19 de Março de 2020
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Por mais incertos que sejam os impactos do coronavírus na economia, nem o açúcar - um dos produtos com demanda mais inelástica das commodities - parece estar imune. Nesta semana, algumas consultorias começaram a reduzir suas estimativas para o consumo global do adoçante, embora para patamares ainda superiores aos registrados na safra anterior.
A Datagro estima que o consumo deve cair 2,7 milhões de toneladas (equivalentes ao açúcar bruto) entre março deste ano e fevereiro de 2021, ante o que se esperava anteriormente. Com isso, serão revisadas as estimativas para o balanço entre oferta e demanda das safras internacionais 2019/20 - para a qual se previa o consumo de 187 milhões de toneladas - e também para a 2020/21.
Ontem, a INTL FCStone reduziu a perspectiva para a demanda global nesta safra em 200 mil toneladas por causa do coronavírus, para 186,3 milhões de toneladas,mas ainda se trata de uma alta de 0,6% ante a safra passada. O mercado já havia recebido com atenção no início da semana uma revisão da trading Czarnikow, que cortou sua projeção de consumo para a safra atual em 2 milhões de toneladas. Assim, o consumo global ficaria estável ante a safra passada, em 172,4 milhões de toneladas.
Historicamente, o consumo de açúcar cresce todo ano, independentemente de crises econômicas, acompanhando o aumento populacional e ganhos de renda. O ritmo de crescimento, porém, vem diminuindo nos últimos anos, conforme o consumo nos países mais desenvolvidos cai com a substituição por adoçantes mais saudáveis.
As características desta crise, porém, são sem precedentes. A Czarnikow acredita que as restrições à movimentação de pessoas devem reduzir a alimentação fora de casa e de bebidas açucaradas. A trading avaliou que o consumo de açúcar cairá ao menos 5% nos países que tinham medidas de
restrição até segunda-feira. Desde então, mais medidas de restrição vem sendo aplicadas.
Entre os produtores, ainda há ceticismo. Para alguns, pessoas confinadas em casa priorizam produtos básicos de alimentação, nos quais o açúcar se inclui, e até os efeitos psicológicos da situação podem sustentar esse consumo. Para as usinas brasileiras, o açúcar será cada vez mais o produto prioritário da safra 2020/21, já que a situação do mercado de etanol se deteriora a cada dia. Além da pressão do petróleo, que ontem alcançou o menor valor em 17 anos, o receio é ainda maior com as vendas totais de combustíveis para carros.
Uma distribuidora estima que, com base no que ocorreu em outros países, o cenário mais pessimista neste momento é de que o consumo do ciclo Otto pode cair 70% - mas o quadro ainda pode piorar. Segundo um executivo do setor, a redução das vendas só foi observada de forma mais sensível ontem. Mas as vendas de etanol das usinas já paralisaram há cerca de duas semanas. Isso não deve atrasar o início da moagem de cana. A flexibilidade para postergar a colheita não é grande, pois isso afeta a produtividade. Por isso, as indústrias estão mantendo seus cronogramas. Mudanças só devem ocorrer caso seja inviável a ida dos trabalhadores a campo, de acordo com um executivo do segmento.
Fonte: Valor Econômico- 19/03
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