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País pode ser estratégico no abastecimento global

20 de Agosto de 2020

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Com a estimativa de aumento da população mundial, haverá necessidade de se produzir mais alimentos ao longo das próximas décadas. O Brasil é visto como um dos potenciais países capazes de ampliar a produção agrícola e pecuária e abastecer o mercado mundial.

Porém, ainda existem vários desafios a serem enfrentados para que a produção cresça de forma sustentável e a um nível suficiente para atender à demanda. Dentre eles está a necessidade de investimentos em tecnologias, irrigação, biotecnologia e no sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Florestas (ILPF).

O ex-ministro da Agricultura do Brasil e engenheiro agrônomo, Alysson Paolinelli, explica que o Brasil e Minas Gerais têm avançado na produção e na conquista de mercados e que existe um grande potencial para aumentar a produção e atender à demanda crescente por alimentos.

Para o ex-ministro, Minas Gerais vai acompanhar a revolução produtiva e precisa liderar o movimento completando os projetos de irrigação do Jaíba, do Projeto Gorutuba e do Jequitaí. Também é necessário irrigar mais a região do Triângulo e Alto Paranaíba.

Outra ação importante e necessária é a aceleração dos processos de aprovação das outorgas, que são lentos e demoram de 2 anos a 4 anos porque o Estado não tem condições de fazer as fiscalizações necessárias. A proposta é que o produtor seja parceiro do Estado, produzindo e reservando água e tendo o direito da outorga automática.

Paolinelli explica que os órgãos internacionais fizeram pesquisas que indicam que em 2050 a população mundial estará em cerca de 10 bilhões de pessoas. Além disso, países populosos como a Índia, China e parte da África estão com índice de crescimento populacional acima de 7% ao ano. Existe ainda uma tendência de aumento de renda das famílias destes países, que irão demandar maior volume de alimentos.

Com estas estimativas, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), para atender a demanda por alimentos em 2050, a produção terá que

crescer 61%, com participação de 41% do Brasil nesse total, o que significa chegar à produção de 620 milhões a 630 milhões de toneladas ao ano, gerando um faturamento superior a US$ 1 trilhão.

O caminho – De acordo com Paolinelli, para aumentar a nossa produção de alimentos é necessário fazer três coisas de imediato: ampliar o plantio no sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Florestas (ILPF), investir na irrigação para termos uma terceira safra de milho e investir em pesquisas e na biotecnologia.

“Usando as tecnologias já existentes, precisamos apressar o programa ILPF nas regiões onde ainda temos pastagens degradadas. Com o sistema, é possível recuperar as áreas de

pastagens e se consegue colocar um número de animais muito maior do que se coloca hoje sem o sistema e o produtor ainda terá, anualmente, a produção de grãos na mesma área. Além disso, a caderneta de poupança do produtor será a floresta plantada. Você faz o investimento para a recuperação sabendo que tem quatro alternativas de produção: o gado; os grãos, fibras e óleos; a pastagem; e a floresta. Nenhum país do mundo tem isso”, destaca.

Irrigação é pra já – A segunda medida é permitir a ampliação rápida da irrigação no Brasil, o que, segundo Paolinelli, tem sido bem aceito pelo governo. Com o uso do sistema de irrigação, será possível ampliar a produção com a introdução de mais uma safra. Paolinelli destaca que, hoje, o Brasil irriga menos de 7 milhões de hectares, enquanto nos Estados Unidos a área irrigada é de 27 milhões de hectares e na China e na Índia, são quase 70 milhões de hectares.

“Nós que somos os grandes players do mercado internacional só temos 7 milhões de hectares irrigados. No Cerrado, a irrigação está em torno de 2 milhões de hectares irrigados, o que vem permitindo a produção de três safras, com uma grande vantagem de que, entre as safras, o aumento da produtividade tem sido significativo”, diz.

Baseado em estudo da Embrapa, Paolinelli explica que a primeira safra, que é a de verão, os produtores, normalmente, plantam soja. Utilizando a irrigação para produzir a terceira safra no ano, a produtividade na primeira tem crescido em torno de 16% a 17%. A segunda safra, geralmente de milho, que é muito sujeita às intempéries climáticas, tem aumento garantido de 37%. Além disso, com a irrigação, cria-se um novo período produtivo, a terceira safra, que tende a ser de milho.

“É possível atender à demanda mundial se o Brasil ultrapassar 40 milhões de toneladas irrigadas. Não estamos pensando em fazer isso rápido, mas conjugando os dois projetos – ILPF com a irrigação -, vamos avançar muito. Minas Gerais é o grande irrigador do Cerrado.

Estamos muito esperançosos. Esse é o caminho que estamos imaginando para atender à demanda mundial”, afirma.

 Produção terá que crescer 2,4 vezes

Segundo o ex-ministro da Agricultura do Brasil e engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, para atender 41% da demanda por alimentos dos 60% projetados para acompanhar o

crescimento da produção mundial até 2050, teremos que produzir 2,4 vezes a nossa safra atual.

“Hoje são 250 milhões de toneladas produzidas, teremos, em 2050, que produzir de 620 milhões a 630 milhões de toneladas de alimentos. O Brasil é o único que pode fazer isso. A China, por exemplo, está com área limitada e sem água. Os Estados Unidos estão sem área, precisando escolher entre a soja e o milho. Os Estados Unidos estão produzindo no deserto com irrigação, mas só é possível uma safra, enquanto no Brasil poderemos fazer três. Vamos ter que utilizar todo nosso potencial”, destaca.

Outro ponto fundamental para ampliar a produção nacional será o uso da biotecnologia, o que demanda investimentos em pesquisas, na ciência e na capacitação dos jovens. Será

preciso voltar a investir em pesquisas como foi feito na década de 1970, o que tornou o Brasil autossuficiente na produção de alimentos.

“A ciência não pode ser interrompida, abriu-se um campo infinitamente grande com a biologia. Com os recursos que temos no Brasil e as pesquisas, vamos deixar de ser

dependentes de produtos químicos, vamos fazer isso no solo com o uso da biologia. A evolução será, na verdade, uma revolução e vamos fazer isso reduzindo a dependência dos

elementos solúveis que passam pela indústria gastando rios de dinheiro. Vamos fazer usando a natureza, usando rocha moída, matéria orgânica, bactérias, fungos e enzimas benéficas”, explica.

Ainda conforme Paolinelli, usando as tecnologias e investindo em pesquisa, o Brasil chegará as 630 milhões de toneladas produzindo com qualidade muito melhor, preços melhores e constância de oferta.

“Tenho muita confiança que vamos cumprir essa missão, e o País será transformado, evidentemente, no maior player de exportação mundial”, conclui.

 

Fonte: Diário do Comércio – 20/19

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