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Política de reajustes faz preço médio da gasolina subir 12,75% em cinco meses

04 de Dezembro de 2017

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A nova política de reajuste dos preços de combustíveis adotada pela Petrobras desde o início de julho tem provocado reflexos no mercado e exigido mudanças de comportamento desde a refinaria até as bombas de abastecimento nos postos. Para os motoristas, o principal efeito sentido é o preço cobrado pelo litro, que disparou nos últimos meses.

Levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), vinculada à UFMG, mostrou que, desde que foi implantada, a nova regra de mercado provocou aumento de 12,75% no preço do combustível – isso apenas no acumulado de julho a outubro. Antes da mudança, a gasolina acumulava redução de 2,17% no preço, considerando os valores praticados de janeiro até o fim de junho. A justificativa da Petrobras é que o novo modelo de definição do valor garante previsibilidade e equilibra os mercados interno e externo.

Na prática, essa mudança tem surpreendido os consumidores e pressionou um dos principais componentes dos índices de inflação no Brasil. De 3 de julho, data oficial de adoção das novas regras pela Petrobras, até 30 de novembro foram autorizados 37 aumentos no valor do combustível. O maior deles ocorreu em 31 de agosto, com percentual de 4,2%. No mesmo período ocorreram 36 reduções. No entanto, os percentuais de queda foram sempre menores quando comparados com os de alta.

Com o novo modelo, a Petrobras espera acompanhar as condições do mercado e enfrentar a concorrência de importadores. Em vez de esperar um mês para ajustar seus preços, a estatal passou a avaliar todas as condições do mercado para se adaptar, o que pode ocorrer diariamente.

Além da concorrência, na decisão de revisão de preços, pesam as informações sobre o câmbio e as cotações internacionais do petróleo e outros componentes, como o valor e a oferta de cana-de-açúcar no mercado. “A revisão da política aprovada permitirá maior aderência dos preços ao mercado doméstico ao mercado internacional no curto prazo e possibilitará a companhia competir de maneira mais ágil e eficiente”, afirma a estatal.

Mercado

Para especialistas e representantes de entidades que atuam no setor, o que ocorreu foi que a Petrobras verificou, principalmente a partir de abril deste ano, que as importações de petróleo por parte de outras companhias estavam aumentando e a estatal estava perdendo mercado. Paralelamente a isso, o preço da gasolina e do diesel estavam em queda, o que agravava o problema.

Para Adriano Pires, especialista do Instituto Millenium e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a política de reajustes da Petrobras vinha sendo usada pelos últimos governos como forma de controlar a inflação e também para interesses políticos, o que causou rombo nos cofres da petroleira. “Ao adotar essa nova política, ela (Petrobras) acreditava que ia reconquistar o mercado rapidamente. Só que essa retomada não está acontecendo como a empresa queria”, comenta.

Apesar dos aumentos recorrentes nos últimos meses, Adriano acredita que essa nova regra é a mais acertada. No entanto, ele salienta que é necessário entender que o petróleo é uma commoditie e, por isso, está sujeito as variações. Ele pontua que o novo cenário exige mudança de comportamento desde as refinarias até o consumidor. “Isso vai obrigar todos da cadeia a ser mais eficientes. Se colocar o preço muito alto, cai o consumo. Então, não cabe só ao consumidor, mas à Petrobras, às distribuidoras e aos postos terem que se comportar de maneira diferente. Já o consumidor tem de entender que a gasolina é igual café, açúcar, sujeito a variação diária no preço”, afirma.

Para Bráulio Chaves, diretor do Sindicato de Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), a variação quase que diária tem exigido mais do setor. “Essa volatilidade grande trazida diariamente está sendo um desafio para os elos da cadeia produtiva”, diz.

Apesar disso, ele considera também que a nova política traz benefícios para o mercado e até mesmo para o consumidor a longo prazo, mas destaca que ela traz riscos. “Se acontecer uma grande variação, o impacto interno var ser muito grande e isso gera elevação da inflação”, comenta.

Motoristas reclamam

Os consumidores, porém, não estão nada satisfeitos com a nova regra. Para Amilton Araújo, de 29 anos, que trabalha como motorista, os novos preços não agradam. Ele gasta cerca de R$ 3 mil por mês com combustível, bem mais do que no início do ano, antes da mudança de estratégia da Petrobras. “Antes era melhor, porque a gente conseguia usar a gasolina e abastecer com o preço mais em conta, dava tempo de se planejar.

Agora, a gente mal tem tempo de usar a gasolina do tanque e nem sabe direito o preço, porque o todo o dia tem aumento”, afirma. Amilton reclama também da diferença na velocidade de repasse dos reajustes. “Quando é aumento, a transferência é na hora, mas, quando abaixam o preço, isso não ocorre”.

O taxista Rafael Carlos, de 30 anos, diz que aproveita seu deslocamento entre vários bairros da cidade para pesquisar os menores preços nos postos e tentar driblar os aumentos. Ele gasta cerca de R$ 400 por semana atualmente, e que esse valor era bem menor antes das mudanças na forma de precificar os combustíveis. “Preferia quando os reajustes eram mensais. A gente conseguia se programar melhor e dá pra aproveitar mais, já que os preços ficam mais fixos”.

O preço médio da gasolina cobrado nos postos de Belo Horizonte, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), é de R$ 3,93, segundo levantamento mais recente. No interior do estado os valores aumentam a pressão sobre o bolso dos motoristas. Segundo a pesquisa, o preço médio do litro da gasolina em Viçosa, na Zona da Mata, está em R$ 4,466. Das 30 cidades em Minas pesquisadas pela agência, o município é o que tem o combustível mais caro. Em seguida aparece Unaí, no Noroeste do estado, com o custo médio de R$ 4,452 nos postos de combustível.

(Estado de Minas – 03/12/17)

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