Notícias

Comercialização direta de etanol gera divergência

21 de Junho de 2018

Notícias

A venda direta de etanol das usinas aos postos é vantajosa em uma análise regional, principalmente em São Paulo, onde tanto a produção quanto o consumo do combustível são elevados.

No entanto, em diversas regiões do país, a necessidade de investimentos para as usinas chegarem a pontos de venda seria muito alta e inviabilizaria a venda do etanol. A avaliação é do coordenador do Grupo Esalq-Log, José Vicente Caixeta Filho, sobre as propostas legislativas que querem permitir a venda direta aos postos.

Um estudo do coordenador técnico da EsalqLog, Thiago Guilherme Péra, divulgado no começo do mês, mostrou que a venda direta do etanol em São Paulo poderia reduzir os custos logísticos em 30%.

Mas Caixeta observa que São Paulo não é o retrato do país. "As usinas não têm logística suficiente para chegar aos milhares de postos espalhados pelo Brasil, não há infraestrutura para muitas regiões, como dutos, ferrovias e bitrens", diz.

Segundo ele, das 341 unidades produtoras de etanol em 292 municípios do país, 47% ficam em São Paulo, 17% em Goiás e 10% em Mato Grosso. O resto é residual.

Segundo ele, "a necessidade da cadeia de suprimentos do etanol ter o envolvimento efetivo do agente de distribuição é importante para o ganho de eficiência em escala nacional". Isso porque há fatores como gestão de estoques do etanol, eficiência na alocação da frota e economia de escala na contratação de fretes.

Além disso, diz, muitas distribuidoras têm instalações que se integram com canais de distribuição de outros combustíveis, possibilitando economias de escala no transporte.

Ele também observa que a dependência do transporte rodoviário mostrou-se preocupante recentemente, com a greve dos caminhoneiros. Assim, defende, o ideal seria o país investir em dutovias. Em 2017, foram movimentados cerca de 2 bilhões de litros de etanol nas dutovias, apenas 8% da produção total.

O sistema dutoviário para o transporte de etanol no Brasil está em operação desde 2013. A dutovia começa em Uberaba (MG), passa por Ribeirão Preto (SP), Paulínia (SP), Barueri (SP), Guarulhos (SP), Guararema (SP), Volta Redonda (RJ), Duque de Caxias (RJ) e termina em Ilha d'Agua (RJ).

Caixeta destaca que o modelo de distribuição de etanol vigente no país, que consiste na comercialização usina-distribuidora-posto, tem características importantes, como negociações em grandes volumes, otimização de fretes e relacionamento comercial.

Com um cenário de venda direta, admitindo-se que o consumo de cada município ficasse estável, cada usina deveria assumir o papel de distribuidora e atender 123 postos na média em 15 municípios diferentes, diz Caixeta.

Defensor da possibilidade de venda direta de etanol aos postos, Alexandre Lima, presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), diz que a medida também beneficiaria o Nordeste e estima uma redução de ao menos R$ 0,20 por litro no preço final do etanol hidratado na região.

Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar/PE, argumenta que a maior parte das usinas da região está próxima ao litoral, onde também está concentrado o consumo de combustíveis, o que reduziria o custo com frete para os postos.

Lima afirma ainda que a venda direta não necessariamente ocorreria em toda a safra. Na época de entressafra, o abastecimento da região poderia continuar a partir de Goiás e São Paulo, hoje os principais Estados fornecedores, diz.

Fonte: Valor Econômico - 21/06/2018

 

Veja também