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Brasil vive situação ´dramática´ e cai no ranking de produtores de carros no mundo

08 de Março de 2017

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O Brasil cai no ranking dos maiores produtores de carros no mundo, passando da 7ª para a 10ª posição. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira, 08, pela OICA (Organização Internacional de Construtores Automotivos), durante o Salão do Automóvel em Genebra, um dos mais importantes do mundo.

 A entidade revela que o Brasil regrediu em uma década também em vendas. As maiores montadoras mundiais estimam ainda que 2017 pode ser o ano de uma modesta estabilização no que se refere às vendas. Mas distante das taxas do auge do crescimento da economia nacional.

"O que ocorreu no Brasil é dramático", afirmou ao Estado o presidente mundial da OICA e ex-ministro de Transporte do governo alemão, Matthias Wissmann.

No ano passado, a produção encolheu em 11%, somando um total de 2,1 milhões de unidades. Países como França e Tailândia podem ainda ultrapassar o Brasil no ranking de 2017 e o mercado deixaria de fazer dos dez maiores do mundo pela primeira vez em décadas.

Hoje, o maior produtor de carros do mundo é a China, com 28 milhões de unidades. Nos EUA, o total chegou a 12 milhões. Segundo a OICA, o ano foi de crescimento no mercado mundial, de 4,5% e um total de mais de 95 milhões de carros saíram das fábricas. O Brasil, porém, foi numa direção contrária.

Em termos de vendas, a crise também recolocou o Brasil em 2016 na mesma posição que estava em 2005. No ano passado, foram vendidos um total de 2,05 milhões de unidades, o que colocou o País como o oitavo maior mercado mundial. Em 2014, o Brasil era o quarto maior do mundo e, em 2012, chegou a vender 3,8 milhões de unidades.

"O Brasil teve anos muito difíceis. Temos alguns primeiros sinais de esperança diante do que parece ser uma leve estabilização. Mas não estamos muito otimistas", disse Wissmann. Sua avaliação é de que o ano possa terminar com uma expansão de 4% nas vendas. Mas, por enquanto, os dados tem frustrado até mesmo essas perspectivas. Em fevereiro, por exemplo, 145,6 mil veículos foram licenciados no Brasil, 7,6% abaixo do mesmo mês de 2016.

"O mercado viveu uma situação muito difícil no Brasil nos últimos três anos e a queda é impressionante. Ao lado da Rússia, o Brasil é nossa maior preocupação", disse o líder da indústria mundial.

Lição. Para o ex-ministro alemão, o Brasil deve servir de "lição" ao restante do mundo. Segundo ele, o protecionismo adotado pelo governo a partir de 2011 aprofundou a crise e gerou uma deterioração na situação das contas do estado. Ele se referia aos incentivos fiscais e renúncias tributárias que foram implementadas, criando barreiras às importações.

"O Brasil oferece uma lição aos governos que estão falando em colocar novos impostos às importações e alguns estão falando sobre isso", disse Wissmann, numa referência às medidas anunciadas por Donald Trump de eventualmente impor sanções às montadoras que não produzirem nos EUA.

 "O Brasil mostrou que isso não ajuda à indústria", disse. "Obviamente essa não foi a principal razão da crise econômica no Brasil. Mas ajudou", alertou o representante das montadoras em todo o mundo. "Espero que os políticos em todo o mundo aprendam com esse exemplo", insistiu Wissmann.

Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil foi julgado e foi concluído que as políticas de incentivo fiscal violavam as regras internacionais. Mas o governo deve apresentar um recurso.

"Precisamos de uma liberdade comercial. Nenhum país atende sozinho a sua demanda por carros com sua produção", defendeu Wissmann, que afirma que a indústria está preocupada com a tendência protecionista em diversos mercados. "Acesso a mercados é crucial para o crescimento. Barreiras só fazem sentido no curto prazo. Mas, no médio e longo prazo, até mesmo as indústrias que foram protegidas precisarão que outros governos não adotem barreiras", disse.

"Deixar os mercados abertos é um princípio que precisamos que seja mantido", completou.

Em dez anos, o mercado de veículos no mundo aumentou em 42%. Para 2017, crescimento deve ser mantido. Mas numa taxa mais modesta, de apenas 2% em produção e 3% em vendas.

(Fonte: O Estado de S. Paulo – 8/3)

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