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Pressão de produtores brasileiros de etanol de milho pesou para país não renovar cota voltada aos EUA

01 de Setembro de 2020

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A pressão dos produtores de etanol de milho do Brasil foi determinante para convencer o governo a não renovar a cota de importação do combustível americano sem taxação. A indústria, ainda em fase de estruturação, cobra mais apoio e diz que seria uma “incoerência comercial e ambiental" conceder livre mercado para a produção subsidiada e mais poluente dos Estados Unidos. A oferta de uma contrapartida para facilitar a exportação de açúcar brasileiro em troca também não agrada a essa ala do setor produtivo.

“Não é justo o nosso governo ter uma política para uso do etanol, com obrigatoriedade de adição na gasolina, e o produtor de etanol americano vir gozar do programa ambiental brasileiro com milho subsidiado”, disse ao Valor Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). “Seria uma incoerência renovar a cota. Não é protecionismo. Podemos fazer livre comércio desde que lá exista uma política de obrigatoriedade de uso do etanol na gasolina”, completou.

O segmento também é contrário à contrapartida oferecida pelo Brasil para renovar a cota para o etanol dos EUA, que é negociar mais espaço para o açúcar nacional naquele mercado. “Trocar etanol americano por açúcar é uma combinação nada doce para o etanol de milho brasileiro”, disse Nolasco, que apresentou a preocupação à ministra Tereza Cristina.

O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, lembra que o etanol americano é produzido à base de gás natural, mais poluente que a biomassa usada no Brasil. A avaliação é que os americanos se aproveitam da política ambiental brasileira. “Mais uma vez o americano quer se aproveitar. A máxima deles é programa ambiental no Brasil e produção de etanol lá, tomando espaço das nossas usinas”, afirmou.

Quem produz etanol a partir da cana-de-açúcar reforça a cobrança para que os EUA estabeleçam adição obrigatória de etanol na gasolina, mas reconhece a força do lobby do petróleo lno país, principalmente junto a Donald Trump. “Essa seria a solução definitiva. Hoje eles têm 10% de mistura. Se aumentassem em 1 ponto percentual, já seria suficiente para enxugar todos os excedentes que os EUA têm de etanol hoje”, avalia uma fonte de mercado.

O Brasil tem hoje 16 usinas de etanol de milho em operação e outras duas em fase final de instalação. A maior parte da produção está concentrada em Goiás e Mato Grosso. Os produtores do Centro-Oeste enxergam grande oportunidade em atender às regiões Norte e Nordeste do país com o biocombustível, principalmente em função de melhorias de infraestrutura e logística, como novas ferrovias. É por essas regiões, no entanto, que chega o etanol americano, o que poderia limitar a expansão da indústria nacional.

De janeiro a julho de 2020, o Brasil produziu 1,3 bilhão de litros de etanol de milho, 93% a mais que no mesmo período do ano passado.

Mesmo com a sinalização de que o pleito americano não será atendido agora, o segmento se mantém alerta. A avaliação é que a pressão vai aumentar, e a proximidade de Bolsonaro com Trump ainda não permite o alívio completo dos produtores brasileiros. “A questão política traz uma certa insegurança. Não é algo estável e definitivo”, afirma Guilherme Nolasco, da Unem.

Além de negociar outros itens na pauta comercial com os EUA, a não renovação da cota dá tempo para discutir apoio interno ao setor e políticas de consumo. “Um conjunto de fatores pode entrar na negociação com os EUA, desde o açúcar, até a taxação da importação. E vai também na linha de investimentos em infraestrutura, conectividade, logística, cabotagem, que são importantes como estratégia e competitividade para o agronegócio nacional”, disse ao Valor Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

 

Fonte:  Valor Econômico – 31/08

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