Notícias

Etanol é energia limpa e descentralizada

17 de Dezembro de 2019

Notícias

Por Plinio Nastari, presidente da DATAGRO e Representante da Sociedade Civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética, 17/12

Extraído do Portal UDOP

Os dois maiores desafios da humanidade são o aquecimento global e a crise do emprego. Para resolver estes dois problemas despontam os biocombustíveis como estratégia replicável e escalável a nível global. Até pouco tempo atrás, organismos internacionais não davam muita atenção ao papel que a bioenergia poderia representar para o futuro da energia e do meio ambiente, mas isso mudou.

Na COP-23 de Bonn, em novembro de 2017, 19 nações representando mais de 50% da população do planeta, incluindo India, China, vários países europeus e o Brasil, emitiram uma histórica Declaração de Visão endossada pela Agência Internacional de Energia (AIE), organismo da OCDE sediado em Paris, e pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), sediada em Abu Dhabi.

A visão indica que, para que se limite o aquecimento global a 2 graus Celsius até 2050, é mandatório que até 2030 dobre a proporção da bioenergia no consumo global de energia, e triplique a proporção dos biocombustíveis sustentáveis no consumo de energia para transportes. Além disso, aumentar a escala da bioenergia é possível usando práticas sustentáveis, e utilizando o potencial de expansão de produção com a adoção de políticas apropriadas.

No momento em que o mundo assiste, em choque e angústia, aos ataques por drones às instalações de refino de petróleo na Arábia Saudita, cresce a importância da produção de energia, não apenas limpa e geradora de emprego, mas segura e complementar aos combustíveis tradicionais por ser produzida de forma descentralizada.

O Brasil se transformou na indiscutivelmente reconhecida referência internacional na utilização de combustível líquido limpo e renovável. O etanol utilizado em mistura com a gasolina, e puro pela frota flex, nos primeiros sete meses de 2019 substituiu 45,7% de toda a gasolina consumida.

Entre 1976 e 2018, foram substituídos o uso e a importação de mais de 3 bilhões de barris de gasolina, um marco significativo para o Brasil que possui reservas provadas de petróleo e compensados de 12,6 bilhões de barris, incluindo o pré-sal. O valor econômico da gasolina substituída, calculado pela DATAGRO, equivale a mais de 506 bilhões de dólares constantes de dezembro de 2018, incluindo de forma conservadora o impacto da dívida externa evitada, valor muito superior às nossas reservas totais de divisas de 386 bilhões de dólares.

Neste período foi incorporado contingente expressivo de mão-de-obra, absorvida por empregos gerados de forma descentralizada no interior, reduzindo de forma expressiva investimentos públicos em infraestrutura nos grandes centros, e a pressão sobre os cofres públicos. Ao longo de todo esse período ficou comprovado o impacto positivo do emprego relacionado à produção de cana-de-açúcar no IDH dos municípios onde a atividade se instalou.

Em termos ambientais, o fato do etanol de cana ser praticamente neutro em emissões de gases causadores do efeito estufa, transformou-o numa das fontes de energia mais limpas para alimentar a mobilidade eficiente do ponto de vista energético e ambiental.

Por sua elevada octanagem de 116 AKI, comparado à média da gasolina de 87 AKI, com o uso de etanol em mistura na gasolina o Brasil foi pioneiro mundial na eliminação do venenoso chumbo tetra-etila, anteriormente utilizado como aditivo elevador de octanagem, causador do saturnismo e de contaminação cerebral que afeta principalmente as crianças.

O etanol tem substituído compostos aromáticos cancerígenos contidos na gasolina, reduzindo também emissões de material particulado e outros compostos nocivos à saúde como o monóxido de carbono, formaldeídos, e compostos orgânicos voláteis geradores de smog fotoquímico. Enquanto a gasolina emite formaldeídos, que são próximos do formol utilizado para conservar cadáveres, o etanol emite acetaldeídos, que são primos do nosso velho conhecido vinagre. Por conta do uso de biocombustíveis nossas grandes cidades não tem a mesma poluição do ar que metrópoles como Pequim, Deli e Cidade do México.

Com o RenovaBio, o Plano Nacional de Biocombustíveis, desenvolvido no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética, e aprovado pelo Congresso brasileiro em 2017 por larga maioria parlamentar, sem subsídios ou novo imposto sobre carbono foi criado um mecanismo de certificação que irá incentivar eficiência energética-ambiental, e terá como resultado redução de preço dos biocombustíveis ao consumidor, levando a uma precificação do carbono pelo mercado, e não pela caneta de um burocrata de governo.

As metas de descarbonização aprovadas pelo CNPE devem levar a uma redução acumulada de emissão de 686 milhões de toneladas de CO2e até 2029, o que corresponde a mais de um ano de emissões totais de carbono da França. O RenovaBio vem sendo regulamentado em etapas sucessivas por decretos e resoluções do CNPE e da ANP, cumprindo rigorosamente todos os seus prazos legais.

Com o etanol, o Brasil tem uma opção tecnológica de mobilidade muito superior à que vários outros países tem perseguindo, ao pretenderem substituir motores de combustão interna por outras motorizações que não utilizam fontes limpas e de baixa pegada de carbono, numa falsa ilusão de que desta maneira estão gerando emissão zero.

É por esse motivo que dirigentes de montadoras europeias tem alertado que até os atuais carros movidos a diesel são mais limpos do que outras opções tecnológicas que, embora estimuladas por enormes subsídios, pouco interesse tem capturado nos consumidores. A Universidade de Munique aponta que carros elétricos a bateria que circulam na Alemanha estão emitindo 141 gramas de CO2 equivalente por km.

Enquanto isso, a emissão de gases do efeito estufa dos atuais veículos equipados com motores de combustão interna utilizando etanol, mesmo não estando ainda otimizados, é de apenas 58 gramas de CO2 equivalente por km. E graças a novas tecnologias a serem em breve implantadas como resultado da Lei do Rota2030 aprovada em 2018, estamos indo na direção de 39 gCO2/km.

Estamos, também, indo na direção da eletrificação com biocombustíveis com o novo híbrido flex a etanol lançado em setembro no Brasil, já considerado o carro mais limpo do planeta, pois emite apenas 29 gramas por km. Usados de forma associada, os biocombustíveis representam uma estratégia que vai dar longevidade e sustentabilidade para a utilização de nossas extraordinárias reservas de petróleo e condensados.

Veja também