as perspectivas são de estabilidade nos preços, independente das cotações externas. “Há excedentes elevados e a indústria têxtil está em fase de recuperação”, afirma Novaes, da Tendências.
Com a queda dos preços do petróleo no 1º semestre e a redução da mobilidade devido às restrições da pandemia, o setor sucroenergético voltou-se para a produção do açúcar em detrimento do etanol. “Os preços estiveram positivos no exterior, devido à estiagem na Tailândia. A Índia se destacou nas exportações, mas houve subsídios do governo, ainda não confirmados para a próxima safra”, diz Andy Duff, analista de açúcar do Rabobank. Já no mercado interno, os preços devem permanecer em alta. “Pela lógica do mercado livre, o produtor escolhe o comprador externo. É o lado triste da desvalorização do câmbio”, lamenta.
Fonte: Valor Econômico – 15/10
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