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Constrangidos, ruralistas não conseguem reuniões com países europeus na COP-25

13 de Dezembro de 2019

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Se por um lado, no início do ano, o agronegócio defendeu que o Brasil permanecesse no Acordo de Paris, agora o setor é um dos que mais sofre constrangimentos na COP-25, conferência da ONU que busca regulamentar o acordo climático.

Parlamentares e representantes de associações do agronegócio contaram à Folha que as reações internacionais mostram uma preocupação central com o desmatamento, vinculado às exportações de madeira, soja, gado, e, mais recentemente, também de cana-de-açúcar.

Hoje visto como vilão, o agronegócio brasileiro já participou de edições anteriores das COPs do Clima como protagonista de soluções climáticas, quando o Brasil promovia a agenda dos biocombustíveis e do etanol, oferecidos como substitutos no curto prazo dos combustíveis fósseis.

‘Constrangimento’ é o termo mais usado nos bastidores para se referir às surpresas negativas que parlamentares e representantes de associações de produtores do agronegócio receberam durante as conversas na COP-25.

“Um objetivo nosso aqui é trabalhar nossa imagem no exterior, especialmente na Europa. Queremos mostrar a verdadeira atuação da agricultura brasileira”, disse à Folha o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG).

Questionado sobre as reuniões com os europeus, o deputado informou que a bancada não conseguiu realizar nenhuma reunião bilateral com outros países. Outros representantes do setor confirmaram a informação.

“É uma dificuldade que nós temos como parlamentares de fazer negociações”, justificou Zé Silva. Ele também disse que a MP da regularização fundiária refletiu nas conversas e foi citada nos eventos em que ele participou.

“Acho que a MP tem coisas positivas, como o georreferenciamento, mas como já é vista com críticas, isso influencia numa negociação, sim”, disse Zé Silva. Ele veio à COP-25 com mais dois deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária, Neri Geller (PP-RS) e Zé Vitor (PL-MG).

Já o deputado Zé Vitor comemorou as conversas informais que teve com delegações da Alemanha, Suíça e Croácia. “Temos que fazer alguns gestos em relação ao desmatamento, mas demonstramos que esse é um dos nossos principais objetivos”, disse à Folha.

Representantes do setor também relataram constrangimento ao saber que o Brasil não tinha um estande oficial no pavilhão da conferência em que os países promovem suas ações e eventos. Segundo um empresário do agronegócio, a imagem do país ‘encolheu’ na COP.

Por outro lado, os ambientalistas estão sendo procurados pelos países europeus para as reuniões bilaterais.

O deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, conta ter realizado bilaterais com parlamentares de dez países europeus, entre eles Suécia, Alemanha, Holanda e Espanha.

“Já havia recebido delegações europeias no meu gabinete em Brasília e as conversas continuam aqui”, diz. “O parlamento europeu precisa votar o acordo comercial com o Mercosul e está preocupado com as perspectivas no Brasil, então nos procuram para saber nossas impressões e como podemos evoluir na discussão”.

Segundo Agostinho, uma possibilidade considerada pelos europeus seria aprovar o acordo do Mercosul com cláusulas locais, em que os países poderiam adotar condições mais restritivas que as do acordo para suas importações.

Já ‘da porta para dentro’, o agronegócio tem ostentado sua bandeira sem se constranger. Uma bandeira do Brasil com os dizeres, em inglês, “produtores rurais brasileiros – o grande parceiro ambiental” foi colada de improviso, com fitas e adesivos, na parede interna do escritório brasileiro na conferência.

Ela permanece ali desde segunda-feira (9), quando foi ‘hasteada’ por representantes do agronegócio em reunião com o ministro Ricardo Salles, logo depois dele ter deixado o encontro inédito com as ONGs brasileiras.

Segundo interlocutores do agronegócio, os representantes do setor ficaram deslocados depois de ouvir mais críticas do que esperavam de outros países. Eles teriam mudado de estratégia nos últimos dias para buscar entender melhor o cenário, adotando uma postura de observador na COP.

Fonte:  Folha de São Paulo – 12/12

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