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Chinesa Cofco ganha terreno no mercado de açúcar e etanol

09 de Junho de 2020

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Enquanto boa parte do segmento sucroalcooleiro pena há anos para atravessar sucessivas crises, a Cofco International, braço de commodities da gigante chinesa Cofco, executa um plano “silencioso” de crescimento no Brasil baseado em investimentos em produtividade e, em menor medida, no avanço sobre lavouras de concorrentes. E a estratégia da companhia, que conta com quatro usinas no país, agora também está sendo reforçada com projetos mais robustos e tentativas de aquisições de ativos.

No início de abril, quando a chegada da pandemia da covid-19 no Brasil trazia nuvens carregadas ao horizonte das usinas, a multinacional fez uma proposta para comprar duas usinas do Grupo Moreno (em recuperação judicial) no interior paulista - uma em Monte Aprazível e outra em Planalto -, embora a venda das unidades não esteja prevista no plano apresentado.

A aquisição, porém, não é encarada como um passo fundamental na estratégia de expansão. “Nosso foco é crescer organicamente primeiro”, afirmou ao Valor Marcelo de Andrade, diretor geral de “soft” commodities da Cofco International, que neste ano deverá faturar R$ 30 bilhões no Brasil com produção e venda de commodities, incluindo grãos. A operação sucroalcooleira no país, também sob o comando do executivo, deverá responder por até R$ 6 bilhões desse montante.

Andrade preferiu não comentar a oferta feita ao Grupo Moreno. Mas descartou qualquer compra fora da região de atuação da Cofco no Brasil e ressaltou que a via do crescimento por aquisições nem sempre é a melhor.

“Não adianta ter um monte de usina e um monte de capacidade ociosa, sem ganhar dinheiro. É melhor crescer devagar, mas com resultados positivos”. Para ele, uma usina só é rentável se tiver capacidade instalada para moer “pelo menos” 4 milhões de toneladas de cana por temporada.

Nesta safra (2020/21), que começou em abril, a companhia espera processar 17 milhões de toneladas de cana - se confirmado, o volume representará um salto de 2 milhões de toneladas em um ano e de 5 milhões em cinco safras. A próxima pernada do plano da Cofco é chegar a 21 milhões de toneladas até 2024, o que a fará disputar um lugar entre os cinco maiores grupos sucroalcooleiros do país.

O aumento da moagem observado até agora foi possível com a combinação dos investimentos agrícolas aos industriais, que estão oscilando entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão por safra. A maior parte dos recursos é direcionada às lavouras, onde se concentra em alavancar a produtividade com manejo, tratos culturais e novas tecnologias - além das melhorias industriais. O investimento nas lavouras e em bens de capital deve ser mantido, mas estes devem agora priorizar projetos maiores, incluindo os que envolvem concentradores de vinhaça.

A média de produtividade dos canaviais que fornecem matéria-prima às quatro usinas do grupo está em 99 toneladas por hectare nesta safra - um rendimento pouco comum no segmento, já que a média nas usinas do Centro-Sul gira em torno de 75. Há oito anos, a produtividade média da Cofco era de 70 toneladas por hectare. “Fizemos o básico bem feito, com olho de dono”, disse.

Uma parte menor da oferta adicional de cana veio da expansão de áreas, tanto com novos plantios em terrenos próprios como com a conquista de fornecedores, que deixaram de entregar matéria-prima a usinas com dificuldades financeiras na região de atuação da Cofco.

O fortalecimento da estatal chinesa na produção sucroalcooleira no Brasil teve início como uma estratégia de garantir oferta segura de açúcar a seu país de origem. Mas a companhia também vê potencial de longo prazo para o etanol, sobretudo após algumas “lições” da crise. “A pandemia nos mostrou que a poluição nas grandes cidades caiu muito, e a culpa é da gasolina. As pessoas começaram a entender que usar combustíveis limpos vai dar uma contribuição maior. Isso pode abrir mais mercado ao etanol”, afirmou Andrade.

Nesta safra, porém, com a redução do consumo global de combustíveis por causa da pandemia, a Cofco maximizou sua produção açucareira. Com 70% da cana processada voltada ao açúcar, a produção desta safra deverá crescer 50%, para 1,5 milhão de toneladas. Para escoar esse volume e o de outras usinas das quais compra açúcar, a Cofco direcionou seu terminal no Porto de Santos para operar apenas com a commodity.

Mas mesmo esse bom momento do mercado de açúcar para o Brasil pode estar chegando ao fim. “O Brasil está produzindo 10 milhões de toneladas a mais e a Índia voltará a produzir 33 milhões. Vai ter muito açúcar no mundo de novo. O preço deve continuar baixo”, afirmou.

 

Fonte: Valor Econômico - 09/06 



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