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Pressão sobre preço de combustíveis preocupa o agronegócio

29 de Abril de 2019

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Entre as principais preocupações do agronegócio estão as cotações do petróleo, as oscilações da taxa de câmbio e o consequente impacto das duas variáveis sobre o preço do diesel, um dos principais custos operacionais num momento em que o setor atravessa o período de colheita. A alta do custo pode chegar a 5%, caso o diesel suba mais de 10% em 60 dias.

Neste ano, o petróleo tem batido recordes com a decisão do governo dos Estados Unidos de impor sanções econômicas sobre o Irã, um dos maiores produtores mundiais. Já as incertezas sobre o desempenho econômico do Brasil e a tramitação acidentada da reforma da Previdência pressionam o câmbio. "Em doze meses até maio, a inflação já ronda 5% e os combustíveis são um dos ingredientes explosivos. Podemos ter outras altas com o petróleo e o dólar nesse patamar nos próximos 60 dias", afirma Fabio Silveira, sócio diretor da MacroSector Consultores.

A Petrobras tem mantido sua liberdade de política de preços em um momento em que se prepara para vender participação na área de refino. Isso tem criado pressão sobre outra questão que impacta o preço dos combustíveis: tributos. "O jeito para reduzir essa pressão, que pode significar alta de mais de 10% em 60 dias, é reduzir impostos. Isso foi feito em 2017 quando o governo zerou a Cide", diz Silveira.

Na gasolina, 45% da cotação são impostos, sendo que no diesel esse percentual é de 24% (15% de ICMS e 9% entre Cide, PIS e Cofins). "O mercado internacional está pressionado e deve se manter assim no curto prazo", destaca o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.

Isso cria pressão sobre o agronegócio. Levantamento do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog), divulgado ano passado, mostra que, entre Sorriso, em Mato Grosso, e o terminal hidroviário de Itaituba, no Pará, o custo dos transportadores subiu 6% entre 2017 e 2018 por causa da alta de 13% do combustível. Já na rota de exportação de açúcar de Ribeirão Preto (SP) para Santos (SP) houve alta de 5,7%. Se o caminhoneiro é autônomo, o que para as cargas do agronegócio é uma realidade em 70% dos casos, foi ele mesmo que absorveu o aumento e, na maioria dos casos, não conseguiu repassá-lo.

O custo do combustível para o transportador de longa distância chega a quase a 40% do total. De acordo com o EsalqLog, o custo estimado da logística do agronegócio em 2017 foi de R$ 120 bilhões, sendo que R$ 105 bilhões foram gastos com a atividade de transporte e R$ 15 bilhões com a atividade de armazenagem e estoque. Para uma distância de mil quilômetros, por exemplo, a parcela do custo de combustível representa por volta de 38,4% no custo total para um veículo típico de transporte de grãos.

A pressão sobre os preços dos combustíveis, com os contratos futuros de petróleo negociados em abril no patamar mais alto do ano, tem deixado o agronegócio apreensivo diante do impacto sobre o frete e a possibilidade de nova greve dos caminhoneiros. Dois grandes escritórios de advocacia já estão com suas equipes de contencioso em estado de alerta caso haja uma nova greve.

Há outra incerteza que paira sobre o frete. Em 2017, após a paralisação dos caminhoneiros, estabeleceu-se uma tabela de frete mínimo - se o preço do diesel sobe ou cai 10% é repassado para essa tabela. A metodologia, no entanto, é criticada e deverá ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "A expectativa é de que o julgamento saia até o início do segundo semestre", afirma um advogado que acompanha a questão.

Em setembro de 2018, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) protocolou no STF uma medida cautelar pedindo a suspensão da tabela do frete e a análise de todas as ações que questionam o tabelamento na Suprema Corte. "O cenário que já era caótico com a instituição de uma política de tabelamento obrigatório de preços mínimos do frete rodoviário, transformou-se agora em uma loteria de inseguranças", diz a CNA na petição.

Valor Econômico - 29/04/2019

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