29 de Junho de 2020
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No meio de uma das maiores crises do setor de óleo e gás, duas novas empresas especializadas em recuperar campos maduros estreiam este ano no mercado brasileiro. A 3R Petroleum e a Trident Energy terão pela frente, contudo, um cenário bem diferente daquele que as duas esperavam quando assinaram, em 2019, seus respectivos contratos com a Petrobras para aquisição de ativos no país.
O momento exigirá ajustes. A expectativa é que os investimentos na recuperação dos ativos adquiridos, que já se encontram em fase de declínio, terão um ritmo menor que o inicialmente previsto.
Quando as duas empresas assinaram seus contratos com a Petrobras, em meados de 2019, o preço do barril do petróleo era negociado acima dos US$ 60. Com a deterioração da demanda, desencadeada pela pandemia da covid-19, a commodity chegou a ser negociada em abril abaixo dos US$ 20 e agora gira em torno de US$ 40.
Na avaliação da Bain & Company, a atual crise deve estabelecer um novo patamar de preços, mais baixo, em relação aos pré-crise. Segundo a consultoria, choques do petróleo ocasionados por questões geopolíticas (como a Guerra do Golfo de 1991) ou por recessões econômicas (como a crise dos subprimes, de 2008) costumam recuperar os patamares de preços anteriores. O choque atual, no entanto, se assemelha mais às e crises de 1986 e 2015, mais estruturais.
É nesse novo contexto de mercado que a 3R Petroleum assumiu este mês a operação do polo Macau (RN), que produz cerca de 4 mil barris/dia de óleo. A petroleira é controlada pela Starboard Restructuring Partners, gestora de private equity que comprou este ano a Ouro Preto Óleo e Gás, do empresário Rodolfo Landim.
O presidente da 3R, Ricardo Savini, disse que, diante do choque do petróleo, a empresa optou, num primeiro momento, por postergar para 2021 as intervenções de revitalização de Macau originalmente previstas para este ano. Com a recente valorização da commodity, a empresa já considera antecipar parte das atividades que ficariam para o ano que vem. “Com a recuperação do preço do Brent, decidimos seguir com os investimentos planejados e vamos investir ainda em 2020. Estamos otimistas com a recuperação do mercado até porque o retorno dos investimentos do onshore é imediato”, afirmou Savini ao Valor.
Caminho parecido está sendo tomado pela PetroRecôncavo, que não é bem uma novata, mas que em 2019 deu um importante passo de expansão no país, ao comprar da Petrobras o polo Riacho da Forquilha (RN). O presidente da companhia, Marcelo Magalhães, afirma que a crise pegou a empresa com o “pé no acelerador” nas atividades de revitalização do ativo e que foi preciso desmobilizar sondas e postergar investimentos para preservar o caixa. Segundo ele, contudo, a petroleira começou, agora, a reativar sondas. A expectativa é investir este ano entre 70% e 80% do programa inicial.
Magalhães disse que a empresa não se arrepende do negócio, fechado por US$ 384 milhões, e que, pelo contrário, mantém o interesse em novas aquisições. “O plano de investimentos de US$ 150 milhões em cinco anos está mantido. É só uma questão de mudança no timing em que vamos atingir o pico da curva de produção”, disse.
Além da 3R Petroleum, a lista de estreantes em campos maduros no Brasil inclui a Trident Energy - petroleira especializada em campos maduros que foi criada em 2016, com foco na América Latina e África, e que conta com um suporte de US$ 600 milhões da private equity Warburg Pincus. A empresa atua na Guiné Equatorial e assinou em 2019 contrato de US$ 851 milhões com a Petrobras para compra dos polos Pampo e Enchova, em águas rasas na Bacia de Campos.
A Trident Energy obteve este mês a autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para a aquisição dos ativos, um dos últimos trâmites necessários para conclusão do negócio. Segundo o órgão regulador, o plano de desenvolvimento de Pampo e Enchova prevê investimentos da ordem de US$ 1 bilhão, com potencial de adição de 203,5 milhões de barris de óleo em reservas.
Quem também estreou recentemente no Brasil foi a Perenco, que assumiu no fim de 2019 os polos de Pargo, Carapeba e Vermelho, na Bacia de Campos, depois de pagar US$ 398 milhões, mas que logo nos seus primeiros meses de operação viu o cenário do mercado mudar por completo. Em maio, o presidente da companhia no Brasil, Timothee de Reynal, disse que tem feito “muitos esforços” para reduzir seus custos nos ativos adquiridos, para tirar as operações do vermelho e torná-las viáveis com um preço de petróleo entre US$ 20 e US$ 30 o barril.
Fonte: Valor Econômico – 29/06
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