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Indústria automotiva se divide quanto a programa para incentivar segmento

06 de Março de 2018

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Em meio ao mal-estar que a demora na divulgação do novo programa automotivo provocou nas montadoras, nem todos no setor acreditam que essa indústria precisa de incentivos fiscais para funcionar. "Nesse momento, não podemos depender tanto do governo, que não vai nos ajudar", disse ontem o presidente da Bosch, Besaliel Botelho, durante debate num seminário.

Segundo a análise de Botelho, que vai contra o que pensa a maioria dos dirigentes de montadoras, num país com potencial para produzir veículos em grandes quantidades, como é o caso do Brasil, a força das vendas é o maior estimulo a investimentos.

Frustrados com o silêncio do governo em torno da questão, alguns dos que esperavam, na indústria, que o anúncio do novo programa, chamado Rota 2030, acontecesse entre o fim de 2017 e primeiros dias de 2018, começam a perder a esperança de que isso aconteça ainda nesse governo.

Outros perceberam a possibilidade de o programa ser anunciado por partes. Isso poderia indicar que a questão mais polêmica - a dos incentivos fiscais - tende a ficar para o fim. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, diz que a entidade lutará por estímulos fiscais à pesquisa e desenvolvimento.

Além disso, Megale espera por regras de eficiência energética. Assim como no caso dos que investiram em pesquisa e desenvolvimento, os que produziram carros mais econômicos durante o Inovar-Auto também obtiveram créditos fiscais federais.

Os que esperam por incentivos argumentam que sem essa vantagem o Brasil não tem condições de competir internacionalmente, o que levaria as montadoras a deslocar os trabalhos de pesquisa para outros países, incluindo o desenvolvimento do uso do etanol nas novas opções energéticas, como veículos híbridos.

"Se tivermos um mercado de 3,5 milhões não precisaremos fazer nada lá fora", destacou Botelho, em referência ao volume anual de vendas de veículos no Brasil antes da crise. "É o mercado que vai nos puxar; não é o governo. Ninguém vai tirar uma indústria [do país] por falta de subsídios", disse o executivo, que não acredita na liberação de incentivos num momento em que o governo tem de lidar com o déficit fiscal.

O anúncio do Rota 2030 foi adiado em razão de divergências no governo. A equipe da Fazenda é contra qualquer incentivo fiscal. A resistência apareceu depois que o programa foi praticamente concluído pelos grupos de trabalho que reuniram, pelo lado da indústria, representantes da cadeia automotiva e, pelo lado do governo, técnicos do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Ao contrário das montadoras, durante o Inovar-Auto, a indústria de autopeças não foi contemplada com créditos fiscais em troca de investimento em pesquisa. No seminário de ontem, promovido pela publicação setorial Autodata, Botelho não esqueceu de mencionar essa diferença de tratamento. O executivo disse que embora discorde de qualquer mudança brusca nas regras, os fabricantes de componentes não contaram com subsídios e nem por isso deixaram de investir em pesquisa e desenvolvimento. Segundo ele, os investimentos da Bosch nessa área equivalem a 3% do faturamento no Brasil e a 7% na Europa.

Para ele, a redução gradual do protecionismo ajudará o país a inserir-se no contexto mundial de concorrência, que tende a intensificar-se a partir de acordos como o intercâmbio comercial com a União Europeia.

Fonte: Valor Econômico - 06/03/2018

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