02 de Abril de 2018
Notícias
Na última segunda-feira (26) a Rádio Jovem Pan promoveu em São Paulo mais um Fórum Mitos & Fatos, desta vez com o tema Mobilidade Urbana. Dentre os participantes do Fórum destacou-se o prefeito de São Paulo João Dória, que durante sua fala inicial abordou o tema da eletrificação da frota paulista de veículos leves e pesados, defendendo que o futuro da mobilidade urbana na principal metrópole brasileira é a eletrificação, descartando, textualmente, fontes como o etanol e o gás natural.
Na visão do presidente da Consultoria Datagro e representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Plínio Nastari, a fala do prefeito Dória reflete uma falta de informação não apenas dele, mas de vários gestores.
Segundo Nastari, em entrevista exclusiva à Agência UDOP de Notícias, que o futuro do transporte é a eletrificação não se tem dúvida, mas não devemos nunca descartar que hoje a melhor rota para essa eletrificação são os biocombustíveis, com destaque para o etanol. "A rota da eletrificação com biocombustíveis é sem dúvida a mais acessível, limpa e que gera desenvolvimento para nosso País e o mundo", afirmou o presidente da Datagro.
Uma das vozes mais ativas quando o assunto é combustíveis, Plínio Nastari destacou que no mundo, hoje, existem pelo menos três rotas para a eletrificação: a bateria, a de hidrogênio e os biocombustíveis.
"Cada rota tem sua característica própria. Caminhamos para um cenário onde não há dúvidas quanto à eletrificação, mas não devemos descartar, por exemplo, que ainda existe um enorme campo na otimização dos veículos de combustão interna, que muito têm, ainda, a contribuir, principalmente na melhora dos motores movidos à etanol", explicou Nastari.
Citando o exemplo dos veículos elétricos à bateria, Nastari enumera ao menos quatro grandes entraves. O primeiro seria a origem da eletricidade. "Não adianta nada falar em carro elétrico menos poluente se não olharmos, por exemplo, se a fonte de eletricidade não é oriunda de queima de combustíveis fósseis", argumenta, ressaltando ainda que esta questão tem sido pouco explorada pelos gestores, a exemplo de Dória.
"Tenho uma coleção de charges publicadas nas mídias europeias onde se destacam justamente isso, ou seja, de que adianta ter um carro elétrico e se achar `limpo´, se por trás desse automóvel existe uma usina a carvão, por exemplo", argumenta uma vez mais.
Outros pontos negativos aos carros a bateria seriam a infraestrutura de abastecimento inexistente e cara para ser implantada, a vida útil baixa das baterias, que correspondem a 40% do preço dos carros e a difícil acessibilidade destes automóveis, caros para o padrão, por exemplo, de carros comercializados no Brasil.
Mas dentre os piores fatores que jogam contra os carros elétricos a bateria, estaria a origem dos materiais destas baterias, lítio ou cobalto. "O lítio é produzido em poucos países, como China, Chile e Austrália e o cobalto tem 65% de sua produção oriunda em minas no Congo", explica o presidente da Datagro, esse fator, na visão dele, transferiria uma dependência hoje para com países produtores de petróleo, por exemplo, para estas outras nações, o que não seria nada confortável.
"Para se ter uma ideia do impacto do carro elétrico a bateria no Brasil, basta dizer que se trocássemos toda a frota atual por estes veículos, consumiríamos toda a energia produzida e consumida atualmente em nosso País, o que torna essa rota totalmente inviável", enaltece o representante do CNPE.
Sobre a rota que utiliza hidrogênio, outra importante fonte para a eletrificação, Plínio Nastari também destaca alguns problemas, como uma distribuição muito cara, "na Califórnia um bico de hidrogênio custa em média 1,5 milhão de dólares, é uma rede muito dispendiosa", e também o risco do armazenamento desta energia, que precisa de tanques de titânio, instalados no meio dos veículos, a fim de se evitar qualquer risco de explosão.
A rota mais viável, conforme já destacado pelo presidente da Datagro seria justamente a eletrificação através de fontes oriundas de biocombustíveis. Aí sim, na visão do especialista, há sinergia, pois estamos falando do aproveitamento da energia já produzida no país, o etanol, o biodiesel, o biometano e outros biocombustíveis, como fonte da produção da eletricidade que fará girar os motores do futuro.
"A eletrificação pela rota dos biocombustíveis é segura, fácil, tem um sistema de distribuição no Brasil pronto e no restante do mundo de baixo custo de implementação, além de todos os benefícios ambientais da pegada de carbono dessas fontes, pois estamos falando de uma energia solar capturada, armazenada e distribuída de forme segura e limpa", defende Nastari.
Finalizando a entrevista, Plínio Nastari destaca, novamente, que tanto João Dória como muitos outros gestores precisam entender que a eletrificação deve ser olhada em todos os aspectos, levando-se em conta, principalmente, a pegada de carbono da fonte dessa energia, evitando, assim, a desinformação e disseminação de conceitos distorcidos.
Para ver o Fórum Mitos & Fatos com a participação do prefeito João Dória clique aqui. A fala a que a matéria se refere está no minuto 24 da transmissão.
Fonte: UDOP – 02/04/2018
Veja também
18 de Abril de 2024
Futuro do setor bioenergético brasileiro é tema de debate da Revista CanaOnlineNotícias
18 de Abril de 2024
Brasil apoia iniciativa indiana para sediar Aliança Global de BiocombustíveisNotícias
18 de Abril de 2024
Produtores brasileiros de etanol podem ser os primeiros beneficiados da indústria de SAFNotícias