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Gasolina sobe e postos não repassam a queda no preço do etanol no DF

16 de Agosto de 2018

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Com maior oferta de etanol no mercado, e a consequente redução dos preços, vale a pena trocar a gasolina pelo biocombustível na hora de abastecer o carro. No entanto, para que o preço permaneça vantajoso — de até 70% do cobrado pela gasolina, já que o álcool rende 30% menos no motor —, é preciso que os donos dos postos repassem a queda para os consumidores, o que nem sempre ocorre no Distrito Federal.

Apesar de o álcool hidratado, que vai direto no tanque dos veículos, não ter a mesma política de reajuste dos derivados de petróleo, cada vez que a Petrobras anuncia um aumento na gasolina, parte dos postos também eleva o preço do biocombustível.

Pesquisas feitas pelo Correio na segunda-feira e ontem apontam que os preços ao consumidor do álcool hidratado subiram de um dia para o outro sem justificativa. Diferentemente da gasolina, cujos reajustes dependem da variação do barril de petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio, o valor do etanol é determinado pela safra de cana-de-açúcar, que tem sido favorável.

De acordo com o presidente da Federação Nacional dos Plantadores de Cana (Fenapla), Alexandre Andrade Lima, em geral, 50% da colheita é usada na produção de açúcar, e 50% na de álcool. Neste ano, porém, 60% estão sendo direcionados ao etanol. “O preço do açúcar do mercado internacional está muito ruim, então há mais oferta de álcool, por isso o preço caiu”, explicou.

Essa queda chega aos postos, mas nem sempre é vista na bomba, porque vira lucro para os revendedores. O presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares, admitiu que “pode estar ocorrendo recomposição de margem”.

“Quando houve intervenção no setor (após a Operação Dubai, que identificou a prática de cartel), o Ministério Público e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) estipularam que a margem de lucro deveria ser, no máximo, de 15,85%. Hoje, está em 6% a 7%. Como os custos do setor são altos, o revendedor pode aumentar a margem do etanol para compensar”, explicou.

Cartel

Segundo Tavares, na segunda-feira, o preço do etanol na distribuidora era de 70% do da gasolina. Ontem, como a Petrobras promoveu mais um reajuste na refinaria, a relação caiu para 68%, o que deixou o produto ainda mais vantajoso. “Em Brasília, isso não é repassado para o consumidor porque há um cartel muito forte. Os revendedores preferem vender gasolina porque têm uma margem agregada maior. Por isso, aumentam o etanol até o limite de 70%”, ressaltou Lima, da Fenapla.

Procurado, o Cade ressaltou que monitora constantemente os mercados e apura eventuais indícios de infração à ordem econômica. “Nesse contexto, destacamos que há investigação em curso sobre cartel no setor de combustíveis no DF”, informou o órgão, em nota.

A despeito da manipulação contra os interesses do consumidor, o preço do etanol vem caindo. O levantamento do Correio, feito em 30 postos, apurou valor médio, ontem, de R$ 3,07, numa variação de R$ 2,90 a R$ 3,49. Dos estabelecimentos pesquisados, cinco não comercializam etanol, 14 têm preço vantajoso, enquanto, em 11, o motorista deve optar pela gasolina. Nas pesquisas anteriores, o valor médio do etanol era de R$ 3,24, em 15 de junho, e de R$ 3,09, em 31 de julho.

De acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgado na segunda-feira, o preço do etanol caiu em 17 estados, além do DF, na semana passada. Em média, o recuo foi de 0,99% no país. Apesar disso, a agência indica que é mais vantajoso optar pelo álcool apenas nos estados produtores: São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.

Segundo o diretor Técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua, além de serem os maiores produtores, esses estados aplicam alíquotas mais baixas de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ao etanol. Em São Paulo, o preço médio ao consumidor é de R$ 2,46. O valor é de R$ 2,88 em Minas Gerais, de R$ 2,59 em Mato Grosso, R$ 2,69 no Paraná e de R$ 2,82 em Goiás.

Apesar de o preço estar mais alto no DF do que em outras regiões do país, usar o biocombustível já vale a pena para os moradores de Brasília. O fiscal de produtos Arthur Gomes, 23 anos, passou a abastecer só com o etanol. “Além de ser um combustível mais limpo, está mais econômico do que a gasolina”, avaliou.

 Morador do Recanto das Emas, Gomes comentou que, muitas vezes, vai até cidades do Entorno para abastecer, já que, em Goiás, o etanol é mais barato. “Em Valparaíso, encontrei por R$ 2,50. No fim do mês, consigo uma baita economia”, afirmou.

Márcio Rocha, 36, gerente de um posto do Setor de Indústrias Gráficas, disse que o estabelecimento nem trabalhava mais com o produto. “Como aumentou a demanda, voltamos a vender. Essa onda de etanol decorre do alto preço da gasolina e de um bom momento da safra de cana.”

Alta nas refinarias

A Petrobras anunciou ontem um novo reajuste no preço da gasolina A, sem tributos, comercializada nas refinarias do país. A partir de hoje, o combustível será vendido com um acréscimo de 1,29%, passando de R$ 1,9173 para R$ 1,9420 nas refinarias.

As constantes alterações fazem parte da política de preços da petroleira, que oscila de acordo com a cotação da moeda norte-americana, além das oscilações do barril de petróleo no mercado internacional. O valor médio do combustível vendido nos estabelecimentos do DF é de R$ 4,35, oscilando entre R$ 4,16 e R$ 4,79.

 Fonte: Correio Braziliense – 16/08/2018

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