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O que esperar da reunião que irá definir o rumo do petróleo?

06 de Dezembro de 2018

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Após uma derrocada de 30% nos preços do petróleo em novembro, no pior mês em 10 anos, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e países aliados, liderados pela Rússia, estarão reunidos em Viena na quinta (6) e sexta-feira (7) para tentar chegar um acordo sobre a crise do setor.

A produção crescente de petróleo nos Estados Unidos, Rússia e membros da Opep aumentou os estoques globais enquanto a demanda pelo insumo tem desacelerado no mundo todo, levando a um excesso de oferta e ao derretimento dos preços.

Diante disso, as expectativas dos investidores são grandes com as decisões que serão tomadas no encontro. Um painel de economistas da Opep, que revisou cenários para a reunião, recomendou um corte total na produção de 1,3 milhão de barris por dia em relação aos níveis de outubro, disseram fontes ligadas para a Dow Jones.

Para os analistas do Credit Suisse, a Opep deve passar uma mensagem clara ao mercado de que pretende cortar a produção em cerca de 1,5 milhão de barris por dia para recuperar as perdas recentes no preço do petróleo. Esse corte seria suficiente para rebalancear o mercado ao longo de 2019.

"O nível de estoques subiu consideravelmente ao longo do segundo semestre de 2018 e a estimativa é de que poderíamos ver uma produção próxima de 31,5 milhões de barris/mês em 2019, vindo de 32,9 milhões em outubro, o que poderia impactar de forma relevante o preço da commodity", afirma o Credit Suisse em relatório enviado a clientes.

A Arábia Saudita tem se mostrado determinada a fazer cortes na produção, no entanto, o Credit Suisse pontua três fatos que podem deixar essa esperada decisão menos tranquila do que aparenta.

Em primeiro lugar, o Credit destaca o desejo do presidente Donald Trump de manter os preços mais baixos da commodity, o que pode influenciar a decisão dos sauditas, especialmente se considerada a intenção do país em se aproximar dos Estados Unidos após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico ao governo saudita e que sumiu depois que entrou no consulado do país na Turquia.

O segundo ponto são as recentes mudanças nas regras de produção da Opep, que vieram acompanhadas de alterações na produção da Rússia. Os governo russo e saudita se encontraram no G-20 e selaram um acordo de cooperação para “gerir" o mercado de petróleo em 2019.

O terceiro ponto de atenção destacado pelo Credit é a alocação de cortes de produção por país de uma forma que seja aceitável para os países envolvidos e que passe credibilidade para o mercado.

No entanto, o corte da magnitude de 1,5 milhão de barris por dia necessários, segundo o Credit, só parece provável em um cenário em que a Arábia Saudita assuma a maior parte do ônus, reduzindo sua produção para um patamar de 10 milhões de barris por dia ante os 11 milhões registrados em novembro.

Vale destacar que o ministro saudita do Petróleo, Khalid al-Falih, faz lobby com outros membros da Opep, bem como com a Rússia, para que mais países se somem ao esforço. O ministro tem advertido em privado que os preços devem cair mais em 2019 se não houver qualquer ação, segundo pessoas ligadas ao assunto. Falih também tem insistido que a Arábia Saudita não fará o corte sozinho.

Efeitos no preço

Se o corte esperado de 1,5 milhão de barris/dia for bem sucedido, o Credit Suisse estima que o preço do petróleo deve ficar acima de US$ 60/barril, levado a mais um ano de crescimento na produção dos Estados Unidos. Esse cenário levaria a uma posterior necessidade da Opep fazer novo corte de produção em 2019.

"Caso não cheguem a um acordo, o [petróleo do tipo] WTI deve cair abaixo de US$ 50/barril e ser um gatilho para cortes imediatos no óleo dos EUA", escrevem os analistas do Credit Suisse em relatório.

Já os analistas do Bradesco BBI acreditam que um corte de 1 milhão ajudaria o preço do petróleo a se recuperar para um nível próximo de US$ 70 o barril.

Queda de braço

Mesmo com os esforços da Opep para encontrar um propósito comum, vale destacar que há outros fatores bastante importantes para a definição dos rumos dos preços do petróleo. Afinal, conforme destacou a Bloomberg em matéria recente, as ações (ou tweets) dos presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) e do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (Arábia Saudita) são importantes para o mercado.

Os EUA, a Rússia e a Arábia Saudita dominam a oferta global e, jntos, eles produzem mais petróleo do que os 15 membros da Opep. Todos os três estão extraindo a taxas recorde e cada um deles poderia aumentar a produção novamente no ano que vem, embora talvez nem todos optem por fazê-lo.

A Arábia Saudita e a Rússia lideraram o esforço em junho para que a Opep e seus aliados aliviassem as restrições à produção que estavam em vigor desde o início de 2017. Depois, ambos elevaram a produção para patamares recorde ou quase recorde.

A produção norte-americana disparou inesperadamente ao mesmo tempo, quando as empresas que extraem da bacia do Permiano, no Texas, superaram os gargalos nos oleodutos para transportar seu petróleo para a costa do Golfo.

Esses aumentos, juntamente com pequenas reduções nas projeções de crescimento da demanda e a decisão do presidente Trump de isentar das sanções os compradores de petróleo iraniano, mudaram o sentimento do mercado, que temia uma escassez de oferta e passou a recear um excesso no espaço de três meses.

Os estoques de petróleo nos países desenvolvidos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que vinham caindo desde o início de 2017, voltaram a subir, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

Diante da queda dos preços do petróleo, a Arábia Saudita anunciou que reduziria as exportações em 500.000 barris por dia no mês que vem e advertiu os colegas produtores que eles precisariam eliminar cerca de 1 milhão de barris por dia dos níveis de produção de outubro. Isso provocou uma resposta morna de Putin e uma bronca imediata de Trump pelo Twitter.

O presidente russo não demonstra muito entusiasmo em restringir novamente a produção de seu país, mas posição de Trump será, naturalmente, muito mais barulhenta.

InfoMoney - 06/12/2018

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