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Estoques de etanol inflados podem fazer as usinas retomarem produção de açúcar

09 de Julho de 2018

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O consumo de etanol não está acompanhando o aumento rápido da produção, em parte por conta da recente greve dos caminhoneiros que deixou os estoques 76% mais altos do que no ano anterior.

Com o aumento das reservas, os preços do etanol nas usinas de São Paulo caíram 13% no mês passado, aproximando-se do valor do açúcar e alimentando especulações de que as usinas da região podem produzir mais adoçante do que o esperado.

O maior excesso de açúcar já registrado e a previsão de superávit para a próxima temporada ajudaram a reduzir os preços futuros negociados em Nova York para cerca de 25% neste ano. Isso fez o adoçante ter o pior desempenho entre 22 matérias-primas no Bloomberg Commodity Index e estimulou as usinas brasileiras a tentarem maximizar sua produção de etanol. Mas isso pode começar a mudar.

“Os preços estão caindo, os estoques de etanol estão aumentando. A demanda é forte, mas provavelmente não o suficiente para limpar os estoques”, disse o diretor da australiana Green Pool Commodity Specialists, Tom McNeill. "Essa suposição geral da produção maximizada de etanol como uma certeza absoluta pode ser desafiada dentro dos próximos três meses".

Os estoques de etanol no Centro-Sul ficaram em cerca de 4,7 bilhões de litros até 15 de junho, ajudando a sustentar os preços do combustível entregue em Paulínia para R$ 1,537 por litro, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, o real mais fraco em relação ao dólar está aumentando a atração para as exportações de açúcar, que, ao contrário do etanol, são negociadas na moeda norte-americana.

"Se combinarmos essa tendência com as preocupações de que o novo governo brasileiro pode reverter o controle estatal ou criar um teto para os preços domésticos da gasolina, tornando o etanol menos competitivo nas bombas, isso não será bom para o açúcar", disse Nick Penney, um trader da corretora Sucden Financial, em Londres. "Os usineiros podem aumentar a produção de açúcar no decorrer da safra de cana e exportar pelos preços em dólar”.

Prêmio do açúcar                                                          

Mudar o mix de produção de volta para o açúcar somente acontecerá se o adoçante ganhar um prêmio de pelo menos 0,5 centavos de dólar por libra-peso em relação ao etanol, segundo o diretor de açúcar e etanol da INTL FCStone, Bruno Lima.

De acordo com ele, os produtores geralmente não trocam a estratégia quando ambas as commodities estão em paridade porque as vendas de etanol são pagas imediatamente, enquanto o açúcar leva mais tempo.

Os estoques de etanol começarão a voltar aos níveis normais no final da temporada, já que uma safra de cana menor significa que a colheita terminará mais cedo, de acordo com o diretor da trading Bioagencia, Tarcilo Rodrigues. "Enquanto a produção está em ritmo acelerado, a falta de cana significa que os produtores provavelmente fecharão a temporada cerca de um ano e meio antes do normal”, afirma.

"Os estoques de etanol devem continuar expandindo até outubro. Depois disso, eles começarão a se ajustar, já que o período de entressafra será mais longo”, conclui.

Uma mudança no mix brasileiro que favoreça a produção de açúcar iria piorar a situação global. A Índia, segunda maior produtora, deve produzir quantidades recordes de açúcar neste ano e no próximo. A Tailândia, segundo maior exportador mundial, colheu uma safra recorde nesta temporada. Na União Europeia, a liberalização do mercado também impulsionou a produção.

"Em última análise, o Brasil pode acabar produzindo mais açúcar do que algumas pessoas esperam, simplesmente porque o mercado o recompensa por isso", disse McNeill.

Fonte: Bloomberg/Nova Cana – 06/07/2018

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