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É importante saber ler o rótulo

07 de Maio de 2018

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O tema alimentação saudável já tomou conta do cotidiano das pessoas há algum tempo. O questionamento e a busca por informações nutricionais fazem parte do ato da compra e têm impacto direto na saúde.

O crescente interesse do consumidor em conhecer a fundo as características de cada alimento, bem como seus benefícios para a dieta, faz com que seja necessária a existência de um novo modelo de rotulagem que o ajude a escolher o produto que atenda às suas necessidades nutricionais. No entanto, as tabelas nutricionais apresentadas nos rótulos das embalagens atuais não trazem uma informação clara, para o entendimento do consumidor.

Para Laís Amaral, nutricionista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), falta uma compreensão clara das tabelas. “Há pesquisas que demonstram que os rótulos não são compreendidos, a informação é muito técnica. Em 2016, o Idec fez uma que identificou que 40% das pessoas têm dificuldade de entender a tabela nutricional. Além disso, a informação que importa fica escondida, na parte de trás da embalagem, com letra pequena”, argumenta a nutricionista.

Diretora de relações institucionais da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Daniella Cunha lembra que a normativa atual é antiga, já com mais de 15 anos, e acredita que é adequado revisá-la. “O alimento industrializado hoje é diferente, e a forma como o consumimos também. Então, é importante a revisão do padrão para que ele informe melhor o consumidor”, ressalta.

Consultar sempre

João Pedro Campos, de 26 anos, recepcionista, adquiriu o hábito de observar as tabelas nutricionais dos produtos industrializados há cerca de cinco anos. Queria levar mais a sério sua alimentação e um nutricionista o orientou a consultar as tabelas para escolher melhor os produtos. “No início, eu demorava. Ficava muito tempo olhando um alimento só”, lembra.

Com o tempo, foi ficando mais prático. A maioria das coisas que João Pedro compra já é conhecida dele. E quando é novidade? “Nada vai para o meu carrinho sem eu checar a tabela”, garante. O costume é especialmente bom quando o rapaz está em dúvida entre dois produtos aparentemente iguais, mas de marcas diferentes. “Fica fácil de comparar.”

E não é só no supermercado ou quando está comprando algo que ele se informa ao máximo. Na casa dos pais, se pega alguma coisa para comer, não a abre sem antes ter certeza de que não fará mal à saúde ou aos treinos que pratica. A família estranha: “Sempre perguntam o que estou olhando. Eles não fazem isso, então, é diferente para eles. Mas todos deviam fazer”.

A preocupação com a alimentação até fez com que ele abrisse um pequeno negócio: de marmitas saudáveis. “Às vezes, estava na rua e queria comer algo gostoso e saudável. E não tinha. Ia ao supermercado e, mesmo lá, com tantas opções, a maioria das coisas tinha muita caloria, gordura”, lamenta. João recebe pedidos semanais e mensais e entrega no mesmo dia. O cliente pode congelar ou não. Fã das tabelas nutricionais, as marmitas dele também têm as informações.

Modelos defendidos por pesquisadores

O modelo de rotulagem defendido pelo Idec foi elaborado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e lembra um pouco o usado no Chile. Ele propõe a inclusão de um triângulo de advertência com fundo preto na parte da frente da embalagem de produtos processados e ultraprocessados para indicar o excesso de nutrientes críticos, como açúcar, sódio, gorduras totais e saturadas, além da presença de adoçante e gordura trans em qualquer quantidade.

A professora Carla Spinillo, do Departamento de Design do programa de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), é uma das responsáveis pela proposta, que, segundo ela, segue os padrões nutricionais da Organização Pan-Americana de Saúde. “O Canadá também está cogitando usar o triângulo, o Chile e o Uruguai adotam o octógono. Preferimos não usar o octógono porque, dependendo do tamanho, ele vira um círculo, que está muito associado à publicidade”, explica.

Para garantir a eficácia da advertência foram feitas pesquisas qualitativas e quantitativas, nas quais pessoas de diversas classes sociais e gêneros foram reunidas para responder a perguntas sobre nutrição. “Apresentamos nossa proposta e a comparamos à tabela nutricional e à lista de ingredientes atuais. Eles olhavam para o material e diziam se entendiam bem ou mal. Nos grupos focais, houve claramente um entendimento melhor do triângulo para advertir os excessos”, afirma Carla.

Os pesquisadores também aproveitaram essas pessoas para comparar a proposta do semáforo. Segundo Carla, esse modelo foi considerado mais confuso. “Eles não entendiam o que significavam as cores em relação ao excesso de nutriente, especialmente quando precisavam comparar dois produtos.

”Os representantes da indústria discordam dessas conclusões. Para eles, é o modelo do Idec que não permite comparação fácil entre produtos. “O importante é a população ter informação, e não colocar um símbolo na embalagem, como se o produto fosse radioativo”, reclama Alexandre Jobim, diretor-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abia).

A Abia, com o Conselho Nacional da Indústria (CNI), propõe o modelo de rotulagem pelo sistema de cores: o semáforo nutricional. Ele é adotado no Reino Unido e indica a quantidade de sódio, açúcares totais e gordura saturada colorida em verde, amarelo e vermelho.

A cor verde representa que os níveis do nutriente em questão são considerados baixos ou adequados para o consumo do alimento na porção, quando associado a uma alimentação diária equilibrada. A amarela demonstra que os níveis do nutriente merecem atenção, pois sinalizam que um consumo acima da porção recomendada pode comprometer o equilíbrio da alimentação diária. E a vermelha demonstra que os níveis do nutriente são considerados altos na porção diária recomendada.

De acordo com Daniella Cunha, diretora de Relações Institucionais da Abia, a proposta do setor para a rotulagem nutricional frontal facilita o entendimento do consumidor sobre a quantidade de cada nutriente contida por porção nos alimentos. O painel também terá a indicação de valor energético por porção e sua relação com o valor diário recomendado. “O setor defende esse modelo, pois informa e empodera o consumidor, possibilitando combinar alimentos rotulados com as diferentes cores, de forma a compor sua dieta e não ultrapassar a recomendação diária para cada um dos nutrientes.”

Fonte: Estado de Minas – 06/05/2018

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