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Crescimento da energia renovável deve alterar o cenário geopolítico

17 de Maio de 2018

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A participação crescente das renováveis na matriz energética mundial pode alterar o cenário geopolítico. Esse efeito indireto da transição das economias para o baixo carbono é uma das vertentes do debate global que relaciona a mudança do clima às questões de segurança dos países.

Que impacto pode ter no Oriente Médio a decisão da Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo, de investir US$ 7 bilhões neste ano e remodelar sua matriz energética com sete grandes projetos de energia solar e um de eólica? "Sua influência na região, baseada no petróleo, continuará com as renováveis?", questiona o cientista político Alexander Carius, fundador do Adelphi, o mais importante centro de estudos alemão de segurança e clima.

"O que acontecerá se a Alemanha cumprir a meta de ser neutra em carbono em 2050 e reduzir sua dependência do petróleo e do gás da Rússia?", segue. Especialistas do Adelphi, think tank de 200 funcionários sediado em Berlim, estão preparando um relatório específico sobre a nova fase da geopolítica energética.

Carius vem ao Brasil participar do encontro internacional sobre clima e segurança" que acontece amanhã, no Rio. Promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e pela Embaixada da Alemanha, o evento reunirá 200 pessoas de dois grupos distintos - especialistas em clima e militares da Defesa.

"A mudança climática é um multiplicador de riscos com grande potencial de conflito. Basta pensarmos na escassez de água, segurança alimentar, desestabilização através de eventos climáticos extremos, migração ou perda territorial com a subida do nível das águas", diz o embaixador alemão Georg Witschel. "O objetivo do governo alemão é compreender esses riscos e impedir conflitos onde for possível. E onde não for possível, limitá-los ou lidar com eles."

A mudança do clima é considerada "a maior multiplicadora de ameaças: agrava situações frágeis e pode contribuir com violentas revoltas sociais e conflitos", diz um relatório feito a pedido dos países mais ricos do mundo, o G-7, por institutos como o Adelphi e o Wilson Center. O estudo procura avaliar os riscos globais climáticos e sugerir como construir resiliência.

Carius cita a crise na região do Lago Chade, na África, centro da atuação do grupo terrorista Boko Haram, e que desalojou 2,5 milhões de pessoas. "Mudança do clima é parte dessa equação. É preciso incluir esta vertente para entender a crise e suas fragilidades."

Ele diz que o Conselho de Segurança da ONU começa a considerar essa abordagem. "É analisar as condições ambientais dentro das regiões em crise. Ver se há comida, se há condições de produção agrícola, examinar o acesso à água".

Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores alemão, enfatizou em março na ONU, em Nova York, o papel que a proteção climática exerce sobre questões de segurança. A Alemanha, que se candidatou a uma das cadeiras rotativas do Conselho de Segurança da ONU para os próximos dois anos, tem este assunto como prioritário na agenda do Ministério das Relações Exteriores. Suécia e Holanda também estimulam essa pauta.

Carius lembra a dificuldade alemã, país rico com mais de 80 milhões de habitantes, de absorver os cerca de um milhão de refugiados que chegaram ao país há três anos. Em 2050, diz Carius, serão milhões de pessoas mudando-se do campo para as cidades por questões climáticas, de conflitos ou migrando para melhorar de vida. "As cidades não têm infraestrutura para absorver esse movimento. A mobilidade criará instabilidades. Temos que nos preparar para isso."

Carius lembra problemas climáticos que afetam a soberania. "Se o nível do mar subir e submergir um país-ilha, ele ainda será um país ou sumirá do mapa internacional?".

Fonte: Valor Econômico - 17/05/2018

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