16 de Novembro de 2017
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A União Europeia (UE) precisa relacionar mudança do clima com comércio. A ideia foi defendida ontem pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em seu discurso na conferência do clima que acontece em Bonn, na Alemanha, a CoP-23. Vincular comércio a metas ambientais é um ponto de tensão nas negociações internacionais.
O tema nunca é formulado com clareza, mas é ingrediente explosivo nas relações Norte e Sul. "Precisamos de uma taxa de fronteira que nos possibilite proteger setores econômicos, porque há importações de países que não respeitam essas metas e não apoiam a transição ambiental", afirmou Macron.
O presidente francês disse que a transformação da indústria precisa de apoio para "ficar em harmonia com as metas ambientais." E emendou: "Não devemos negociar com países que têm menos ambição que nós, porque isso reduzirá nossas ambições coletivas."
Não está claro se outros países da UE concordam com a proposta de Macron. É a UE que negocia os acordos comerciais do bloco.
Em 12 de dezembro, a França sediará uma cúpula para celebrar os dois anos do Acordo de Paris, com foco nas finanças do clima.
Macron disse que seu governo trabalhará em quatro frentes para tornar a transição econômica da França coerente com os compromissos assumidos no acordo.
O primeiro campo é facilitar projetos bilaterais que estimulem a conexão europeia das energias renováveis, para acelerar a redução das emissões de gases-estufa.
Outro ponto é fazer com o que o preço da tonelada de CO2, hoje por volta de € 6, suba para € 30. "Com esse preço será possível mudar o comportamento dos investidores e da indústria", disse Macron. Este mesmo ponto foi defendido também por António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.
O terceiro item é a integração de metas ambientais e comércio.
Por fim, Macron citou a decisão francesa de fechar as usinas térmicas a carvão em 2021, passo que a premiê alemã, Angela Merkel, não pode sinalizar, em seu discurso, porque o tema é chave nas negociações em Berlim para a coalizão de governo que ela tenta formar entre os democratas-cristãos, os liberais e os verdes.
A dependência alemã do carvão aumentou depois que o país começou a desligar a energia nuclear. A França, por sua vez, tem 72% de sua energia produzida por usinas nucleares e não irá cumprir a meta de diminuir a fonte para 50% em 2025.
Outra contradição da França é que, enquanto o país decidiu banir licenças de exploração de petróleo em seu território ("porque é vital para o desafio do clima e a transição que pretendemos", disse Macron), isso não vale para investimentos franceses pelo mundo. A francesa Total, por exemplo, quer explorar petróleo no Atlântico, em área próxima a recifes de corais da foz do Amazonas.
"Proponho que a Europa substitua os EUA, e a França irá responder ao desafio", disse Macron. Ele pediu que os países europeus compensem a lacuna deixada pelo financiamento americano na gestão Donald Trump, que prometeu - e está cumprindo - suspender todo o financiamento climático.
Macron fez referência específica aos recursos do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima, o IPCC, braço científico dos relatórios climáticos da ONU. "Posso garantir que no começo de 2018 o IPCC terá todo o dinheiro de que necessita".
(Fonte: Valor Econômico – 16/11/17)
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