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Entrevista/Udop - Um governo mais técnico para o setor de bioenergia

14 de Fevereiro de 2019

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Amaury Pekelman é presidente da UDOP, economista, tem 52 anos, dois filhos e atua como vice-presidente de Relações Institucionais da Atvos. Possui ampla experiência em Assuntos Institucionais e Comunicação com mais de 20 anos de proficiência em marketing, relações com a comunidade, relações públicas e gestão de eventos corporativos, já tendo trabalhado para empresas de mídia, agroindústria e mineração.

Canal: O que esperar do novo governo? Como ele deve impactar na geração de energia renovável?

Amaury: Acreditamos que este novo governo, com perfil bem mais técnico, possa construir um alicerce mais forte para a bioenergia.

Para isso temos que ter oportunidades de diálogo com o primeiro escalão do governo para efetivamente mostrarmos a importância do setor na geração de empregos, nas questões que envolvem o meio ambiente e o papel da bioenergia na mitigação da emissão de gases de efeito estufa, no desenvolvimento social no interior do Brasil, na geração e distribuição de energia limpa (bioeletricidade), dentre outras pautas.

Canal: Quais as principais medidas de incentivo esperadas para o próximo ano?

Amaury: Política nacional de biocombustíveis (Renovabio): O setor propõe a efetiva e célere regulamentação do RenovaBio, conforme cronograma de ações já pré-estabelecido, de forma a garantir a plena operacionalização do programa na safra de 2020, como forma de garantir o adequado planejamento dos investimentos privados e adequação do setor público a este que deverá ser o mais importante programa de descarbonização dos transportes no mundo.

Precificação dos combustíveis fósseis e competitividade do etanol: O setor entende que qualquer mecanismo que venha a ser estabelecido deve manter uma relação direta entre os valores dos derivados praticados no mercado doméstico e àqueles observados no mercado internacional, convertidos em Reais a partir da taxa de câmbio vigente. A definição de regra clara, transparente e estável para o preço dos derivados é fundamental para que se evitem medidas equivocadas ou regras de precificação focadas em problemas não concernentes ao segmento de combustíveis.

Manutenção de diferenciação tributária entre o combustível renovável e seu substituto fóssil:

Nossa proposta é a de garantir a manutenção da competitividade atual do etanol, importante mecanismo de valorização das externalidades positivas do biocombustível comparativamente à gasolina.

Bioeletricidade: Para se reduzir este hiato entre a geração efetiva de bioeletricidade e seu potencial, é importante estabelecer-se uma política setorial estimulante e de longo prazo para a bioeletricidade, com diretrizes claras e de continuidade, buscando garantir o pleno uso eficiente deste recurso energético renovável na matriz de energia do país. Tal política setorial deve primar por diretrizes básicas envolvendo o esforço conjunto de agentes públicos e privados.

Barreiras e oportunidades para açúcar e etanol de cana no mercado internacional: Espera-se que o governo brasileiro possa atuar na esfera política e, quando necessário, no âmbito do órgão de solução de controvérsias da OMC em relação a diversos países, tais como, China (salvaguardas), Índia (subsídios à exportação) e outros, que atualmente adotam políticas questionáveis sob a ótica das regras internacionais.

Sendo também o maior produtor de etanol de cana do mundo, o Brasil deve buscar oportunidades de abertura de mercado para este produto. O objetivo é promover maior cooperação e comércio via programas de incentivo ao uso de biocombustíveis e energias renováveis em diversos mercados como Estados Unidos, em especial Califórnia, União Europeia, Japão e China.

Ainda enfrentamos barreiras tarifárias, regulatórias e de imagem que dificultam as exportações. Por isso, o apoio do governo brasileiro para reforçar os benefícios e a sustentabilidade do etanol de cana nos potenciais mercados é fundamental.

Canal: Como o setor deve se desenvolver a partir do ano que vem, tendo em vista os últimos resultados?

Amaury: Na UDOP temos defendido com bastante veemência o desafio de aumentarmos nossa competitividade com ganho de produtividade de litros de etanol por hectare. Hoje temos uma média de 5 a 6 mil litros de etanol produzidos por hectare de cana, mas defendemos a meta de atingir de 10 a 12 mil litros por hectare, o que reduziria consideravelmente nossos custos de produção e ainda teríamos um retorno muito maior, podendo reinvestir este capital em P&D.

A aproximação do setor com entidades de fomento em pesquisas como a Fapesp, Universidades, a Embrapa, dentre outros, é de suma importância para que, num trabalho conjunto, aliado à capacitação profissional das pessoas que trabalham neste setor, outro ponto que a UDOP tem defendido e saído na frente, possamos avançar em nossos desafios.

Canal: Como avalia o desenvolvimento do setor em 2018? Os resultados estão dentro das projeções?

Amaury: 2018 foi um ano difícil para o setor, a exemplo de algumas safras anteriores. Tivemos em algumas regiões do Centro-Sul uma seca histórica com até 150 dias sem precipitação, o que comprometeu o desenvolvimento da cana que foi colhida neste ano, gerando uma quebra em algumas usinas de até 10%, e ainda com consequências na soqueira que colheremos na próxima temporada.

Por outro lado, tivemos preços um pouco mais compensadores para o etanol, o que fez com que o setor mudasse o mix de produção para o biocombustível em detrimento da produção de açúcar, que teve em 2018 preços muito abaixo da média, consequência, também, de uma concorrência desleal de alguns países que subsidiaram seus produtores locais, encharcando o mercado com açúcar e derrubando os preços.

De todas a forma, estamos esperançosos agora que com a mudança de governo possamos respirar novos ares na economia e que o setor possa sair fortalecido de mais esta crise.

Canal – Jornal da Bioenergia - 06/02/2019

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