Notícias

Odebrecht busca executivo para assumir o lugar de Ruy Sampaio

30 de Outubro de 2020

Notícias

Pelo menos três executivos do grupo Odebrecht estão sendo cotados para assumir a presidência do grupo baiano no lugar de Ruy Sampaio, que deixará o comando do conglomerado em breve, apurou o Valor com fontes a par do assunto. Marco Rabello, principal executivo financeiro da holding da família; Juliana Baiardi, que está à frente da empresa de etanol Atvos; e Roberto Simões, que está no comando da petroquímica Braskem, principal companhia do grupo, são os nomes que circulam nos últimos meses como possíveis sucessores. A mudança se dá em meio ao plano de recuperação judicial do grupo, com dívidas de quase R$ 100 bilhões.

O conglomerado contratou a empresa de head hunter Korn Ferry para planejar a sucessão, conforme comunicado interno divulgado na quarta-feira. Após cumprir o seu mandato, Sampaio vai permanecer no conselho de administração da Odebrecht S.A. Nomes de fora da companhia também estão sendo considerados para a sucessão.

Sampaio assumiu o comando do grupo no fim de 2019, pouco mais de um ano à frente do conselho da holding, a pedido de Emilio Odebrecht, filho do fundador do negócio. Mas tinha deixado claro que não queria ficar por muito tempo no comando da companhia. Ele substituiu Luciano Guidolin, que tinha assumido a presidência em maio de 2017. Desde que Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo foi preso, em junho de 2015 na Operação Lava-Jato, a companhia não conseguiu fazer um sucessor de peso e longevo.

Nome de confiança de Emilio, Sampaio foi chamado para apagar o incêndio no grupo, que além da grande dificuldade financeira, vive uma grande disputa familiar. Emilio e Marcelo estão rompidos desde que as denúncias de corrupção do grupo vieram à tona. A crise entre pai e filho ficou ainda mais aguda depois que Emilio mandou Ruy Sampaio demitir Marcelo da empresa no fim do ano passado.

Fontes próximas à companhia ouvidas pelos Valor informaram que o grupo pode buscar uma solução caseira, uma vez que a companhia já tinha tentado, sem sucesso, trazer executivos de fora. A favor de Rabello, Baiardi e Simões conta a trajetória desses executivo em empresas do conglomerado. Há também uma longa tradição do grupo baiano - que tinha plano traçado para seus herdeiros como sucessores naturais - de prestigiar executivos da casa para comandar seus principais negócios.

A operação Lava Jato, contudo, tirou Marcelo Odebrecht do posto e reduziu o número de executivos aos principais cargos do grupo, uma vez que boa parte deles está entre os 77 delatores da operação, que colocou a empreiteira no olho do furação. Para o mercado, um nome de fora seria considerado uma maneira de o grupo tentar dar uma guinada.

Marco Rabello, diretor financeiro da Odebrecht SA, é visto como um nome forte. Ele é um dos três vice-presidentes que se reportam a Sampaio e participou ativamente das discussões com credores no processo de recuperação judicial do grupo, que teve seu plano aprovado em julho de 2020.

Ex-executiva do banco J. P. Morgan, Juliana Baiardi é filha de Renato Baiardi, acionista minoritário do grupo e ex-presidente da construtora. Com experiência no mercado financeiro, Juliana, engenheira civil, preside a Atvos desde o ano passado. Com dívidas de R$ 11 bilhões, a sucroalcooleira da companhia não consegue se autofinanciar e tem sido alvo de fundos especializados em ativos problemáticos. Antes, a executiva passou pela Odebrecht Transport e atualmente é também conselheira na OEC, a construtora. É vista como a menos próxima de Sampaio e de Emílio

O nome de Roberto Simões, que é da estrita confiança de Sampaio e bem cotado junto a Emílio, surge com certa força na sucessão. Com longa carreira no grupo - trabalhou na construtora e na Ocyan (óleo e gás) -, Simões não deve ter vida longa na Braskem. A companhia petroquímica está entre os principais ativos à venda do conglomerado, que encolheu desde que foi fortemente atingido pela operação Lava Jato.

De quase 200 mil trabalhadores nos seus tempos áureos, a companhia tem cerca de 40 mil funcionários hoje. No ano passado, encerrou com receita de R$ 86 bilhões. A empresa deve encolher ainda mais conforme for vendendo seus ativos. A receita da Braskem foi de R$ 52,3 bilhões no ano passado.

 

Fonte:  Valor Econômico – 30/10

Veja também