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Exportação de colhedoras de cana compensa parte da baixa das vendas internas

19 de Fevereiro de 2019

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A demanda aquecida por colhedoras de cana no mercado externo foi um alento, em 2018, para as fabricantes instaladas no Brasil, onde as vendas recuaram. E para 2019, quando o cenário no mercado interno ainda reserva incertezas, a expectativa é que as exportações continuem aceleradas.

Conforme dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2018 as vendas domésticas desses equipamentos recuaram 10,8%, para 643 unidades, bem abaixo de projeções iniciais que sinalizavam 750 unidades. Foi o menor volume da série estatística, que começou em 2013. A Anfavea contabiliza as vendas das montadoras AGCO, Agrale, CNH Industrial e John Deere.

"O ano passado foi particular. Além da incerteza política que antecedeu as eleições, tivemos problemas climáticos que afetaram os canaviais na primeira metade do ano, o que levou grandes grupos a adiarem investimentos", disse Paolo Rivolo, diretor comercial da Case IH, marca da CNH Industrial, múlti italiana sediada no Reino Unido.

Já as exportações do país cresceram 25,9% no ano passado em relação a 2017, para 233 unidades. A demanda elevada da Índia e da Tailândia impulsionou os negócios, que alcançaram o melhor resultado em cinco anos. Somente em 2013 o resultado foi superior (242 unidades).

Rivolo afirmou que em 2019 a demanda dos dois países deverá continuar aquecida, tanto que prevê exportações firmes da Case IH. De acordo com ele, metade da quantidade prevista para o ano já está negociada. A partir de sua fábrica em Piracicaba (SP), a Case exporta colhedoras também para Argentina e Cuba, entre outros países.

A americana John Deere também se beneficiou da demanda externa aquecida. A empresa exportou 160 unidades em 2018, 68,4% mais que em 2017. A maior demanda estimulou o aumento de 8,3% na produção em 2018, para 586 unidades. No mercado interno, porém, as vendas caíram 14,7%, para 365 máquinas.

Depois do encolhimento do ano passado, as companhias estão um pouco mais otimistas em relação ao mercado doméstico. Rivolo, da Case projeta que, no total, as vendas somarão entre 650 e 700 unidades. "Os grandes grupos voltaram a comprar. Este ano começou diferente de 2018, com muito mais movimento".

Segundo ele, o telefone voltou a tocar após as eleições. "Começaram a aparecer encomendas de grandes volumes novamente. Ampliamos nosso market share de setembro para dezembro". Rivolo disse que um grande grupo sucroalcooleiro recentemente adquiriu um bom número de colhedoras da marca.

Rivolo estima que a Case deverá vender mais colhedoras de cana na soma dos mercados interno e externo em 2019 ante ao total das duas frentes no ano passado. Mas o avanço tende a ser modesto. "Não temos informações de que o setor [sucroalcooeiro] terá uma crise e vemos espaço para novos investimentos em maquinário", disse.

O cenário, contudo, ainda é incerto. Segundo a União das Indústrias de Cana-de-açúcar (Unica), desde o início da safra 2018/19, em abril, a moagem de cana somou 563,29 milhões de toneladas na região Centro-Sul do país, 3,5% menos que no mesmo período da temporada 2017/18.

"O etanol ainda está melhor, mas nem todas as usinas têm a possibilidade de flexibilizar a produção para ampliar de forma expressiva a aposta no etanol", ponderou Alexandre Assis, gerente de contas-chave América do Sul da americana AGCO. "Quem pode está ampliando ao máximo a produção do biocombustível em detrimento do açúcar, mas essa não e a realidade de todas as usinas".

Como a empresa direciona quase toda a produção de colhedoras de cana ao mercado interno, está mais cautelosa. "Esperamos que o mercado fique estável em 2019, o que ainda está longe do potencial, uma vez que as vendas já somaram 1,4 mil unidades em 2013", disse Assis. Para ele, a demanda interna deverá começar a melhorar apenas em 2020.

A AGCO produz colhedoras de cana com a marca Valtra em Ribeirão Preto (SP). No ano passado, fabricou apenas três unidades, ante 28 em 2017, e vendeu 20, quatro a mais que em 2017. Assis destacou, entretanto, que o tempo de renovação da frota para a cultura é mais curto do que em lavouras como as de grãos. "Na cana, devido ao alto período de uso, a renovação ocorre em três anos. Na soja, são cerca de dez anos", disse.

Nesse cenário, mostram os dados da Anfavea, a produção de colhedoras de cana no Brasil, liderada pela John Deere, diminuiu 5,4% em 2018, para 982 unidades.

Na avaliação de Alfredo Miguel Neto, vice-presidente da Anfavea, o segmento sucroalcooleiro teve um 2018 difícil devido a questões climáticas e de preços, especialmente do açúcar, o que deverá levar as usinas a repensar suas estratégias.

Miguel Neto está entre os que acreditam que a demanda por colhedoras deve melhorar em 2019. "Isso vai depender de uma série de fatores, como a confiança do produtor, o equilíbrio entre os estoques e preços de açúcar e de políticas públicas. Mas estamos otimistas".

Valor Econômico - 19/02/2019

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