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Produtores de açúcar de oito países querem acionar Índia na OMC

02 de Outubro de 2018

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Organizações de produtores de açúcar de oito países que respondem por 85% das exportações globais da commodity, incluindo o Brasil, querem que seus respectivos governos abram um contencioso contra a Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Na semana passada, Nova Déli aprovou mais um pacote de subsídios ao segmento, que soma US$ 760 milhões e prevê apoio à exportação de 5 milhões de toneladas num momento em que o mercado global já está saturado.

A pressão acontece por meio da Aliança Global do Açúcar, que reúne associações de produtores da commodity de Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Guatemala, África do Sul e Tailândia. Na sexta-feira, o grupo divulgou uma circular em que insta os governos a “se unirem e apresentarem uma queixa urgente contra a Índia na OMC”.

No Brasil, a indústria planeja para depois das eleições uma reunião com os ministros da Agricultura, Blairo Maggi, e das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, para avaliar a melhor estratégia a respeito da Índia, afirmou André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, ao Valor. Segundo ele, já há conversas nesse sentido com técnicos do governo.

No comunicado da aliança global, o diretor-executivo da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão, afirmou que “a indústria brasileira não vê essas medidas [da Índia] como uma opção e temos encorajado nosso governo a desafiá-los em um mecanismo de estabelecimento de disputa na OMC”.

A pressão já vinha sendo articulada por produtores brasileiros e da Austrália, também um país fortemente afetado pelo subsídios indianos. Após Nova Déli anunciar o novo pacote, os preços internacionais do açúcar, que já haviam caído 36% em um ano, recuaram ao menor patamar em dez anos. Segundo a aliança de produtores, os preços atuais não refletem mais o custo de produção mesmo nas nações mais eficientes. Para os exportadores da Ásia, a pressão é ainda maior por causa da concorrência direta com as exportações indianas na própria região.

O Brasil, entretanto, acaba de decidir ingressar na OMC com a abertura de consultas contra a China por causa de barreiras à importação de açúcar, o que seria a última disputa comercial do governo de Michel Temer.

Segundo Rocha, por causa disso o segmento e o governo avaliarão se vale a pena bancar uma nova iniciativa na OMC também envolvendo o mercado de açúcar. Mas ele reconhece que os subsídios indianos prejudicam muito mais a indústria brasileira do que as tarifas chinesas à importação, já que interferem no balanço de oferta e demanda global da commodity.

Desde o início do ano até setembro, as exportações brasileiras de açúcar de cana bruto renderam 51% menos do que no mesmo período do ano passado. Totalizaram US$ 3,4 bilhões, ante quase US$ 7 bilhões nos nove primeiros meses de 2017. As exportações para a China caíram na mesma proporção e representaram somente 2% dos embarques brasileiros no período.

Parte significativa da diminuição da receita com as exportações brasileiras de açúcar veio da redução da oferta. Diante da desvalorização do produto, as usinas do país passaram a maximizar a fabricação de etanol, reduzindo consequentemente a produção de açúcar. Mas não são todas as usinas no mundo que têm a opção de recorrer ao mercado do biocombustível.

“Se o subsídio não for repelido, terríveis consequências sociais e econômicas serão sentidas pelos países produtores de açúcar ao redor do mundo”, afirmou o australiano Greg Beashel, chairman da Aliança Global do Açúcar, em nota.

Valor Econômico - 01/10/18

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