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Falta de conhecimento na atividade sucroenergética influenciou o fechamento de usinas

20 de Novembro de 2017

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O Brasil chegou a ter mais de 430 unidades sucroenergéticas em atividade, mas, desde 2008, 79 unidades entraram em recuperação judicial (RJ) e 83 tiveram suas operações paralisadas. Vários são os motivos para esta crise, um deles foi a entrada de investidores sem expertise no setor sucroenergético.

De acordo com Dib Nunes Jr, presidente do Grupo IDEA, uma das principais consultorias do setor, grande parte dos novos players que acessou este mercado na década passada, não obteve o sucesso esperado, por não conhecer a cultura do setor ou por desconhecimento da complexidade da produção canavieira.

 “Agora esses investidores tentam se livrar do negócio, colocando o patrimônio adquirido à venda. Querem recuperar o que investiram, mas certamente contabilizarão pesadas perdas ao sair”, observa Dib.

Mas a falta de conhecimento sobre a agroindústria canavieira não se restringiu aos investidores, pior, também pesou sobre empresas contratadas para realizar a operação de due diligence - um conjunto de atos investigativos que devem ser realizados antes de uma operação empresarial.

“Muitos casos começaram com due diligences imprecisas e malfeitas, que não levantaram corretamente os problemas e riscos além de apurar índices de produtividades e rendimentos que apontaram para faturamento muito acima do seu potencial.

Com os seis anos de crise de preços do setor, a situação se agravou e essas empresas não atingiram os níveis de faturamento desejados. Algumas delas recorreram a chamadas de capital, outras simplesmente já passaram o bastão para credores ou fecharam as portas”, diz Dib Nunes, especialista na realização de due diligences – ao longo dos últimos anos, o IDEA realizou 44 avaliações desta natureza, sendo oito apenas no segundo semestre de 2016 e seis no primeiro semestre deste ano.

O especialista explica que os principais pontos de riscos encontrados estão ligados a contratos mal elaborados, contratos com elevada concentração de vencimentos e valores acima do mercado, elevada dependência de fornecedores de cana e de terras, canaviais com baixa produtividade, regiões com problemas climáticos, predominância de solos de menor fertilidade, relevo improprio para a mecanização, frota própria velha ou reduzida demais, elevado índice de terceirização em práticas agrícolas que exigem qualidade, resultados operacionais ruins nas operações de colheita e transporte, logística extremamente comprometida com longas distancias das áreas de produção, estradas ruins de acesso difícil às propriedades produtivas.

Segundo Dib, é importante também numa due diligence, avaliar o nível técnico do quadro de gestores em posição estratégica e seu comprometimento com as metas da empresa. Além disso, deve-se apurar os custos de produção das principais etapas do sistema produtivo e compara-los a indicadores de desempenho de fontes críveis.

A avaliação da eficiência dos serviços de apoio necessários às operações de campo, a possibilidade de expansão da lavoura e a imagem que a empresa tem junto a produtores de cana, proprietários de terras e prestadores de serviços da região são também muito importantes no prosseguimento das atividades.

“Há regiões onde a concorrência com outras empresas agrícolas e outros negócios são extremamente impactantes a ponto de deixa-las sem condições de recuperação de produtividade ou de redução de custos”. Embora o nível de credibilidade seja também medido pelo resultado financeiro, é também pelo cumprimento de compromissos assumidos com instituições financeiras e fornecedores. O prestígio que a empresa acumulou na região, pode ter um enorme peso na sua sobrevivência e seu sucesso.

O levantamento do CAPEX (despesa de capital) necessário para os próximos anos para recuperação da produção ou crescimento da empresa é também fundamental para que o investidor fique sabendo qual deve ser o capital a ser aplicado ao longo dos próximos anos.

As avaliações dos ativos biológicos darão a ideia do capital armazenado no campo, do seu potencial para produção de açúcar, etanol e energia elétrica e quanto a empresa precisara´ investir para garantir o faturamento futuro e o payback pretendido no negócio.

“Os potenciais investidores correm riscos muito grandes, quando a due diligence não é realizada por empresas experientes capacitadas para analisar todos estes fatores, que certamente poderão comprometer ou alavancar o negócio sucroenergético”, alerta Dib.

(Fonte: Grupo IDEA – 17/11/17)

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