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Carro elétrico segue em marcha lenta

30 de Agosto de 2018

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A Corpus Saneamento e Obras acaba de incorporar mais 15 caminhões elétricos à frota de seis compactadores que há dois anos faz a coleta de lixo em Indaiatuba e São Paulo. Serão 200 até 2023. “Deixamos de emitir mensalmente 14 toneladas de CO2, o desempenho é até sete vezes mais eficiente que o do caminhão a diesel e o custo de manutenção caiu um terço”, diz André Lima, diretor administrativo do Grupo Corpus.

Outra empresa que passou a apostar na eletrificação da frota é a DHL Supply Chain Brasil. Por enquanto são 20 veículos elétricos para entregas em um raio de até 200 quilômetros na Grande São Paulo. A Deutsche Post DHL Group, líder mundial no setor de logística, tem a meta de zero emissão até 2050 no mundo. “Há economia de 70% em relação ao veículo do mesmo porte a diesel”, afirma Fábio Miquelin, diretor de transportes da DHL Supply Chain Brasil.

Niterói, na Região Metropolitana do Rio, criou um corredor de ônibus elétrico financiado com recursos dos royalties do petróleo para percorrer a orla marítima do município, enquanto Volta Redonda, no Sul Fluminense, removeu estacionamentos de forma a abrir espaço a três ônibus elétricos para o transporte público de quatro bairros comerciais da cidade com passagem gratuita. Ônibus, compactadores de lixo e carros de entrega de mercadorias são da chinesa BYD.

“A maior perspectiva para os veículos elétricos está no mercado corporativo e na expectativa de que os governos renovem as frotas públicas”, diz Ricardo Guggisberg, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). “O desafio do Brasil é descarbonizar os transportes”, afirma a pesquisadora Tatiana Bruce, da FGV Energia, centro de estudos de energia da Fundação Getulio Vargas.

O lançamento do Rota2030, que estabelece as bases da política industrial do setor automotivo, pode ajudar na troca da matriz de transporte. O carro elétrico ganhou competitividade porque pagava 25% de IPI e agora será taxado de 7% a 21%. Os modelos à combustão vão continuar pagando por cilindrada. A estimativa é que a média para as montadoras de carros à gasolina ou diesel ou híbrido com etanol fique em 5% a 6%.

O mundo acelera para o veículo elétrico, mas o Brasil, dizem os especialistas, segue em marcha lenta. O estudo “Carros Elétricos”, publicado pela FGV Energia no ano passado, aponta que a frota mundial de carros elétricos para passageiros chegou a 2 milhões em 2016. Em 2030 talvez sejam 140 milhões – ou 10% da frota mundial. A Empresa de Pesquisa Energética estima que no Brasil, até 2026, seriam 520 mil – 1% da frota de veículos do país. Hoje, mal passam dos 300.

Os números inflados pelos híbridos apontam pouco mais de 7 mil, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), com possibilidade de chegar a 10 mil até o fim do ano caso se mantenha o aumento de quase 60% nas vendas registradas no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2017. “Políticas de incentivo são importantes”, diz Tatiana Bruce, da FGV Energia.

Nenhuma grande montadora confirmou ainda a intenção de abrir uma planta de carro elétrico no Brasil. A BYD tem fábrica em Campinas, que emprega 460 metalúrgicos e tem capacidade de montar 700 ônibus por ano. Também terminou o ano passado como maior vendedora de carros elétricos do Brasil. Já são 100 rodando o país. Trinta começaram a ser usados no mês passado pela Guarda Municipal de São José dos Campos. “O veículo elétrico é uma oportunidade de estabilização financeira para o setor público”, afirma Adalberto Maluf, diretor de novos negócios da BYD.

“O veículo elétrico custa muito caro, mas tem um ganho na operação: a conta de energia da casa do consumidor em que instalamos um carregador aumentou R$ 200, mas ele gastava mais de R$ 600 por mês de gasolina”, diz Danilo Leite, especialista em inovação da CPFL, líder no mercado de distribuição de energia, com mais de 7,5 milhões de clientes em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná.

A experiência corporativa é positiva. Itaipu Binacional, maior geradora de energia elétrica do país, desenvolve há mais de uma década um programa pioneiro de carros elétricos no país. Investiu até agora, na compra dos veículos, pesquisa e desenvolvimento, US$ 4,7 milhões. São 107 carros elétricos, além de outros 15 que vão chegar em outubro, que já percorreram 1,04 milhão de quilômetros. “Se toda a frota brasileira, que roda em média 670 bilhões de km/ano, fosse de veículos elétricos teria se evitado a emissão de 69,7 milhões de toneladas CO2. Para compensar isso só plantando 400 milhões de árvores por ano”, diz o engenheiro Celso Novais, coordenador brasileiro do programa Itaipu Veículos Elétricos.

Fonte: Valor Econômico – 30/08/2018

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