16 de Junho de 2020
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A BP reduzirá o valor contábil de seus ativos em até US$ 17,5 bilhões em razão do impacto da pandemia da covid-19, que a levou a cortar suas projeções de preços médios para o petróleo e gás no longo prazo e a prever uma aceleração no abandono dos combustíveis fósseis.
A companhia britânica acredita que o coronavírus terá impacto duradouro na economia mundial, assim como na demanda por petróleo e gás, e projeta que a crise acelerará a transição rumo a fontes mais limpas de energia.
Seu anúncio nesta segunda-feira marca a maior admissão até agora na indústria de petróleo e gás de que investimentos no valor de bilhões de dólares poderiam tornar-se antieconômicos diante dos esforços mundiais para atingir as metas do Acordo de Paris sobre o clima. Por causa da notícias, suas ações foram negociadas em queda no início da tarde.
Sob o comando do novo executivo-chefe Bernard Looney, a BP vem realizando uma reformulação de seus negócios, tentando tornar-se uma organização mais enxuta e com emissões de carbono zero em termos líquidos. Em setembro, a empresa comunicará aos investidores como planeja se “reinventar” e o que sua promessa de, gradualmente, investir menos em petróleo e gás e mais em fontes renováveis significará na prática.
“Esta é uma clara aceitação pela BP de que o passado não serve mais de guia para o futuro”, disse Natasha Landell-Mills, chefe direcionamento da gestora de ativos Sarasin & Partners. “Até que suas contas estejam alinhadas com [o Acordo de] Paris, seus investimentos em bens de capital não estarão alinhados.”
As suposições da BP para as cotações médias no período de 2020 a 2050 do Brent e do Henry Hub, referenciais do petróleo e gás, respectivamente, agora estão 27% e 31% abaixo das estimativas feitas em 2019. A empresa agora prevê preços médios em torno a US$ 55 para o barril de petróleo Brent e de US$ 2,90 para a unidade térmica britânica do gás Henry Hub.
A BP destacou que irá rever alguns de seus projetos de exploração, de forma que parte do petróleo que pretendia produzir continuará debaixo da terra.
A companhia projeta contabilizar no segundo trimestre um total não financeiro, depois dos impostos, de US$ 13 bilhões a US$ 17,5 bilhões em encargos por deterioração no valor dos ativos e em baixas contábeis relativas a esses projetos de exploração sendo revistos.
A empresa fez uma distinção com os números antes dos impostos. Nesse critério, os encargos, relativos a propriedades, fábricas e equipamentos serão de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões, enquanto as baixas contábeis de bens “intangíveis”, relativas aos projetos de exploração, serão de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões.
“Essas decisões difíceis - enraizadas em nossa ambição de neutralidade de carbono e reafirmadas pela pandemia - nos darão melhores condições de concorrer ao longo da transição energética”, disse Looney em comunicado, na segunda-feira.
Até 31 de março, essas propriedades, fábricas e equipamentos estavam avaliadas em US$ 130,2 bilhões - com a parte relacionada a petróleo e gás valendo US$ 88,6 bilhões. A BP informou que os ativos intangíveis estavam contabilizados em US$ 15,5 bilhões, sendo US$ 14,2 bilhões relacionados a projetos de exploração.
Em maio, Looney disse ao “Financial Times” que a pandemia pode ter marcado o “pico” na demanda por petróleo. “Isso não trará mais demanda para o petróleo. Provavelmente, [o petróleo] terá menos demanda”, disse acrescentando que o uso de tecnologias que permitem o trabalho remoto e reduzem a necessidade de viagens poderia persistir.
Alguns investidores, entre os quais a Sarasin & Partners, há muito sustentam que projeções de preços otimistas demais feitas por grandes petrolíferas mundiais as levavam a superestimar seu capital, lucros e capacidade de distribuição de dividendos.
Biraj Borkhataria, da RBC Capital Markets, disse que o balanço patrimonial da BP agora parece estar “pressionado”, de forma que o pagamento de dividendos provavelmente precisará ser encolhido, uma vez que a alavancagem da empresa passará girar em torno a 48%, a maior no setor.
A BP já havia anunciado encargos por deterioração no valor contábil de US$ 3 bilhões, depois de ter acertado a venda de uma parte de seus ativos nos Estados Unidos por um valor inferior ao do balanço, em meio à queda nas cotações.
Na mesma época, a Shell divulgou que registraria uma baixa contábil de US$ 2 bilhões, na sequência do anúncio de encargos por deterioração de mais de US$ 10 bilhões pela rival americana Chevron. A espanhola Repsol e a norueguesa Equinor também reduziram o valor de seus ativos nos últimos meses.
Fonte: Valor Econômico - 16/06
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