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Preço do petróleo cai para US$ 20 e atinge menor valor em 18 anos

31 de Março de 2020

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O preço do petróleo caiu abaixo dos US$ 20 nos Estados Unidos ontem, perto do menor patamar em 18 anos, com operadores apostando que a produção terá de ser interrompida com o colapso da demanda provocado pela pandemia do coronavírus.

A indústria petrolífera global enfrenta a maior queda na demanda de sua história, com operadores e analistas prevendo que o consumo de petróleo poderá cair até 25% no mês que vem por causa dos grandes confinamentos que estão sendo feitos no mundo ocidental em razão da propagação da pandemia.

O petróleo referência dos EUA, o West Texas Intermediate (WTI), atingiu a marca de US$ 19,85 o barril ontem, uma queda de mais de 7%, mas posteriormente recuperou-se um pouco e sendo negociado acima dos US$ 20 na parte da tarde na Europa. O WTI fechou o dia cotado a US$ 20,09, queda de 6,6%. O primeiro contrato do petróleo do tipo Brent, a referência internacional, caiu quase 13% para US$ 21,76 o barril, o menor preço desde 2002. No fim do pregão fechou com queda de 8,7%, a US$ 22,76. O segundo contrato, para junho, terminou em US$ 26,42.

Os preços do petróleo caíram perto de 50% somente no último mês, depois que as quarentenas decretadas na Europa e América do Norte cortaram a demanda pela commodity. Ao mesmo tempo em que a demanda colapsou, a oferta de petróleo também aumentou rapidamente por causa da guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia. Ontem, a Arábia Saudita disse que pretende aumentar as exportações ainda mais, mesmo com a queda do consumo doméstico durante a pandemia.

Operadores agora acreditam que o excedente poderá se aproximar de 25 milhões de barris por dia no mês que vem, nível que poderá sobrecarregar a capacidade de armazenagem mundial dentro de semanas.

“Este é um colapso histórico dos preços e ele ainda não acabou, na medida em que o sistema fica sem espaços físicos para colocar todo esse petróleo”, afirma Jason Bordoff, um ex-assessor de energia do governo Obama e fundador do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “O problema para o xisto será grave. Veremos uma aceleração da interrupção da produção.”

Os preços deverão continuar pressionados enquanto o mercado não se ajustar. Os produtores provavelmente serão forçados a paralisar a produção numa escala jamais vista na moderna indústria do petróleo. Ontem, o WTI negociado abaixo dos US$ 20 o barril, foi a primeira vez que isso aconteceu desde 2002 em condições de negócios normais.

Produtores de custos mais altos, como os de xisto nos Estados Unidos e os de areias betuminosas no Canadá, não são lucrativos com os preços nesses níveis, embora as empresas acreditem que outros produtores interromperão primeiro a produção.

A velocidade e tamanho da queda dos preços, que levaram o petróleo para os patamares em que ele caiu durante o último crash, em 2014-16 e durante a crise financeira, poderão forçar um rápido ajuste de contas no setor. Na semana passada, os produtores de energia dos EUA já fizeram o maior corte no número de plataformas de perfuração em operação em cinco anos, segundo dados da Baker Hughes.

Analistas calculam que a indústria do petróleo dos Estados Unidos, que cresceu na última década a ponto de tornar a América o maior produto mundial de petróleo, poderá encolher até 2,5 milhões de barris por dia até o fim do ano que vem, em relação à produção atual de 13 milhões de barris/dia.

Outros pontos de produção considera mais cara, como o Mar do Norte e os pequenos campos da Ásia, também sofrerão o aperto. As maiores companhias de petróleo do mundo já anunciaram reduções nos investimentos ou estão estudando planos de redução das aplicações.

Mathios Rigas, presidente executivo da produtora de gás Energean, disse que as empresas mais fracas terão problemas, como muitas podendo quebrar. “Veremos muitas paralisações e adiamentos em decisões de investimentos”, acrescentou Rigas. “Estamos num mundo diferente mas haverá sobreviventes”, afirmou o especialista, acrescentando que algumas empresas verão oportunidades para investir enquanto outras recuarão.

Os Estados Unidos pressionaram a Arábia Saudita para que ela recue na decisão de aumentar a oferta, mas isso teve pouco impacto. A Arábia Saudita iniciou uma guerra de preços neste mês, depois de um choque com a Rússia sobre como responder ao golpe à demanda causado pelo coronavírus. Mas cada vez mais é a queda na demanda que está preocupando a indústria do petróleo, com aviões em solo, sem poder voar, trabalhadores deixando seus carros parados para trabalhar de casa e fábricas interrompendo suas atividades.

Bjornar Tonhaugen, diretor de Mercados de Petróleo da consultoria Rystad Energy, disse que a queda da demanda mundial foi o fato principal por trás da queda dos preços do petróleo, ofuscando o efeito da guerra de preços que vem sendo travada entre a Arábia Saudita e a Rússia.

Fonte: Valor Econômico - 31/03

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