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Indústria prevê perdas com novos rótulos

01 de Agosto de 2018

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A mudança no modelo de rotulagem de alimentos industrializados pode gerar um impacto negativo na economia de R$ 30 bilhões a R$ 98,8 bilhões por ano, segundo estudo realizado a pedido de fabricantes do setor. O levantamento foi feito pela GO Associados e encomendado pela Rede Rotulagem, formada por 22 entidades da área de alimentos e bebidas e encabeçada pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia atualmente duas propostas de rotulagem. Uma foi desenvolvida por um grupo que reúne o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a Universidade Federal do Paraná e outras 19 entidades. Esse grupo propõe a adoção, na parte frontal da embalagem, de triângulos pretos, advertindo o consumidor sobre o excesso de ingredientes que podem fazer mal à saúde, como açúcar, sódio e gorduras.

As indústrias, por sua vez, propõem a inclusão, na parte frontal das embalagens, de um semáforo destacando informações sobre o volume de açúcar, gorduras saturadas e sódio. A quantidade pode ser classificada como "alta" (em vermelho), "média" (amarelo) ou "baixa" (verde).

De acordo com o estudo da GO Associados, o modelo de rotulagem por semáforo pode gerar um impacto negativo na economia entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. Já o modelo de advertência, sugerido pelo Idec, causaria a perda de quase R$ 100 bilhões.

Wilson Mello, presidente do conselho da Abia, considera que o modelo de advertência, com triângulos em preto, assustam o consumidor, que acaba deixando de comprar os produtos. Como consequência, o consumo de alimentos industrializados pode apresentar uma queda de 10,34%, gerando impacto negativo na indústria de R$ 24,4 bilhões.

Segundo o estudo, o modelo de rotulagem proposto pelo Idec também causaria perda de R$ 32,4 bilhões no setor de serviços, devido à menor produção de insumos e à queda do consumo das famílias. O setor agropecuário teria uma queda de R$ 13,6 bilhões.

O estudo da GO indica ainda que a redução no consumo de alimentos, por causa da rotulagem de advertência, pode gerar uma perda de 1,9 milhão de empregos, reduzindo a massa salarial no país em R$ 14,4 bilhões. Do total de cortes de emprego, 808 mil vagas seriam na agropecuária, 723 mil no setor de serviços e 364 mil na indústria - sendo 163 mil apenas na indústria de alimentos e bebidas.

O impacto negativo no setor industrial (excluindo as indústrias de alimentos e bebidas) seria de R$ 28,4 bilhões. E a arrecadação de tributos teria uma redução de R$ 8,9 bilhões por ano.

"A decisão sobre a rotulagem de alimentos não deve ter como premissa principal o aspecto econômico. Mas, considerando que os dois modelos de rotulagem apresentam as mesmas informações para o consumidor, acredito que o impacto econômico deva ser levado em conta", afirma Mello.

O executivo acrescentou que a estimativa de perdas apresentada no estudo é conservadora. "No Chile, quando foi adotada a rotulagem de advertência, o consumo de alimentos chegou a cair 16%", diz. Mello vai se reunir hoje com o presidente da República, Michel Temer, para falar sobre o tema.

O modelo sugerido pelo Idec foi recomendado pela Anvisa para adoção no país, em relatório preliminar sobre o assunto divulgado em maio. No documento, a Anvisa ponderou que esse modelo é adotado de forma crescente no mercado internacional e ajudou a reduzir o consumo de produtos com níveis altos de açúcar, sódio ou gorduras. Já o modelo defendido pela indústria não trouxe impactos relevantes no consumo de alimentos com altos níveis de açúcares, gorduras e sódio, nos países onde foi implantado, segundo o órgão.

O relatório da Anvisa levou as indústrias a mudarem seu modelo, aumentando o tamanho das letras e números e incluindo a classificação alta, média ou baixa. As indústrias também encomendaram o estudo de possíveis perdas econômicas, para tentar reverter a avaliação do órgão sobre o modelo de semáforo.

Para Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec, a rotulagem por semáforo confunde-se com as cores das embalagens e não geram entendimento para o consumidor sobre o risco de consumir o alimento. "No Canadá, onde foi adotado o modelo de advertência, como o sugerido pelo Idec, a economia de gastos com saúde mais do que compensou eventuais perdas da indústria de alimentos", afirma. A nutricionista também considera "superestimado" o valor das perdas potenciais anunciadas pelas indústrias.

A Anvisa discute com representantes do setor privado novas regras para a rotulagem de alimentos industrializados desde 2014. A intenção do órgão é incluir nas embalagens informações sobre a presença de altos teores de açúcares, sódio e gorduras saturadas para estimular a adoção de dietas mais saudáveis. A discussão já passou por várias fases. Entre junho e julho, a Anvisa realizou uma tomada pública de subsídios para discutir o tema.

A Anvisa recebeu pouco mais de 3 mil sugestões de consumidores e especialistas. O órgão informou que o próximo passo será a consolidação desses dados para a formulação do texto final sobre a rotulagem. "Se for necessário, o texto será reformulado e poderá passar por uma audiência pública", informa a Anvisa.

Em seguida, o documento será encaminhado para deliberação da diretoria colegiada da Anvisa. Segundo o órgão, não há prazo definido para esse processo. Mas as entidades que debatem sobre o tema estimam que as nova regras de rotulagem de alimentos serão definidas até o fim deste ano, para que o novo modelo entre em vigor a partir de 2019.

Fonte: Valor Econômico – 01/08/2018

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