04 de Dezembro de 2019
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A Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, que reúne mais de 200 membros do setor produtivo, da academia e da sociedade civil, perdeu seis entidades-chave do agronegócio brasileiro como a Sociedade Rural Brasileira (SRB), a Associação Brasileira Indústrias Óleos Vegetais (Abiove) e União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Segundo André Guimarães, um dos facilitadores da coalizão e diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a saída foi definida nesta segunda-feira em reunião do conselho da Coalizão, e a explicação dada pelas entidades é que elas veem "assimetrias" entre a forma como elas agem e como a Coalizão age.
"Vejo isso como um reflexo da polarização que está do lado de fora. A Coalizão influencia a sociedade, mas também é influenciada por ela", disse Guimarães no início da tarde desta terça-feira em plenária da Coalizão. Ele afirmou,
Conforme o Estado apurou com ao menos duas pessoas, porém, a saída das entidades teria ocorrido para atender a um pedido feito pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, insatisfeito com o posicionamento da Coalizão, que chegou a fazer neste ano algumas manifestações duras sobre como o aumento das queimadas e do desmatamento da Amazônia prejudica a imagem do agronegócio.
Salles já foi diretor da SRB e recebeu apoio da entidade quando foi indicado ao ministério. Ao Estado, ele não confirmou nem negou a ligação com a saída das representantes do agro. "Eu comentei a incoerência da Coalizão se dizer representante do agro e ao mesmo tempo esforçar-se para falar mal do agronegócio brasileiro no exterior", disse.
Quando questionado sobre exemplos disso, respondeu: "Basta entrar no site do Observatório do Clima. Lá tem inúmeros exemplos".
O Observatório do Clima, rede de ONGs ambientalistas, é um dos membros da Coalizão e tem posicionamentos próprios e independentes. A reportagem pontuou isso para o ministro, mas não obteve mais respostas dele. Salles está em Madri chefiando a delegação brasileira na Conferência do Clima da ONU.
A SRB, a Abiove e a Unica foram procuradas pela reportagem, mas não se manifestaram até a publicação deste texto.
Guimarães afirmou que a Coalizão continua funcionando normalmente e que encara as saídas de modo natural. "Alguns saem, outros entram. A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) aderiu, a Marfrig também. A JBS está voltando. Mas o mais importante de tudo é que a Coalizão hoje é imprescindível", disse.
Luiz Cornacchioni, outro cofacilitador da Coalizão e diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) -- que também representa várias entidades do setor -- disse que elas continuam a bordo da estratégia de tentar promover consensos.
"Não temos medo de protagonismo. E essa é a casa do protagonismo, do exercício de consensos. Parte gigante do agronegócio está com a gente. Nossa função é manter as pontes em pé e nosso intuito é construir um país sustentável", complementou Marcello Brito, presidente da Abag.
Brito e Guimarães têm publicado vários artigos na mídia ecoando a campanha "Seja Legal com a Amazônia", lançada pela Coalizão neste ano. Há duas semanas, quando foram divulgados os dados que mostraram alta de 29,5% no desmatamento da Amazônia entre agosto do ano passado e julho deste ano, eles escreveram no Estado: "A destruição ambiental não interessa à sociedade. É importante deixar claro que o setor produtivo, a academia e as organizações ambientais estão juntos na certeza de que a região precisa de segurança e respeito às leis."
Contratempos
A Coalizão nasceu em 2015, às vésperas da Conferência do Clima que estabeleceu o Acordo de Paris para o combate às mudanças climáticas. Seguindo uma onda de relativo equilíbrio que reinava naquela época entre as forças do agronegócio e o movimento ambientalista -- o que permitiu que o País estabelecesse metas de redução de emissões de gases de efeito estufa nos vários setores da sociedade -- o grupo foi criado para promover o diálogo.
Logo ficou claro que chegar a consensos não era tão simples assim e houve rumores de que o grupo poderia ser desfeito. Ambientalistas pediam posicionamentos mais duros e entidades do agro recuavam.
Mesmo assim, o grupo chegou a fazer manifestações importantes pedindo o cumprimento do Código Florestal, a manutenção do zoneamento da cana-de-açúcar, que impedia o plantio da cultura na Amazônia, e a moratória da soja. Neste ano, lançou a campanha Seja Legal com a Amazônia, de combate à ilegalidade na região e o "roubo de terras públicas".
Fonte: O Estado de S. Paulo - 04/12
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