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Congresso traz projetos inovadores com foco na agricultura canavieira

27 de Novembro de 2017

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Caminhões que acompanham o percurso de máquinas colhedoras sem que o motorista precise tocar no volante, cápsulas biodegradáveis que ajudam a controlar pragas do canavial, capacitação de trabalhadores feita a distância, identificação do grau de infestação de moscas no plantio com a ajuda da câmera de smartphones.

Esses são alguns exemplos de projetos em desenvolvimento ou lançados este ano que estão presentes no leque de novidades que aliam tecnologia e inovação para oferecer soluções para a agricultura canavieira. Eles integraram a programação do 10º Congresso Nacional da Bioenergia promovido pela UDOP (União dos Produtores de Bioenergia) em Araçatuba, que contou com a apresentação de equipamentos para o setor sucroenergético e startups com foco no campo.

Os projetos mostrados na quarta (22) e na quinta-feira (23) foram idealizados para trazer resultados para produção de cana e usinas como redução de prejuízos, eliminação sustentável de pragas e aprimoramento dos recursos humanos.

Demanda

A demanda do mercado para conter o desperdício e as perdas em produtividade com o pisoteio de soqueiras do canavial foi o que motivou a idealização de caminhão autônomo da Volvo, uma das novidades em exposição no evento. O veículo se enquadra no que é classificado como automação de nível dois pela SAE (Sociedade Americana de Engenharia Automotiva), já que o motorista dispensa o uso do pé para aceleração e freio, e o uso das mãos para operar a direção, explica o engenheiro de vendas da empresa Renan Schepanski.

"A gente pegou um veículo já desenhado para a aplicação canavieira e criou para ele um sistema de direção autônoma", afirma.

Além de um sistema que controla a direção e o posicionamento, o caminhão tem uma precisão na ordem de 2,5 centímetros que evita que pisoteie a soqueira. Os GPSs convencionais têm 10 metros de precisão.

O modelo, chamado VM Autônomo, tem capacidade para 32 toneladas de cana. "O motorista conduz o veículo até a linha de plantio; o sistema reconhece onde ele está, engata na linha de plantio baseado no mapa da colhedora, que o caminhão acompanha de forma precisa."

Depois de terminar a linha de plantio, o veículo desengata automaticamente do mapa e o operador pode voltar a conduzi-lo para a oficina ou realizar com ele o transbordo da matéria-prima colhida. "O motorista é tirado da condução durante a operação junto à colhedora", diz Schepanski.

Testes

Em testes realizados na usina Santa Teresinha, no interior do Paraná, foi possível verificar que o caminhão diminui em 100% os danos. O pisoteio impacta diretamente na produtividade, resultado em 20% de perda da produtividade, o que no final da linha se traduz em muito dinheiro. "Com o veículo, você tem também uma operação mais linear, com menos paradas, com acelerações mais constantes e, por isso, menos consumo de combustíveis, além de segurança."

O caminhão é desenvolvido há dois anos e está em fase de testes, com previsão de disponibilidade para o mercado nos próximos anos. De acordo com Schepanski, os níveis de automação vão de 1 a 5. Quando os veículos atingirem o último patamar de automação, irão dispensar a interferência humana na direção. "A gente enxerga que realmente a mão de obra do motorista tende a acabar, mas isso, como em diversas outras áreas onde houve automação, você tem uma qualificação da mão de obra e criação de outro tipo de mão de obra, que certamente recebe melhor que o motorista."

Propostas aliam modernidade ao combate contra pragas

A mosca-dos-estábulos causa à pecuária brasileira prejuízos estimados em mais de R$ 1 bilhão por ano, já que, ao picar animais, resultam em redução de produtividade e reprodução. Nos últimos anos, o aumento populacional do inseto que se alimenta de sangue está ligado em partes aos resíduos deixados pela agroindústria canavieira, nos quais ele se prolifera.

Outro projeto apresentado durante o congresso é uma ferramenta de monitoramento desenvolvida pela Cole Agro, incubada na Esalqtec, incubadora tecnológica da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo), de Piracicaba.

