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Bunge fará IPO de subsidiária sucroalcooleira

16 de Maio de 2018

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Depois de anos em uma busca infrutífera por um comprador para seus negócios sucroalcooleiros no Brasil, a americana Bunge decidiu concentrá-los em uma nova empresa que deverá ter ações negociadas na B3. A múlti protocolou na manhã de ontem, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um pedido de registro de companhia aberta para a Bunge Açúcar & Bionergia, cujo valor de mercado total é estimado por analistas em cerca de R$ 6 bilhões.

Segundo informações divulgadas pela multinacional, a empresa recém-criada reúne suas oito usinas instaladas no país, que têm, juntas, capacidade de moagem de 22 milhões de toneladas de cana por safra. Espalhadas pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Tocantins, as plantas produzem açúcar, etanol e contam com unidades de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana.

A capacidade total de moagem coloca a Bunge Açúcar & Bioenergia entre os cinco maiores player do segmento no Brasil, atrás de Raízen, controlada pela Cosan, Biosev braço da Louis Dreyfus Company, Atvos subsidiária da Odebrecht e São Martinho. Mas, como é normal também em outros grupos, sua moagem efetiva está abaixo da capacidade - na safra 2017/18, que terminou em março, estima-se que tenha sido de 19,5 milhões de toneladas.

Segundo fontes de mercado ouvidas pelo Valor, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) dos negócios reunidos na nova empresa giram em torno de R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano e seu Capex anual é da ordem de R$ 1 bilhão.

"A Bunge preparou a divisão para operar como uma empresa autônoma e recentemente obteve financiamento para o negócio. O pedido de hoje [ontem na CVM] avança ainda mais nas intenções anteriormente declaradas pela Bunge de centrar o foco nas áreas de agribusiness [inclui grãos] e alimentos e ingredientes e permite que a empresa avance com uma oferta pública inicial de ações, sujeita às condições de mercado e avaliação", informou a múlti em comunicado.

Apesar de representar uma novidade em relação ao discurso de alguns anos atrás, que sinalizava a intenção da múlti em se desfazer de seus negócios sucroalcooleiros no Brasil, após um longo período de maus resultados, o plano para o IPO não pegou o mercado de surpresa porque foi confirmado recentemente pelo CEO global da Bunge, Soren Schroder.

"Esperamos estar em posição de apresentar um pedido inicial no Brasil para explorar a possibilidade um IPO já neste mês", afirmou o executivo no início de maio em teleconferência sobre os resultados da multinacional no primeiro trimestre. No período, os negócios globais de açúcar e bioenergia da Bunge, nos quais a operação brasileira que deverá ser alvo do IPO era o carro-chefe, registraram prejuízo de US$ 20 milhões. No ano passado, geraram receita líquida de cerca de US$ 4 bilhões.

A estratégia da Bunge é permanecer como acionista majoritária da Açúcar & Bioenergia e aproveitar a tendência de melhora dos resultados sobretudo no mercado de etanol, cujas perspectivas melhoraram no Brasil após a aprovação do RenovaBio, nova política que entrou em vigor recentemente e tende a estimular o consumo de biocombustíveis no mercado doméstico. Na área de açúcar, em contrapartida, as cotações internacionais estão no momento no menor patamar em dez anos.

A Bunge começou a construir a posição de destaque que tem hoje no mercado sucroalcooleiro brasileiro em 2007, quando os investimentos estrangeiros no segmento estavam no auge. Comprou unidades que pertenciam ao Grupo Tenório, à trading Tate & Lyle e ao tradicional Grupo Moema, do interior paulista - a maior tacada, avaliada em US$ 1,5 bilhão, valor que incluiu dívidas - e virou protagonista em uma área na qual não tinha tradição. Uma das maiores processadoras e exportadoras de grãos do Brasil na época, posição que ocupa até hoje, começou a colher dores de cabeça em série com a empreitada, o que motivou a procura por sócios ou compradores.

Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, de Ribeirão Preto - epicentro do principal polo de produção de açúcar e etanol do país -, está entre os que acreditam que o valor de mercado total da Bunge Açúcar & Bionergia é de cerca de R$ 6 bilhões. Ele baseia sua estimativa em cálculos referentes a outros grandes players do segmento. Ainda que outros fatores influenciem a equação, a São Martinho, que tem muita terra, tem valor equivalente a R$ 410 por tonelada de cana efetivamente moída; no caso da Biosev, a conta aponta para R$ 340 por tonelada.

Fonte: Valor Econômico – 16/05/2018

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