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“Devemos buscar o equilíbrio alimentar”, diz a nutricionista Marcia Daskal

18 de Setembro de 2017

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Menos açúcar. Menos sal. Menos gordura. Como um mantra, todos sabem que o excesso desses três ingredientes são os vilões de uma alimentação saudável. Sem controle, consumidos exageradamente podem prejudicar nosso organismo e causar doenças como a obesidade. Esse é o diagnóstico ignorado por muitos, que gostam de viver perigosamente, e questionado por outros, inclusive especialistas.

A redução na ingestão de açúcar, sal e gordura é uma constante luta. Embate entre governo e indústria, interpretações distintas no meio acadêmico, médico e especialistas em saúde. A população fica no meio, sem saber muito o que fazer e bombardeada de informações que, nem sempre, seguem a mesma linha. Por isso, o menor risco é comer com prudência, de forma equilibrada, educada e com escolhas sábias, nutritivas.

Marcia Daskal é nutricionista formada pela Universidade de São Paulo, mestre em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e especialista em nutrição e dietética (nutrição do adolescente) pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Para ela, o prazer que sentimos com alimentos de sabor adocicado é inato. Além de fornecer carboidratos e energia, eles adicionam sabor, deixando alguns alimentos mais apetitosos e satisfatórios. Sem abuso, o açúcar entra numa dieta equilibrada, assim como o sal e a gordura. Essa opinião é corroborada pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.

A nutricionista, que também é coach de saúde e bem-estar pela Wellcoaches/Carevolution, alerta que nada em excesso faz bem. “A alimentação do brasileiro deve buscar retornar a um padrão mais tradicional, com alimentos regionais. O que parece é que entramos numa era de exageros. Ora comendo impensadamente e em excesso, ora escolhendo vilões e heróis, alimentos bons e ruins. Nenhum dos dois é saudável. Devemos buscar o equilíbrio alimentar”, afirma.

Marcia Daskal lembra que “alimentos como manteiga e ovo e até a carne de porco já foram vilanizados antes, mas se descobriu que retirá-los da alimentação não provocou melhorias na saúde, e que culpá-los por problemas cardiovasculares se mostrou inútil e infundado. O açúcar, juntamente ao glúten e a lactose, são apenas os vilões da vez”.

No diagnóstico de Marcia Daskal, ninguém come ou deixa de comer por decreto. “Os poucos estudos existentes sobre a efetividade da taxação de alimentos indicam que taxar alimentos não resolve. As pessoas continuam comprando. É mais uma questão de 'fazer barulho' do que de efetividade na redução do consumo.

O açúcar em pequenas quantidades é uma fonte de prazer, que geralmente aparece em contextos sociais positivos, como confraternizações e encontros com familiares e amigos. Assim, para ter uma alimentação saudável, podemos pensar na reeducação alimentar e não na exclusão de um único alimento. Isso é feito tendo uma alimentação variada e evitando o exagero de qualquer alimento. Bom senso e equilíbrio são a chave quando o assunto é alimentação.”

Educação alimentar

Para o médico Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Instituto Dante Pazzanese, a redução ou taxação do açúcar não são decisivas. “É um fato a necessidade de reduzir o consumo de açúcar, assim como outros nutrientes em excesso. Para isso, o brasileiro precisa mudar os hábitos alimentares, o que não se dá com imediatismo. A educação nutricional é o caminho. Existe um problema na falta de conhecimento sobre escolhas conscientes e de um estilo de vida saudável como um todo, contemplando a prática de atividades físicas.”

Daniel Magnoni avisa que o aumento de peso está relacionado, principalmente, aos hábitos decorrentes da vida moderna, que são a má alimentação e o sedentarismo, e não a um ingrediente específico. “O problema é profundo e as autoridades e profissionais de saúde devem entender que ações de educação não ocorrem da noite para o dia. A população hoje caminha na direção contrária de uma vida saudável e isso é muito sério.”

A pesquisa “Consumo Equilibrado: Uma nova percepção sobre o açúcar”, feita com 1,2 mil pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, que nunca haviam passado por uma consulta com nutricionista, mostrou que 73% das pessoas que consomem açúcar e praticam atividade física estão com peso adequado. “O açúcar não é a causa da obesidade. É necessário o controle do consumo de uma maneira geral. Achar que esse é o problema é fechar os olhos para a saúde pública no Brasil”, acredita.

Palavra de especialista: Marcio Atalla

Mudança no cotidiano

 “O combate à obesidade não deve ter como foco principal a mudança da alimentação. Claro que ela é importante, e melhorar esses parâmetros estabelecidos é importante para melhorar a qualidade da alimentação. Mas a quantidade é fundamental. É preciso educar, dar conhecimento para a população incorporar as mudanças no cotidiano. Isso não é feito no Brasil.

É importante lembrar que de 2006 até 2016 todas essas metas – aumentar consumo de frutas, legumes e verduras, diminuir consumo de açúcar, sal, gordura e diminuição no consumo de refrigerante e sucos artificiais – foram alcançadas no Brasil, porém a obesidade cresceu 60% nesse período. Muito importante repercutir esse dado, porque mostra que o controle da obesidade passa necessariamente, e digo até prioritariamente, pelo combate ao sedentarismo. Pessoas que gastam mais energia, se movimentam mais, têm mais liberdade na hora de se alimentar.

Uma boa dica de alimentação é variar bastante os alimentos, tendo uma alimentação bem colorida, assim tendo muitos nutrientes. Privilegiar comida de verdade, como arroz, feijão, frutas, legumes, ovos, carnes, leite etc. Claro que alimentos industrializados vão fazer parte da alimentação, mas tentar manter uma relação de 70% a 80% de alimentos de verdade e 20% a 30% de alimentos mais industrializados. Mas movimento sempre, só assim seremos saudáveis e vamos combater a obesidade.”

(Fonte: Estado de Minas – 17/09/17)

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