A empresa é derivada com viés agrícola da Colly Química, que oferece adesivos para controle de pragas urbanas. Segundo o diretor comercial da startup, Alexandre Rodrigues de Andrade, o produtor pode acompanhar o nível de infestação da mosca-dos-estábulos com o uso de uma cola de cor azul, desenvolvida para gerar atratividade visual específica para esse tipo de inseto.

O material é aplicado a uma placa e captura o animal. Com isso, é possível examinar se há um aumento grande da população que exija práticas para reverter o problema. "A ferramenta vai indicar que uma ação precisa ser feita, como limpeza do ambiente, uso de cal nas poças de vinhaça pelas usinas e remoção de matéria orgânica onde a mosca se desenvolve", destaca Andrade. "Há estudos que mostram que é possível ter uma redução de 80% a 90% na população do inseto só com boas práticas." A cola começou a se ser desenvolvida no meio de 2017. A intenção da empresa é lançar em janeiro um aplicativo por meio da qual o produtor pode tirar fotos da placa para fazer uma quantificação automática do número de moscas.

Cápsulas

Outra praga que afeta a agricultura é a broca da cana-de-açúcar, que causa estragos anuais de R$ 4 bilhões aos canaviais do País, segundo o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). Hoje, o problema é combatido por parte das usinas com a liberação de uma vespa chamada cotésia flavipes, inimiga natural da praga.

Contudo, desde os anos 1970, essa liberação é feita por meio da acomodação de copos de plásticos nos canaviais. "Não podemos criticar, mas, pensando em todos os avanços tecnológicos, ali não há muita eficiência envolvida em liberação", afirma a fundadora da startup Agribela, Gabriela Vieira Silva.

Para aumentar a qualidade da liberação da vespa nos canaviais e oferecer uma alternativa mais sustentável para o controle biológico de pragas, a empresa desenvolveu um cápsula biodegradável feita de celulosa ou bagaço de cana que possa ser transportada para o plantio por meio manual, por drones, aviões e helicópteros. As vespas nascem no interior do produto, do qual saem para fazer o controle biológico. "A cápsula tem orifícios para saída do parasitoide na parte superior. A parte inferior tem um centro de gravidade para que, se a cápsula for liberada por via aérea, os orifícios fiquem sempre virados para cima."

A ideia do projeto, chamado de Biodrop, surgiu entre 2015 e 2016. A startup está incubada na Intuel, incubadora de base tecnológica da UEL (Universidade Estadual de Londrina). A intenção é que o produto seja comercializado a partir de 2018.

Startup oferece capacitação on-line

Outra startup apresentada durante o evento é a Agrilearning, de Ribeirão Preto. Ativa desde o começo do ano, a empresa oferece a capacitação para trabalhadores do setor sucroenergético.

A iniciativa é constituída por cursos técnicos com duração de um a três meses. Entre eles estão a capacitação EAD (Ensino a Distância) voltada para posicionamento de herbicidas, tecnologia de aplicação, agricultura no ar com uso de drones, gestão agrícola e solos e ambientes de produção em cana-de-açúcar.

"Acho que a inovação e a interação de tecnologias são fundamentais para o setor sucroenergético, uma vez que ocorre uma transformação muito grande no setor, tanto na operação quanto na parte de capacitação e desenvolvimento humano", afirma a fundadora da startup, Renata Morelli. Na visão dela, a busca por capacitação de representantes do segmento agroindustrial resulta em um salto evolutivo para as empresas.

Otimizar

"Eu percebi no congresso mesmo que nós podemos otimizar os recursos, tanto humanos quanto os ativos fixos das usinas de forma a beneficiar o setor como um tudo, por meio da tecnologia e do trabalho das startups", diz Renata.

A empresa de capacitação on-line também trabalha o desenvolvimento emotivo e pessoal dos clientes, com cursos como coaching. Disponível desde maio de 2017, a empresa já tem mais de 680 profissionais de todo o Brasil participando dos cursos.

A TV Band fez a cobertura do 10º Congresso Nacional da Bioenergia, destacando o debate sobre o RenovaBio. A matéria foi exibida no jornal Band Cidade, da Band SP Interior, na edição de ontem (23).

Para conferir, clique AQUI.

(Fonte: Folha da Região/TV Band – 26/11/17)

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