23 de Julho de 2019
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A americana Bunge e a britânica BP encontraram uma na outra a solução que procuravam para seus negócios de bioenergia e u ma oportunidade de crescimento. Há anos buscando, se não a saída imediata, ao menos sócios para reduzir dívidas, a Bunge recebeu no fim do ano passado um convite da petrolífera britânica, que agora vem ampliando suas apostas no setor de energias renováveis, para unir suas operações e disputar a segunda posição no ranking de produção de açúcar e etanol do Brasil.
Ontem, as duas companhias anunciaram a fusão dos negócios brasileiros de bioenergia, criando a joint venture BP Bunge Biocombustíveis - cada uma terá 50% de participação. Os negócios de cana têm peso ínfimo na receita global de cada uma. Da receita da britânica em 2018, de US$ 303 bilhões, nem 1% saiu das usinas no Brasil. Do faturamento de US$ 45 bilhões da Bunge, as usinas não representaram mais de 2%. Ainda assim, o negócio é relevante em um setor que há tempos não vê transações deste porte.
A nova empresa contratará um empréstimo de US$ 700 milhões com bancos estrangeiros e nacionais, assumindo a dívida que a Bunge Açúcar e Bioenergia tem com sua controladora nos EUA. Essa transferência da dívida dá um alívio imediato ao balanço da múlti americana, dado que 17% de sua dívida de longo prazo (de US$ 4,2 bilhões no fim de 2018) está atrelada ao seu negócio de bioenergia no Brasil.
A BP, por entrar no novo negócio com menos ativos (três usinas frente oito da Bunge), ainda pagará US$ 75 milhões diretamente à nova sócia. Com esse passo, ampliará sua presença em bioenergia em 50%. Até então, a britânica tinha capacidade para moer 10 milhões de toneladas de cana por safra no país.
Para a Bunge, a operação é o primeiro marco da gestão de Gregory Heckman como CEO. O executivo assumiu em abril, após pressão dos acionistas Continental Grain e do fundo de hedge DE Shaw, com o objetivo de destravar negociações.
Em comunicado, Heckman admitiu que o negócio pode ser o primeiro passo para uma saída definitiva da Bunge da área de açúcar e etanol. "Temos na BP um parceiro forte e comprometido, assim com flexibilidade nos médio e longo prazos para monetização futura, com potencial de saída total via oferta pública inicial ou outra rota estratégica", disse.
A união dos negócios criará uma empresa capaz de moer até 32 milhões de toneladas de cana por safra - atrás da Raízen (73 milhões de toneladas), da Atvos (37 milhões de toneladas), e da Biosev (33 milhões de toneladas). As empresas esperam que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprove a operação até o fim do ano.
Por enquanto, as usinas estão usando 90% dessa capacidade, moendo cerca de 29 milhões de toneladas. Se a joint venture já existisse, teria receita de R$ 4,8 bilhões, estimou a RPA Consultoria com base no desempenho médio do setor esperado nesta safra.
Nesse nível, a BP Bunge Bioenergia estaria próxima do faturamento que a vice-líder no segmento, a Biosev, teve na safra passada (2018/19), com vendas de açúcar, etanol e energia de R$ 4,9 bilhões (excluídas as receitas com bagaço e outras commodities), e já superaria a receita da Atvos, que ficou em R$ 4,2 bilhões.
Segundo Mario Lindenhayan, chefe de toda a BP para o Brasil e que acumulará a função de presidente do conselho da BP Bunge Bioenergia, a sociedade surfará no crescimento que o setor de etanol deve ter nos próximos anos, impulsionado pelo RenovaBio, que deve ampliar a demanda por biocombustíveis em 70% até 2030.
"Queremos participar como player ativo nessa transição", disse Lindenhayan, ao Valor. Segundo o executivo, as duas empresas "buscam na união não uma solução, mas uma oportunidade de criar uma plataforma de crescimento".
O primeiro passo é acabar com a ociosidade atual das 11 usinas que o novo grupo terá. Para isso, a empresa terá que garantir oferta adicional de 3 milhões de toneladas de cana. A RPA Consultoria estima que o investimento necessário ficaria em torno de R$ 320 milhões.
Geovane Consul, atual vice-presidente da Bunge Açúcar & Bioenergia e futuro presidente da nova companhia, afirmou que os investimentos nas lavouras serão feitos de forma escalonada para não "estressar" o caixa e para garantir que os canaviais não envelheçam todos juntos. A alavancagem da companhia, no entanto, oferece um conforto para que a joint venture realize investimentos, garantiu Consul.
As usinas que farão parte da joint venture produziram na safra passada 1,5 bilhão de litros de etanol, o que a colocaria como uma das três maiores produtoras do país. As três plantas da BP conseguem hoje voltar até 72% de sua cana à produção de biocombustível, e as da Bunge, 65%. Segundo os executivos, características como localização e tecnologias usadas devem facilitar a integração.
Fonte: Valor - 23/7
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