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Distribuidoras preparam entrada no setor de refino

20 de Dezembro de 2019

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Pesos-pesados em distribuição de combustíveis no País, os grupos Ultra, dono da rede de postos Ipiranga, e a Raízen, joint venture entre Cosan e a gigante Shell, vão verticalizar suas operações, entrando em todas as etapas do processo – desde o refino até a venda final ao consumidor –, se conseguirem efetivar a compra de refinarias colocadas à venda pela Petrobrás.

A intenção da Ultrapar, ao formar uma consórcio com a petroleira britânica BP, é fortalecer sua estrutura de capital e poder competir em pé de igualdade com os grandes competidores estrangeiros. “Para entrar na disputa para valer, o Ultra precisará ter alguém com capacidade para dividir o cheque”, diz uma fonte.

No terceiro trimestre, o grupo brasileiro encerrou o período com dívida de R$ 8,6 bilhões, o que representou 2,7 vezes o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). A BP é a maior petroleira da Grã-Bretanha. O Ultra teria tentado também se aproximar de outras grandes petroleiras, como a americana Exxon, mas as conversas não foram adiante.

De acordo com fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, o interesse do Ultra é conquistar pelo menos uma das quatro grandes refinarias de um total de oito ativos de refino à venda – a Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco; a Gabriel Passos (Regap), em Betim; a Getúlio Vargas (Repar); e a Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas.

O grupo Cosan, que já atua em refino na Argentina, também busca um operador para atuar no Brasil. A Raízen não será controladora do negócio. Uma fonte a par do assunto afirmou que a empresa busca formar um consórcio para que possa fazer a gestão desse negócio.

Tradings suíças e americanas são apontadas como potenciais operadoras que podem se unir a grupos estrangeiros e nacionais para atuar em refino no Brasil.

“O refino no Brasil é um excelente negócio. Para as distribuidoras de combustíveis Ultra e Raízen, que também são importadoras de derivados de petróleo, entrar neste setor faz todo o sentido”, avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Pires lembra que Ultra e Raízen têm sido grandes importadoras de derivados de petróleo de 2016 para cá. “A diferença de frete de exportação de óleo cru e importação de derivados pode ser colocada na margem dessas empresas”, afirma.

A quebra no monopólio de refino da Petrobrás vai criar um novo mercado no setor.

Riscos

Analistas de mercado observam, contudo, que os investidores têm receio de uma eventual intervenção do governo na política de preços, o que pode limitar os ganhos.

“Não é trivial pensar que não há risco, mas a pergunta é quão liberal o Estado brasileiro será em relação ao preço dos combustíveis”, diz Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos.

Em abril, as ações da Petrobrás despencaram depois que o presidente Jair Bolsonaro pediu para suspender o aumento no diesel.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que existe um ceticismo no setor de óleo e gás por investidores estrangeiros que precisa ser quebrado ao firmar contratos de longo prazo no Brasil. “Isso ficou muito claro nos leilões de excedentes do pré-sal. Os gringos ficaram de fora, existe um compasso de espera”, diz ele, lembrando das dúvidas sobre regulação e a política de preços.

Fonte: O Estado de São Paulo - 20/12

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