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Poluição custa 7,2% do PIB global por ano, diz estudo

05 de Dezembro de 2017

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O custo anual da poluição do ar chega a 7,2% do Produto Interno Bruto global, ou US$ 5,3 trilhões, em valores de 2015. O custo anual da contaminação química causada por mercúrio ou chumbo, entre outros, é de 0,4% do PIB mundial. O custo da baixa produtividade causada por doenças provocadas pela poluição oscila entre 1,3% a 1,9% do PIB de países de baixa renda.

Os dados fazem parte de um abrangente relatório sobre poluição, o "The Executive Director's Report: Towards a Pollution-Free Planet", elaborado por pesquisadores da ONU Ambiente (formalmente conhecida por Pnuma).

O estudo compila as evidências da atual literatura científica sobre o tema e usa diversas fontes, como relatórios da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Banco Mundial. Traz dados de todo o tipo sobre poluição do ar, solo, recursos hídricos, mares, química e provocada por lixo.

Diz, por exemplo, que a degradação ambiental causa uma a cada quatro mortes que acontecem no mundo. Sinaliza que os padrões de qualidade do ar recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) não são atingidos por 80% das cidades e que em 2050 os oceanos terão mais plásticos do que peixes, a continuar no ritmo atual de consumo.

"A ciência é clara", diz Ligia Noronha, diretora de Tecnologia, Indústria e Economia do Pnuma antes de enfileirar uma série de números assustadores: 600 mil crianças sofrem danos cerebrais anualmente em função dos efeitos tóxicos do chumbo nas tintas e 30 milhões de pessoas morrem por todos os tipos de poluição.

"Estes são números gigantes, continuam crescendo e têm que ser encarados", continua a pesquisadora indiana. "Todos têm direito a um ambiente limpo e isso não está acontecendo. Animais também têm este direito e não podem ser extintos pelo o que nós estamos fazendo."

O relatório indica que há cerca de 500 "zonas mortas" nos mares, regiões tão contaminadas que a quantidade de oxigênio é pequena demais para conter vida marinha. Diz também que 80% das águas residuais são lançadas no ambiente sem tratamento algum e 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidas todos os anos.

"Este não é um problema do mundo desenvolvido ou do mundo em desenvolvimento. É uma questão global", segue Ligia Noronha. "Tem a ver com práticas de produção e consumo."

O estudo aponta seis lacunas e desafios que estariam na base da persistência do problema. Uma é a falta de dados e informações sobre as fontes poluidoras. Outra é a dificuldade de recursos dos países, tanto tecnológicos como financeiros e regulatórios. O terceiro desafio está na infraestrutura necessária para controlar a poluição.

A liderança limitada da indústria e do setor financeiro é outro ponto frágil, destaca a pesquisadora. "Não damos valor aos ecossistemas e eles não entram nas decisões políticas", segue, apontando a quinta lacuna. Por fim, diz Ligia Noronha, "temos que ter escolhas de consumo mais claras. E reconhecer que elas têm consequências poluidoras".

"Olhando o quadro global, estamos todos fazendo um péssimo trabalho", diz Edgar Gutiérrez, ministro do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica e presidente da terceira edição da Unea. "Precisamos da ciência para nos ajudar a reduzir incertezas e convencer os gestores públicos. E que os negócios entendam que seguir fazendo como sempre fizeram é ruim. Têm que entender que devem garantir a qualidade de vida das pessoas e não apenas os lucros", continuou.

O estudo sugere a introdução de ação política onde os danos da poluição estão comprovados. Na poluição do ar, por exemplo, sugere a adoção dos padrões da OMS, como limites nacionais mínimos além de investimentos pesados em sistemas de monitoramento.

Aconselha, ainda, a redução das emissões dos carros em pelo menos 90% em cinco anos e a adoção de carros elétricos na frota até 2030. Transporte público eficiente e barato para cidades com mais de 500 mil habitantes em 13 anos é outra sugestão apontada no relatório.

No caso da poluição do solo, o conselho é evidente: a introdução de opções não químicas que funcionem como fertilizantes e agrotóxicos, entre outras medidas.

O estudo diz que é preciso parar a produção e o uso de plásticos não recicláveis e dos microplásticos presentes em cosméticos e produtos de higiene pessoal para evitar a poluição marinha.

Indica, ainda, que a economia circular, que promove o melhor uso de matérias-primas e estimula conceitos como redesenho, reúso, resgate, reciclagem e remanufatura, é um dos caminhos para reduzir a poluição.

"Temos que quebrar a economia linear e estimular a economia circular, que pressiona menos os recursos naturais", explica a pesquisadora Ligia Noronha.

"Os governos precisam tomar decisões sobre isso e o setor privado tem que ajudar", diz Erik Solheim, diretor executivo da ONU Meio Ambiente.

(Fonte: Valor Econômico – 05/12/17)

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