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Com novo presidente, Anfavea quer se reaproximar do primeiro escalão de Brasília

24 de Abril de 2019

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A nova diretoria da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) tomou posse nesta terça-feira (24) e estabeleceu um discurso de reaproximação com o governo. O novo presidente da entidade é Luiz Carlos Moraes, que substitui Antonio Megale. A gestão compreende o período de 2019 a 2022.

Moraes é diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz no Brasil. Com longa experiência em negociações governamentais, chega com a missão de colocar a associação de montadoras novamente em contato com o primeiro escalão de Brasília.

Uma reunião com membros do governo está marcada para esta quarta (24).

Antes prestigiada, a associação das montadoras perdeu poder de negociação durante as gestões Dilma e Temer, justamente no momento em que a indústria automotiva passava por rápidas mudanças globais e o mercado nacional descia a ladeira tanto em produção como em vendas.

Em seu discurso de posse, Moraes afirmou que a entidade dá total apoio à reforma da Previdência e a outros pontos principais da agenda do chefe da Economia, Paulo Guedes.

“O primeiro passo é aprovar a reforma, não queremos mais ter um voo de galinha”, disse Moraes. “A Anfavea pode e vai contribuir com as reformas necessárias. Se nós fizermos a lição de casa, em três anos poderemos voltar a ter um mercado mais robusto.”

O distanciamento com o centro do poder foi um dos pontos que levaram a brigas internas na associação.

Diante de um governo que se mostra mais resistente a pedidos de setores específicos da indústria, a Anfavea tenta mostrar que tem mais a dizer do que apenas negociar os incentivos pontuais do passado.

Moraes foi a escolha que apaziguou os ânimos na Anfavea, que por pouco não teve duas chapas concorrendo à presidência. A diretoria que assume a entidade mistura integrantes dos grupos que antes eram antagônicos.

O primeiro vice-presidente será Fabrício Biondo, que é o chefe de comunicação e relações externas do grupo PSA Peugeot Citroën na América Latina.

O novo discurso inclui até a abertura de mercado, motivo de discórdia entre Anfavea e governo após o estabelecimento do livre comércio de veículos entre Brasil e México. A postura mais liberal da gestão Guedes foi um ponto elogiado por Moraes, embora com ressalvas.

“A Anfavea defende acordos comerciais e apoia o livre comércio, mas combatendo o custo Brasil. Ninguém aguenta mais tanto custo, tanto recurso desperdiçado. Não é só para a indústria, mas para toda a sociedade”, disse Moraes.

O executivo afirmou também que o setor industrial passa pela maior e mais impactante mudança da história, lembrando das metas de emissões e das mudanças tecnológicas que mexem com a percepção dos consumidores sobre veículos e mobilidade.

Tais mudanças implicam custos elevados, que têm tornado um setor altamente rentável no passado em algo de retorno mais lento e, por vezes, incerto.

“Esse novo mundo depende de um grande aporte de capital que não será possível às empresas fazerem sozinhas, o que leva à redução de custos e a parcerias. O Brasil tem o desafio de conciliar as mudanças mundiais com sua complexa realidade local. Nosso setor perdeu muito”, afirmou Moraes.

O novo presidente disse que as montadoras instaladas no Brasil só conseguiram manter as operações nos últimos anos porque as matrizes concederam empréstimos ou injetaram capital.

A situação atual, apesar do crescimento registrado em 2018 e no início de 2019, ainda é delicada, na avaliação da entidade. “É preciso ter consciência de que estamos muito abaixo dos resultados obtidos anteriormente”, afirmou Moraes. “Só temos uma alternativa, que é crescer e crescer.”

O novo presidente da Anfavea aproveitou para dar um recado aos governos estaduais. “É quase impossível convencer as matrizes [a conceder mais recursos] quando ainda temos créditos gerados nas exportações retidos, principalmente pelos estados. Temos bilhões a receber.”

Além da reaproximação com o governo, outra preocupação imediata da entidade é a questão do setor de transporte rodoviário, com ameaças de greve.

“Caminhoneiros têm sofrido muito nos últimos tempos. O governo está atento a algumas questões básicas, eles carregam o PIB do país. A questão diesel é relevante, representa 40% dos gastos. Uma greve não é algo bom para o país e deve ser evitada sempre”, disse Moraes.

Folha de São Paulo - 23/04/2019

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