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Dar garantia a crédito é mais eficaz do que subsidiar juros, diz presidente do BNDES

09 de Junho de 2020

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O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, afirmou nesta segunda (8) não ver eficácia em subsidiar juros de empréstimos emergenciais para enfrentar a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. Ele defendeu que o foco deve ser na oferta de garantias a empresas menores, que vêm tendo dificuldades para obter recursos.

O banco vem sendo criticado por oferecer condições de mercado em suas linhas emergenciais, deixando a definição dos juros finais nas mãos de instituições financeiras privadas. Na linha de capital de giro, uma das primeiras a entrar em vigor, a taxa média é de 11,61% ao ano.

Em entrevista, o banco consolidou medidas de uma terceira rodada de pacotes de socorro, algumas delas já anunciadas nos últimos dias. Entre os beneficiários, estão hospitais, usinas de cana, estados e municípios e pequenas e médias empresas. No total, são R$ 36,5 bilhões em recursos disponíveis.

"Existe liquidez para apoiar as empresas e vivemos um momento de juros baixos", afirmou Montezano, em entrevista para anunciar novos pacotes de crédito para empresas afetadas pela crise. "Então, a parte de subsídio em taxa básica de juros se mostraria pouco eficaz nesse momento."

Ele defendeu que não se deve comparar o cenário atual com períodos em que a taxa básica de juros superava os 10%. Agora, afirmou, o maior gargalo na busca por financiamento é a aversão ao risco, diante das incertezas sobre a sustentabilidade das empresas após a pandemia.

Por isso, diz o BNDES tem priorizado programas que reduzam o risco, como a criação do seguro com recursos do Tesouro para garantir financiamentos a pequenas e médias empresas. "A gente acha que é bem mais eficaz."

O programa foi anunciado na semana passada e vai contar com R$ 20 bilhões do Tesouro e potencial para alavancar até R$ 100 bilhões em empréstimos, segundo o BNDES. A primeira etapa, de R$ 5 bilhões, deve estar disponível no início de julho. Com ela, o banco espera destravar R$ 25 bilhões em crédito.

Os financiamentos serão negociados com bancos privados parceiros do BNDES, que são alvo de críticas pela rigidez na análise de risco e pelos juros cobrados. Na linha de capital de giro, por exemplo, há contratos com taxas superiores a 15% ao ano, caso de duas indústrias de pequeno porte no Nordeste.

Montezano alega que o acesso a crédito por pequenas e médias empresas no país é um problema estrutural, que se agravou durante a crise atual. Entre fevereiro e abril, disse ele, a oferta de dinheiro novo para grandes empresas cresceu cinco vezes mais do que os volumes oferecidos a empresas menores.

Enquanto no primeiro caso, o crédito contratado passou de R$ 902,4 bilhões para R$ 1 trilhão, no segundo subiu de R$ 541,6 bilhões para R$ 553 bilhões. "Se a gente observa as pequenas e médias, existe um crescimento não desprezível, mas ainda aquém do necessário", comentou o presidente do BNDES.

Além da oferta de garantia, o BNDES anunciou incluiu na terceira rodada de socorro uma linha de R$ 3 bilhões para financiar estocagem de etanol e outra de R$ 2 bilhões para pagamento de fornecedores, na qual grandes contratantes serão responsáveis por repassar o dinheiro, ambas anunciadas na semana passada.

Está ainda no pacote a suspensão de R$ 3,9 bilhões em financiamentos a estados e municípios, que é parte do programa de socorro do governo federal aos entes subnacionais. Prefeituras e governos estaduais que têm contratos com o BNDES poderão anda antecipar parcelas do financiamento.

Uma linha de R$ 2 bilhões foi criada para atender hospitais filantrópicos ou não filantrópicos que precisam liquidez para manter suas operações.

Até o momento, o BNDES já ofereceu R$ 138 bilhões ao mercado, tanto em operações de crédito direto e indireto como em suspensão de pagamentos de financiamentos concedidos antes da crise. Na entrevista, Montezano disse que se trata de um processo dinâmico e novas linhas podem surgir.

"Isso aqui é um aprendizado, é uma terra nova que a gente está caminhando", afirmou. "Essa jornada não se encerra hoje, possivelmente daqui a algumas semanas a gente virá aqui com novos esclarecimentos e/ou apresentando novas medidas."

O banco evitou maiores detalhes sobre os programas de socorro setoriais, em discussão com companhias aéreas e montadoras, por exemplo. Disse apenas que as negociações estão em andamento com empresas que têm interesse nos créditos.

No caso do setor aéreo, Gol, Azul e Latam negociam R$ 2 bilhões para cada, por meio de pacotes que incluem renda fixa e variável. No setor automotiva, as conversas já avançam com Fiat e GM e devem envolver R$ 4 bilhões para cada uma. Nos dois casos, a ajuda terá dinheiro do BNDES e de bancos privados.

 

Fonte: Folha de São Paulo - 08/06 

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