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Etanol e frota flex são ativos estratégicos, defende diretor da FCA

29 de Junho de 2017

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Embora tenha importância inegável para o desenvolvimento da indústria automotiva nacional nos últimos 40 anos, o etanol sempre foi tratado como combustível complementar, pouco contemplado no desenvolvimento original dos veículos como solução estratégica para redução de emissões.

Para João Irineu Medeiros, diretor de assuntos regulatórios e compliance da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), essa realidade tem boa chance de mudar agora, diante das discussões da nova política industrial para o setor, conhecida até agora como Rota 2030, e das obrigações assumidas pelo Brasil na Conferência do Clima de Paris, a COP 21, de reduzir as emissões de CO2 em 43% até 2030 em relação aos níveis de 2005.

“Pela primeira vez em 40 anos as cadeias de produção de veículos e de agroenergia convergem esforços para o desenvolvimento tecnológico de soluções conjuntas, políticas e normas de longo prazo para aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões de CO2. Este é um fato novo e importante, que pode ser decisivo para o Brasil alcançar as metas de redução de emissões de CO2 assumidas internacionalmente”, afirmou o engenheiro na terça-feira, durante o Ethanol Summit.

João Irineu defendeu a vantagem ambiental do etanol como estratégia inteligente e viável para atingir as metas pactuadas pelo Brasil na COP 21. Para isso será necessário elevar a participação do biocombustível na matriz energética brasileira veicular dos atuais 30% para 50%, o que significaria ampliar a produção dos atuais 28 bilhões de litros por ano para a faixa de 50 bilhões de litros.

 Isso porque, além de emitir menos gases poluentes e material particulado na comparação com os combustíveis fósseis, todo o CO2 gerado na queima do etanol é reabsorvido pelas próprias plantações de cana-de-açúcar. “Os biocombustíveis e a frota brasileira de veículos flexfuel têm papel decisivo na estratégia de redução do CO2”, disse.

O diretor da FCA lembrou que o programa Rota 2030 deverá contemplar os biocombustíveis, em especial o etanol, dentro de novas metas de eficiência energética e redução de emissões. Atualmente o governo debate a nova política industrial automotiva com os representantes da indústria automotiva e da cadeia da mobilidade, que inclui fabricantes de veículos, de autopeças e produtores de combustíveis, entre outros.

Ativo estratégico

“O Brasil tem quatro décadas de acúmulo de tecnologia na produção do etanol combustível e de veículos que o utilizam. Intensificar a opção pelo etanol é uma decisão inteligente, que leva em conta a imensa plataforma produtiva, logística e de distribuição já implantada no país”, destacou o executivo.

 “Nenhum outro país tem um ativo dessa importância e magnitude. Temos de tirar disso as vantagens comparativas na busca por mobilidade com menos carbono e de um balanço mais favorável de emissões. Temos de investir tempo, dinheiro e inteligência nisso”, afirmou.

João Irineu sugere a formulação de uma agenda estratégica compartilhada entre governo, empresas, universidades e sociedade para aperfeiçoar o biocombustível e os veículos que fazem uso dele.

Ele entende que esse planejamento passa pela definição de formas competitivas de financiamento de pesquisa e desenvolvimento, organização do mercado de combustíveis e estímulo ao uso de tecnologias, por meio de novos marcos regulatórios.

Nesse caminho para o futuro do etanol, a cadeia da agroenergia deve focar em produzir combustíveis de modo mais eficiente, com oferta estável e previsível, além de dar passos adiante com o desenvolvimento de novas fontes, como o etanol de segunda geração, que pode ser extraído de diversos materiais orgânicos, especialmente subprodutos como bagaço e palha da cana, por exemplo. Ao mesmo tempo, a indústria automotiva deve trabalhar mais para desenvolver motores e veículos de maior eficiência energética quando rodam com biocombustíveis.

Um dos trabalhos a serem feitos pela cadeia de biocombustível, como sublinhou João Irineu, é melhorar a especificação do etanol hidratado, reduzindo o conteúdo de água de 7,5% para 2% – o que por si só já eleva a eficiência energética do combustível e reduz seu consumo. Outros desafios são aprimorar a qualidade da partida a frio e a resistência à oxidação dos componentes.

No médio e longo prazos, o aumento da oferta de etanol e veículos mais eficientes deve conduzir à internacionalização do biocombustível e de sua utilização em veículos híbridos, que utilizam motores elétricos e a combustão. O etanol também tem potencial de servir base para extração de hidrogênio, combustível de carros elétricos alimentados por células de combustível (fuel cell).

“Há muitas oportunidades associadas a esse esforço. Outros países estão diante do mesmo desafio de reduzir suas emissões no âmbito da COP 21. É uma oportunidade para internacionalizar ainda mais o uso do etanol, estimulando sua adoção em países como Argentina, Chile, Colômbia”, afirmou João Irineu.

(Fonte: Automotive Business – 28/06/17)

 

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