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Caminhão autônomo georrefenciado conquista os canaviais

04 de Fevereiro de 2020

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O município de Lençóis Paulista não é apenas terra de produtores de cana tecnificados, mas também inventores de tecnologia. Em Lençóis é possível encontrar vários exemplos de produtores rurais que, para incrementar as operações agrícolas, realizam adaptações nas máquinas ou até desenvolvem tecnologia personalizada.

É o que acontece com a Agro Cana Caiana, que conta com uma área de 5500 hectares, produtividade dos canaviais com média de 116 toneladas de cana por hectare (TCH), com longevidade por volta de 3,7 cortes. Para essa alta produção, o grande trunfo da Cana Caiana, que fornece cana para a unidade Barra Grande, do grupo Zilor, é o controle de tráfego.  A colheita mecanizada de cana crua é realizada com caminhões transbordo e não com tratores, como é comum no setor sucroenergético nacional. E mais, o caminhão tem direção autônoma, desenvolvida pelos proprietários da Agro Cana Caiana, os irmãos Mateus e Henrique Belei.

Mateus conta que eles possuíam um caminhão que ficava ocioso durante a maior parte do ano, foi aí que pensaram em ajustar esse veículo para que também pudesse trabalhar na lavoura. “O problema era ajustar a bitola e integrar o piloto automático”, explica. Foi aí que Henrique, formado em engenharia agronômica, mas com paixão pela engenharia mecânica, se propôs a resolver a questão. Durante três anos, estudou a anatomia do veículo, juntou peças daqui e dali, fez adaptações nas caixas de direção e ajustes nas bitolas e instalou sistemas de GPS. Por fim, havia criado sua própria tecnologia de direção autônoma. “Em 2013, o veículo já estava operando na colheita mecanizada de cana crua na propriedade.”

O sucesso foi tão grande que a mesma engenharia começou a ser aplicada nos demais caminhões da empresa, que foram gradativamente substituindo os transbordos na colheita da cana. Hoje, a Agro Cana Caiana conta com quatro colhedoras e seis caminhões transbordos. Todos com bitolas ajustadas, GPS e dotados de direção autônoma. “Não é um veículo totalmente autônomo, pois ainda exige a presença de um operador dentro da cabine, que será como seu escritório, de onde ele irá monitorar os indicadores e fazer ajustes quando necessário. A parte mais pesada será as manobras de cabeceira e o tráfego na estrada.

O sócio da Agro Cana Caiana destaca que, no início, a introdução da tecnologia de direção autônoma buscava puramente o aumento da produtividade por meio de um controle mais rigoroso do tráfego. Porém, o projeto trouxe outros benefícios, como: redução de 30% no custo de reparo e manutenção; elimina os erros por falha humana e permite uma rápida retomada da operação após as chuvas; 50% de redução no consumo de combustível, em relação ao uso dos tratores; aumento da vida útil dos lubrificantes – enquanto um trator realiza a troca do óleo e filtros a cada 400 horas, o caminhão autônomo georreferenciado troca a cada mil horas, ou seja, apresenta vida útil três vezes maior, o que significa duas vezes menos resíduos de descarte.  Além disso, o caminhão utiliza o diesel S10, que tem um componente menos poluente em relação ao S500 que é o diesel convencional. 

Mateus Belei explica que a direção autônoma em seus caminhões difere do encontrado no mercado. “Enquanto a grande maioria instala um piloto elétrico ou um orbitrol no volante, optamos por manter a caixa de direção do equipamento, fazendo apenas um sistema hidráulico em paralelo a ela.”

Como benefício principal, Mateus destaca a possibilidade de trabalhar com maiores volumes de carga. “O piloto elétrico é limitado. Acima de 14 toneladas, começa a perder qualidade no controle de tráfego. O nosso equipamento consegue transportar até 20 toneladas, pois não faria sentido abandonar os transbordos se a capacidade de carga fosse inferior.”

Os sócios-proprietários explicam que todas as rotas que o caminhão irá percorrer são criadas em computadores por meio de georreferenciamento. “Com precisão de centímetros, o veículo só circulará por onde o sistema indica, aumentando assim a produtividade da operação. Com uma bitola maior, de até 3 metros, o caminhão opera sem passar por cima das áreas de plantio, preservando o solo e os brotos das futuras plantas.”

Os resultados do caminhão com direção autônoma, tecnologia desenvolvida pela AgroCana Caiana, atraíram a atenção da Mercedes-Benz, já que a tecnologia havia sido instalada em seus caminhões Axor 3131 e Atego 2730. A empresa nunca havia visto um projeto como aquele, nem mesmo em feiras da Europa. Não perdeu tempo e propôs uma parceria.

Foi aí que nasceu a Grunner, uma empresa de tecnologia para o campo criada pelos sócios-proprietários da Agro Cana Caiana exclusivamente para embarcar a direção autônoma nos caminhões fora de estrada da Mercedes-Benz. “No começo, não tínhamos a intenção de comercializar. O equipamento foi criado apenas para atender nossas demandas internas. Mas, através da proposta da Mercedes, vimos que havia mercado para esse tipo de tecnologia e decidimos apostar”, comentam os agora sócios-proprietários da Grunner, Mateus e Henrique Belei.

A Grunner passou a ser uma transformadora da Mercedes-Benz. O caminhão fora de estrada sai da fábrica da multinacional e segue para a sede da Grunner em Lençóis Paulista para instalação dos itens que compõe a tecnologia de direção autônoma.  E já se tornou um sucesso de venda, segundo Mateus Belei, até o final de dezembro de 2019, foram comercializados 68 caminhões Mercedes com direção autônoma e outros 106 estavam em negociação, sendo que o setor sucroenergético responde por 98% da demanda dessa nova tecnologia.

O aumento de produtividade aliado à redução de consumo de diesel e a maior vida útil dos lubrificantes atendem quesitos ambientais, criando condições favoráveis para o setor sucroenergético reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, o que pode ampliar os ganhos com os Créditos de Descarbonização (CBios), conforme prevê o RenovaBio.

O sistema desenvolvido pela Grunner foi reconhecido mundialmente e até premiado. Em 2019, a Mercedes-Benz apresentou o projeto do caminhão autónomo georrefenciado no concurso internacional da Daimler Trucks, realizado na Alemanha e que elege os melhores projetos inovadores de tecnologia automotiva do mundo. E a tecnologia nascida nos canaviais paulista foi a vencedora.

 

Fonte: CanaOnline – 04-02

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